04/06/2010

JOANA AMORIM



Em estado de Alierta

A Telefónica está para a Portugal Telecom (PT) como, há pouco menos de quatro anos, a Sonaecom estava para a PT. Só que antes o anão desafiou o gigante. Hoje, o jogo faz-se ao contrário. Com traição à mistura.

Naquela que deveria ser uma saudável relação entre accionistas, não pode a PT ter um putativo parceiro estratégico que vai para os jornais ameaçar com uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) hostil. Nem que vai "secar" os dividendos da famigerada Vivo. Num ponto Berardo tem razão: "Não se pode ter o inimigo dentro de casa".

E o Brasil está para a PT como o pão para a boca. Pode a PT perder a operadora Vivo? Pode, mas não sem antes salvaguardar a sua entrada num outro operador brasileiro. Não estar no Brasil é fatal para a operadora de telecomunicações portuguesa. É ficar reduzida ao saturado mercado nacional. Como o é para a espanhola Telefónica. Daí a disputa.

Mas aquilo que poderia ser uma negociação de "gentlemen" transformou-se num ataque cerrado, com ameaças e chantagens à mistura. Porque as OPA não se anunciam, fazem-se.

Contam-se, portanto, as espingardas. Que é como quem diz, contam-se os votos necessários para travar a desblindagem de estatutos, obrigatória para que a OPA avance. Peões e bispos movem-se cautelosamente no tabuleiro de xadrez. Constroem matematicamente uma minoria de bloqueio, não vá a Telefónica concretizar a ameaça. Enquanto as rainhas - neste caso, os reis Henrique Granadeiro e César Alierta - acompanham à distância.

E é preciso, de facto, deixar a PT trabalhar. Ao acenar com a "golden share" do Estado na PT, Sócrates deu um tiro no pé. Se politicamente passou o recado - ainda por cima em terras brasileiras, o cenário ideal para aquela declaração -, economicamente desvalorizou o potencial de resposta da empresa. A acção dourada deverá ser sempre o último recurso. E já deu para perceber que Bruxelas jamais o permitirá. E aí Belmiro terá mesmo razão, quando diz que "a golden share existe para não ser usada".

Como disse, e bem, Teixeira dos Santos, não importa a titularidade da empresa, mas que ela continue a operar em Portugal. Caso contrário, lá vêm os espanhóis acusar-nos de proteccionismo. E logo quem...

P. S. Um administrador da Telefónica ameaçou lançar um OPA hostil e o presidente do BESI já admite uma contra-OPA. Onde anda o nosso regulador, que dá pelo nome de CMVM?

in "JORNAL DE NOTÍCIAS"
29/05/10

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