06/04/2010

RAFAEL BARBOSA



A penitência

1. A Igreja Católica e a sua hierarquia estão debaixo de fogo. Nada de surpreendente, quando se vai conhecendo, a uma velocidade alucinante, a quantidade de segredos sórdidos que foram varrendo, durante anos, para debaixo do tapete das suas sacristias. Também não surpreende a reacção dúbia dos seus máximos responsáveis, incluindo o Papa Bento XVI. Por um lado, a hierarquia Católica admite os pecados cometidos pelos seus padres, por outro lamenta os ataques que caem sobre a Igreja Católica.

Estavam à espera de quê? Que depois da confissão a coisa se resolvesse com uma penitência de meia dúzia de padres-nossos e ave-marias, ou, vá lá, com um voltinha de joelhos à capela de S. Bento da Porta Aberta? Pode ser assim que se limpam os pecados no templo, mas não pode ser assim no mundo real. Quem cometeu crimes tão terríveis (convém lembrar que estamos a falar de abusos sexuais a crianças) tem de pagar por eles. E os que encobriram os criminosos não merecem outra coisa senão o enxovalho público. Ninguém está a salvo da crítica, nem Deus. E se confundem essa censura com ataques à Igreja Católica e, pior do que isso - como se fez na igreja de S. Pedro, em Roma -, se comparam a hostilidade actual ao anti-semitismo que conduziu ao extermínio dos judeus, então só podemos concluir que aos poucos padres que perderam a vergonha molestando crianças se juntam agora muitos outros que perderam o tino.

2. Já não nos apanham desprevenidos debaixo de água. A Marinha Portuguesa vai receber, já no próximo mês, um submarino alemão. E até ao final do ano chegará o irmão do "Tridente". Como o que é bom, custa dinheiro, serão cerca de 900 milhões de euros pelos dois navios de guerra.

Para o que servem, não é claro. Não têm velocidade para perseguir lanchas rápidas de narcotraficantes galegos, nem são em número suficiente para vigiar redes de arrasto dos novos piratas dos mares. Serão úteis, portanto, em caso de guerra. Embora não se vislumbre adversário.

Mas se não nos apanham desprevenidos debaixo de água, não se pode dizer o mesmo do que tem vindo à tona. Um negócio secreto ameaça transformar-se num negócio sujo. Os alemães desenterram suspeitas de corrupção e avançam que foram usados muitos milhões para amaciar membros do Governo, funcionários de ministérios e oficiais da Marinha.

Entretanto ficámos ainda a saber, através das investigações internas, que o nosso Governo (Durão/Portas) aceitou pagar 100 milhões a mais, a troco de contrapartidas, ou seja, oportunidades de negócio, superiores a mil milhões. O problema é que as ditas contrapartidas, que justificaram pagar os submarinos mais caros, estão por concretizar. E na verdade também ninguém sabe muito bem quais são nem o que ganha o país com elas. Mais um negócio desastroso em que o país se vai afundando.

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