26/02/2010

CAMILO LOURENÇO

ENTERRAR MORTOS E PENSAR ANTES DE RECONSTRUIR


Depois das calamidades é costume ouvir-se "Eu avisei!". Na Madeira não é diferente. No dia seguinte à tragédia já havia quem explicasse que foram os erros urbanísticos, com ocupação de leitos de cheia e condicionamento de ribeiras, que provocaram os estragos. Do outro lado Alberto João Jardim reagiu violentamente, prometendo fazer tudo como dantes. Quem tem razão? É irrelevante. Pelo menos para já. A primeira coisa a fazer, agora, é enterrar os mortos, limpar a cidade e… não construir nos sítios onde a água chegou. Porque se é verdade que não há provas de que a construção desordenada acentuou a tragédia, não é menos verdade que outras catástrofes, recentes (embora em menor escala), sugerem que a mão do Homem não é alheia ao que se passou. A segunda tarefa é pedir a instituições credíveis, como o LNEC, um estudo para saber o que fazer: subir a altura dos muros das ribeiras? Construir pequenas barragens na montanha, para regular o fluxo das três ribeiras que desaguam no Funchal? Não construir rotundas e pontes por cima das ribeiras? Não voltar a construir nos terrenos onde a água chegou? Se Jardim, que reagiu bem ao primeiro impacto da tragédia, fizer tudo como dantes estará a cometer um erro que pode provocar perda de mais vidas e afectar a economia da região: se os mercados emissores perceberem que o risco de catástrofe aumentou devido a erros urbanísticos, quantos turistas deixarão de vir à Madeira? Como disse alguém, a coisa mais próxima da insanidade é repetir comportamentos… esperando um resultado diferente.

in "JORNAL DE NEGÓCIOS"

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