06/07/2010

INÊS TEOTÓNIO PEREIRA




O tempo

Perguntam-me se tenho tempo para os meus filhos. É recorrente. É uma pergunta que vai e vem. Mas nunca percebi a dúvida: tempo para quê? Para brincar, para conversar, para ver televisão? Não sei. Quando a próxima pessoa que me perguntar sobre o tempo vou tentar perceber. "Desculpe, mas tempo para quê?" É que eu não tenho tempo para nada. Nunca tive. Não sei ter tempo. Estou sempre a perdê- -lo, constantemente atrasada. Mesmo quando não tenho nada que fazer, aproveito o tempo livre para fazer uma coisa qualquer e o tempo nunca chega. Por isso não sei se tenho tempo para os meus filhos ou não. Como nunca fiz um horário, não tenho dados para quantificar. Sei que há dias em que estou mais tempo com eles, outros menos; às vezes é em exclusivo, outras vezes é uma confusão. Depende. A questão pertinente - e aqui vai uma dica para quem se interessa pelo tema - é: "Olhe, desculpe, aproveita o tempo que está com os seus filhos, ou está sempre aos gritos, a fazer coisas parvas e não os deixa falar? E eles, conversam consigo, ou ficam pregados à televisão e às consolas?" A minha teoria sobre a problemática do tempo é que qualquer viagem de carro de casa para a escola, uma conversa antes de adormecerem, um telefonema para casa com as perguntas certas, valem ouro. As crianças, os filhos, precisam é de sentir a importância que têm. E para lhes mostrar isso a quantidade de tempo tem uma importância relativa. O que sei é que desde que tenho filhos deixei de ter tempo para ler: adormeço sempre.

in "i" 03/07/10

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