26/05/2010

COSTA GUIMARÃES


Coelho de Sócrates merece explicações

O Conselho de Ministros das Finanças da União Europeia concedeu o benefício da dúvida ao drástico corte do gasto público em Portugal, até à decisão definitiva sobre os Planos apresentados por diversos países com défices bem maiores que o de Portugal, como Irlanda, Espanha, Itália e Grécia.

Enquanto Durão Barroso se parece ter eclipsado, durante este quinze dias, aparecem José Sócrates e Passos Coelho a dizer 'mata' os que já contribuem enquanto os banqueiros que realizam lucros obscenos de um milhão de euros por dia a dizer que aquela parelha devia 'esfolar' a população activa lusitana.

O dolorosos cortes de Espanha e Portugal são a nossa contribuição para a estabilidade do Euro e a portagem que nos dá acesso, se for necessário, ao mecanismo de resgate ou compra da dívida nacional.

O Euro tem de desvalorizar para favorecer a recuperação europeia, mas não podemos admitir que aconteçam 'poços de ar' que façam cair um Euro em níveis que coloquem em causa os grandes fundos comunitários.

É para salvar estes grandes fundos — alimentados por franceses e alemães — que se coloca o garrote a diversos países europeus do Sul, mesmo que alguns o definam como estranha xenofobia entre Norte e Sul, liderada pela Alemanha que só não foi pior porque Sarkozy foi fiel à latinidade do Sul.

Estamos agora a contemplar um aluvião de lamentações dos sindicatos ou propostas ridículas da direita para a poupança pública (sem nunca dizerem onde e em que sectores se corta) quando o bom senso devia aceitar que o plano de ajustamento do Governo (com o patriótico e inteligente apoio do PSD) é a condição sine qua non (mínima) para eliminar os riscos de falência do país e recuperar a confiança dos activos portugueses.

A verdade amarga é que nesta crise financeira, a economia portuguesa perdeu cerca de três por cento da sua capacidade de gerar riqueza. Se olharmos para o lado — quantas vezes dizemos que o pão do vizinho é que é bom! — a economia espanhola perdeu cerca de 12 por cento e os rendimentos têm de ajustar-se a esta proporção.

Numa situação de emergência, os partidos políticos, os governos das autarquias devem apoiar e participar neste esforço de austeridade mas existem ainda muitas reticências em colaborar com este esforço que os trabalhadores estão condenados a fazer, a partir de 1 de Junho.

Se querem ganhar votos com as dificuldades do Governo socialista e do PSD, os partidos à direita e è esquerda estão condenados a ser poder num país inexistente.
A incapacidade do CDS/PP e do PCP e BE para entenderem o alcance desta crise constitui o principal obstáculo à recuperação das finanças públicas e início da sua recuperação

Já todos percebemos — a começar por Pedro Passos Coelho e Cavaco Silva — que este não é o défice de Sócrates e os portugueses não vão aceitar este sacudir a água do capote.

Last but not the least, é urgente que José Sócrates (e porque não Passos Coelho?) expliquem tim-tim-por-tim-tim porque é que 'o mundo mudou nestes últimos quinze dias' e justifiquem as medidas tomadas. Os portugueses merecem saber por que lhes estão a ir ao bolso... ou como é que Sócrates tirou este Coelho da cartola (símbolo dos ricos) para nos dizer que estamos falidos.


in"CORREIO DO MINHO"
22/05/10

Sem comentários:

Enviar um comentário