09/07/2010

FILOMENA MARTINS

Filomena Martins
a semana por...

Passos Coelho, o PSD e o futuro

Segunda-feira

Em 2005, num artigo na revista Sábado, escrevi que Passos Coelho, saído de baixo do jugo de Marques Mendes, se andava a preparar meticulosamente para um dia ser presidente do PSD. Uma preparação que passava por visitas amiúde e os jantares da praxe com as distritais e as bases. Valeu-me um desmentido categórico e a certeza de que o elogio confundido com crítica tocara no ponto: estava na forja um novo e ambicioso líder de um dos dois partidos do arco do poder. Cinco anos depois, os portugueses vêem em Passos uma alternativa válida e credível para primeiro-ministro, como as últimas sondagens deixam claro. É óbvio que há uma saturação visível da actual governação socrática, mas a caminhada de Passos deu-lhe a preparação e a credibilidade que os eleitores nunca viram em Ferreira Leite. Só que há muito mais a clarificar para que Passos Coelho não se torne apenas na versão ligeiramente mais à direita de José Sócrates. Neste reposicionamento do PSD que a actual direcção está a fazer, não basta a coligação anunciada com o CDS-PP para que o País reconheça que finalmente há um grande partido de direita em Portugal. É preciso ter coragem para não temer decisões impopulares e com consequências eleitorais. É preciso deixar o cálculo político e mostrar sentido de Estado. É preciso dizer, de uma vez por todas e sem receios e recuos, o que o PSD quer mesmo escrito na Constituição em relação à liberalização dos despedimentos e aos sistemas, agora tendencialmente gratuitos, da saúde e da educação. Essas, sim, são mudanças estruturais. As outras são decisões avulsas, de ciclo eleitoral, a que os portugueses estão mais que habituados. E fartos.

Terça-feira

Selecção, Queiroz e o Mundial

Portugal saiu do Mundial de futebol cumprindo os objectivos desportivos mínimos. Mas deixando também a nu todas as suas fragilidades. É uma equipa cujo futebol não encanta, que nunca arrisca, que não consegue potenciar o seu principal e mais criativo jogador, que dificilmente pode voltar a sonhar com um título europeu que esteve tão próximo em 2004, quanto mais com um mundial quando, seis anos depois, a equipa é bem pior. Há responsabilidade de alguns jogadores, uns por falta de dimensão, que nunca tiveram, outros por falta de pernas, que já perderam, outros vítimas de opções erradas ou de pura imaturidade. Mas o seu maior problema é a falta de liderança. Carlos Queiroz até pode ser um bom director técnico, um número dois, papel que teve em Manchester. Mas não é um bom treinador de banco (alguma vez foi?), não é um líder. Errou nas escolhas iniciais, errou nas estra-tégias, errou nas opções de jogo, errou nas palavras, nos recados e ao não assumir sozinho a culpa. É um erro. Cujas possibilidades de emenda nos próximos dois anos representam um buraco financeiro para a FPF. E que podem custar ainda o divórcio do País em relação à selecção.

Quarta-feira

Sócrates, a PT e Ricardo Salgado

O País assistiu na quarta-feira a uma ruptura estrutural no relacionamento entre a banca e o actual Governo. Foi esse o dado politicamente mais relevante do uso da golden share para travar o negócio Telefónica/PT/Vivo. O negócio, esse, está apenas suspenso e far-se-á, mais dia, menos dia, seja por decisão da Comissão Europeia, por diálogo de conveniência entre os dois governos socialistas ibéricos ou simplesmente porque a vontade dos accionistas, que tão expressivamente votaram, terá de ser respeitada por uma qualquer via, legal ou estatutária. Mas José Sócrates, não restem dúvidas, perdeu o seu maior aliado político-económico: Ricardo Salgado, que, não inocentemente, nos bastidores também é tratado por "primeiro-ministro". Ver o presidente do BES, que tinha estado ao lado das grandes decisões de Sócrates (até no investimento em obras públicas quando o dinheiro já escasseava), dispensar comunicados e assumir de viva voz as críticas à interferência estatal num negócio privado que desrespeitou uma decisão de quem nele arriscou investir o capital, foi elucidativo. Além de ter confirmado a falta de liquidez de que os nossos banqueiros se tinham ido queixar a Belém depois de o BCE lhes limitar o acesso ao crédito (já agora refira-se que os 7,15 mil milhões pela Vivo chegam para toda a nossa banca - toda -, ter volume de tesouraria para um ano), revela definitivamente o virar de costas ao actual rumo da governação. O banco sem o apoio do qual nenhum Governo sobreviveu, já não defende este comando para o País. E parece não estar disposto a que a situação se arraste por mais nove longos meses.

in "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
03/07/10

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