28/04/2010

LEONÍDIO PAULO FERREIRA

LEONÍDIO PAULO FERREIRA

Assim se vê a força do TGV

Imagine-se sentado no Maglev, o comboio chinês que anda a 500 km/h. Quando terminar de ler esta crónica terá já viajado 13 quilómetros. Uma velocidade mágica, só possível porque a locomotiva e as carruagens levitam sobre os carris. Mas, com passageiros a bordo, os comboios de alta velocidade costumam respeitar o máximo de 300 km/h. E se um dia tivermos finalmente um TGV a ligar Lisboa a Madrid seria excelente a média de 250 km/h. Dava para avançar seis quilómetros enquanto lia este artigo sobre como o mundo se está a render ao fenómeno da alta velocidade sobre carris. Com os projectos em curso, em Marrocos como na Rússia ou na Coreia, a rede global passará de 11 mil quilómetros para 42 mil. O que dá que pensar, sobretudo se um dia destes viajarmos no Lusitânia, que todas as noites liga as capitais ibéricas a um ritmo em que, após lidos estes 2600 caracteres, só se andou dois quilómetros.

A alta velocidade é cara. Um quilómetro de via custa 12 a 30 milhões de euros. E ainda 70 mil euros de custos anuais de manutenção. Um comboio vale 25 milhões, mais um milhão de euros por ano para se manter em forma. As contas são do El Mundo, que tem obrigação de saber do que fala, afinal há 18 anos que a Espanha se rendeu à alta velocidade, com a pioneira ligação Madrid-Sevilha a bater por grande margem o avião, o que mostra que, mesmo na época das low-cost, a centralidade das estações e a ausência de check-in tornam o comboio competitivo. Um dia falou-se de cem euros para o bilhete de TGV Lisboa-Madrid como se tal fosse sinónimo de falhanço anunciado na luta contra o avião e o carro. Nada mais errado. Há muitas maneiras de fazer os cálculos, e nem só os euros contam. Há quem dê valor ao tempo, outros ao conforto, já para não falar dos que não gostam de voar ou dos que se assustam só de pensar em conduzir seis horas para depois ainda pagarem o estacionamento a preço milionário.

Os sauditas vão ligar por TGV Meca e Medina, os russos Moscovo e Sampetersburgo, os brasileiros Rio de Janeiro e São Paulo. Uma febre pela alta velocidade parece ter--se apoderado do mundo. Até nos Estados Unidos, onde o avião é rei e o carro imperador, está projectada a linha Los Angeles-Sacramento, relembrando esses tempos em que o comboio ajudou à conquista do Oeste. Mas nada disto é recente. Os japoneses foram os pioneiros, quando em 1964 lançaram o comboio-bala, que não pegou, porém, como sinónimo de alta velocidade. Em Portugal, ainda meio francófilo, até fomos bem rápidos a apoderarmo-nos da sigla TGV, de train à grande vitesse. Funcionamos é ainda a vapor quando se trata de decidir quando vamos ter o nosso.

"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
26/04/10

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