30/04/2010

CAMILO LOURENÇO

O PROBLEMA É A DÍVIDA DO ESTADO


Pedro Guerreiro dizia na 6ª feira que "grande parte do problema (português) não está no Estado, mas nos privados. Ao contrário da Grécia". Será mesmo assim? É verdade que a dívida privada está a níveis proibitivos. Aliás, viu-se quando as taxas Euribor encostaram nos 5,25%: dezenas de milhar de famílias...
Pedro Guerreiro dizia na 6ª feira que "grande parte do problema (português) não está no Estado, mas nos privados. Ao contrário da Grécia". Será mesmo assim? É verdade que a dívida privada está a níveis proibitivos. Aliás, viu-se quando as taxas Euribor encostaram nos 5,25%: dezenas de milhar de famílias, até aí solventes, começaram a falhar compromissos com a banca. Com as empresas passou-se algo parecido. Mas os problemas da dívida privada são "peanuts" ao pé dos da dívida do Estado. Porquê? Porque empresas e famílias têm mostrado, nos últimos 36 anos, que quando é preciso aplicam o garrote e… ajustam a despesa. Foi assim nos dois acordos com o FMI (em 1978 e 1983) e foi assim na recessão de 93-94. Já o Estado é insensível às recessões. Pelo contrário, gasta cada vez mais. Os números dizem tudo: o Estado pesava, no início dos anos 80, menos de 30% do PIB; agora pesa quase 50%. Ora é esta tendência irreversível para a engorda (onde o Estado se mete não mais de lá sai) que faz da dívida do Estado o maior problema da economia. É a sua incapacidade para reduzir a despesa (a dívida pública cresce porque os défices são cada vez mais elevados) que está a agravar outro problema estrutural da nossa economia: a perda de competitividade, expressa em défices sistemáticos da balança de pagamentos. Ou seja, é o excesso de dinheiro que o Estado mete na economia, com recurso a dívida, que acentua o fosso entre o que importamos e o que exportamos. Se o problema português fosse a dívida privada, podíamos dormir descansados. Porque as famílias ajustam-se. Já o Estado…
"JORNAL DE NEGÓCIOS" 26/04/10

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