17/03/2010

PEDRO SANTOS GUERREIRO







O PSD precipita-se para uma nova liderança na expectativa de que o poder lhe vai cair no colo. Não interessa, supõem eles, qual o Guilherme Tell que disparará a besta, a maçã cairá na mesma. Mas a política não funciona com lei da gravidade. Nem da...

O PSD precipita-se para uma nova liderança na expectativa de que o poder lhe vai cair no colo. Não interessa, supõem eles, qual o Guilherme Tell que disparará a besta, a maçã cairá na mesma. Mas a política não funciona com lei da gravidade. Nem da facilidade.

Manuela Ferreira Leite entra este fim-de-semana na reunião magna de Mafra do PSD com o sentido de dever comprido. Mas não cumprido. Ganhou as eleições que devia ter perdido, as europeias. Perdeu as eleições que devia ter ganho, as legislativas. Mas deixa restabelecido um partido que encontrou num caos.

Nem dois anos passaram. Na altura, Ferreira Leite voltou a um partido desfeito por três lideranças pós-Barroso. Santana Lopes, Marques Mendes e Luís Filipe Menezes foram incapazes de dar massa consistente ao PSD, que todos deixaram numa lástima. Ferreira Leite entrava sem unanimidade mas como a boa moeda que expulsava a má moeda.

Manuela Ferreira Leite foi como o escudo, uma boa moeda que já não está em circulação. Não trouxe, nem prometeu, qualquer nova mensagem, rumo ou impulso geracional, antes repôs uma respeitabilidade que o partido estava a destruir. Conseguiu-o, com fogo mas sem chama, e chegou a sonhar ser primeiro-ministro, o que falhou depois de uma campanha eleitoral inábil e errada. A sua "verdade" era uma arrogância; a lição ética era uma contradição com a escolha de equipa (incluindo António Preto); a sua "asfixia democrática" desfez-se numa visita à Madeira; a sua inépcia comunicacional sucumbiu ao profissionalismo dos socialistas. Sobra-lhe de prémio de consolação poder dizer que tinha razão: muitas das suas propostas eleitorais do Verão estão agora contidas no Pacto de Estabilidade e Crescimento.

O PSD deve-lhe, ainda assim, ter tratado de resolver o passado. É hora de pensar no futuro. Porque o problema político português é a combinação sem saída de um PS desistente e de um PSD inexistente. É por isso que José Sócrates cai em popularidade mas continua a ser "eleito" nas sondagens. Ganha por mérito e por falta de comparência.

De todos os candidatos a candidatos dos últimos meses, três entram em Mafra com ambições de vencer, embora olhando para o parque de estacionamento com receio de ver um automóvel acabado de rodar: Pedro Passos Coelho, que esteve na engorda nos dois últimos anos, José Pedro Aguiar-Branco e Paulo Rangel, dois galos que até aqui coabitaram na mesma capoeira.

Nas cartas astrológicas do PSD estão eleições antecipadas, antes ou depois das eleições presidenciais, conforme o topete mais ou menos cavaquista do presidente que for eleito. Cavaco Silva voltou a deixar claro esta semana que mexerá todas as palhas contra a dissolução da Assembleia, o que limita a opção da instabilidade às moções de censura.

Embora Cavaco Silva tenha clara preferência num e antipatia por outro, o próximo líder tem condições para libertar o PSD da era cavaquista, de que tem sido refém, ou pela sombra (como com Santana), ou pela luz (como com Manuela). E o partido precisa disso: de se emancipar.

É uma arrogância assumir que vencer o PSD é o que basta para governar o País. Aliás, nenhum dos três candidatos está preparado para ser primeiro-ministro deste país. Mas o País precisa que um deles possa ser visto como alternativa ao primeiro-ministro para obrigá-lo a governar melhor.

in "JORNAL DE NEGÓCIOS"
12/03/10

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