13/07/2010

DAVID DINIZ

DAVID DINIS

"Pai Nosso que estais no Céu"

Daniel Proença de Carvalho deixou, esta semana, uma pedrada no charco: Cavaco Silva, o Presidente que apoiou, podia e devia ter feito mais pela promoção de entendimentos que fizessem o País sair do triste rumo em que se encontra. E, se nada consegue fazer, mais valeria convocar eleições - para que a situação se resolva. O prestigiado advogado que me desculpe, mas não creio que tenha razão.

Ponto a ponto, eis porquê. Primeiro: Cavaco Silva fez muito pela promoção de consensos partidários em Portugal. Sobretudo até ao célebre Estatuto dos Açores, conseguindo no recato de Belém empurrar um Governo de maioria absoluta para um improvável diálogo. Alguns tiveram sucesso efectivo, como o já esquecido aeroporto da Ota; outros nem tanto, como o Pacto da Justiça (mas esse efeito dificilmente lhe poderá ser cobrado). Mesmo no pós-Açores, manteve esse esforço, empurrando PSD e CDS para a negociação do Orçamento deste ano e o PSD para a viabilização do PEC. Dir-se-á que é pouco, mas não é verdade: é, antes, discreto.

Segunda questão é, porém, mais sensível: estando o País num impasse total, deveria Cavaco convocar eleições? A resposta deve procurar-se noutra pergunta: legislativas antecipadas resultariam em quê? Sugestão de resposta: nada de novo.

Há uns meses, o ex-presidente da República Jorge Sampaio justificou a sua histórica decisão de dissolver a Assembleia (ao tempo de Santana Lopes) com o sentimento popular que era, à altura, absolutamente contrário à governação de então. E disse mais: que se as eleições resultassem na reeleição de Santana Lopes teria de tirar as consequências políticas dessa decisão (ou seja, demitir-se). A esta (estranhamente) honesta explicação chamar-se-ia real politik. O presidente é eleito por todos os portugueses, pelo que terá de decidir conforme o que eles pensam, sentem, querem para o País.

E o que querem, hoje, os portugueses? A avaliar pelas sondagens, que seguramente são lidas ao milímetro em Belém, nada que mude o que é substancial. Sócrates resiste, Passos faz caminho, mas o cenário de estabilidade política é, ainda, um simples sonho de uma noite de Verão.

Dito isto, Proença de Carvalho terá mesmo de esperar. Neste caso, não basta que alguma coisa mude (mesmo que isso seja o primeiro-ministro) para que fique tudo na mesma. Não. O País precisa que tudo mude, mas para tal não basta um novo governo. Nem tão-pouco um novo presidente. O que precisamos é de paciência. E de rezar para que o mundo não nos caia em cima da cabeça.


in "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
09/06/10

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