DALAI LAMA

BONDADE E COMPAIXÃO - MOVIMENTO MUNDIAL PELA PAZ DE

Esta noite, gostaria de falar a vocês sobre a importância da bondade e
da compaixão. Ao discutir esses temas, não me vejo como budista, Dalai Lama ou Tibetano, mas sim como um ser humano e espero que vocês, no auditório, pensem em si mesmos dessa maneira.

Não como americanos, ocidentais ou membros de um determinado grupo, pois essas condições são secundárias. Se interagirmos como seres humanos, podemos chegar a esse nível. Caso eu diga "sou monge" ou "sou budista", as afirmações serão, em comparação com a minha natureza de ser humano, temporárias.

Ser humano é básico. Uma vez nascido assim, não se poderá mudar até a morte. Outras condições, ser ou não instruído, rico ou pobre, são secundárias.

Hoje, enfrentamos muitos problemas. Alguns são criados essencialmente
por nós mesmos, com base em diferenças de ideologia, religião, raça,
situação econômica ou outros fatores. Chegou, portanto, o momento de pensarmos em níveis mais profundos.

Em nível humano, condição essa que deveremos apreciar e respeitar em
todos os que nos cercam. Devemos construir relacionamentos baseados na confiança mútua, na compreensão, no respeito e na solidariedade, independentemente de diferenças culturais, filosóficas ou religiosas.

Todos os seres humanos são iguais. Feitos de carne, ossos e sangue.
Todos queremos a felicidade e evitar o sofrimento e temos direito a isso.
Em outras palavras, é importante compreender a nossa igualdade. Pertencemos todos a uma família humana.

O facto de brigarmos uns com os outros deve-se a razões secundárias, e todas essas discussões são inúteis. Infelizmente, durante muitos séculos, os seres humanos usaram todos os métodos para ferir uns aos outros. Muitas coisas terríveis aconteceram, resultando em mais problemas, mais sofrimento e desconfiança. E, consequentemente, em mais divisões.

O mundo hoje está cada vez menor em vários aspectos, particularmente o econômico. Os países estão mais próximos e interdependentes e, nesse quadro, torna-se necessário, pensar mais em nível humano do que em termos do que nos divide. Assim, falo a vocês apenas como um ser humano e espero, sinceramente, que vocês estejam escutando com o pensamento: "Sou um ser humano e estou ouvindo outro ser humano falar".

Todos queremos a felicidade; nas cidades, no campo, mesmo em lugares remotos, as pessoas trabalham com o objetivo de alcançá-la, entretanto, devemos ter em mente que viver a vida superficialmente não solucionará os problemas maiores.

Há muitas crises e medos à nossa volta. Por meio do grande desenvolvimento da ciência e da tecnologia, atingimos um estado avançado de progresso material, que é necessário. Não podemos, no entanto, comparar o progresso externo com nosso progresso interior. As pessoas queixam-se do declínio da moralidade e do aumento da criminalidade, mas esses problemas não serão resolvidos, se não procurarmos desenvolver nosso interior.

No passado remoto, se houvesse uma guerra, os efeitos seriam geograficamente limitados, porém hoje, em função do progresso, o potencial de destruição ultrapassou o concebível. No ano passado estive em Hiroshima, no Japão. Mesmo tendo informações a respeito da explosão nuclear lá ocorrida, era muito diferente estar no local, ver com meus próprios olhos e encontrar pessoas que realmente sofreram com aqueles acontecimentos.

Fiquei profundamente emocionado. Uma arma terrível tinha sido usada.
Embora possamos considerar alguém como inimigo, temos de levar em conta que essa pessoa é um ser humano e que tem direito a ser feliz. Olhando para Hiroshima e refletindo a respeito, fiquei ainda mais convencido de que a raiva e o ódio não são meios para solucionar problemas.

A raiva não pode ser superada pela raiva. Quando uma pessoa tiver um comportamento agressivo com você e a sua reação for semelhante, o resultado será desastroso. Ao contrário, se você puder se controlar e tomar atitudes opostas "compaixão, tolerância e paciência", não só se manterá em paz, como a raiva do outro diminuirá gradativamente.

Do mesmo modo, problemas mundiais não podem ser solucionados pela raiva ou pelo ódio. Sentimentos como esses devem ser enfrentados com amor, compaixão e pura bondade.

Pensem em todas as terríveis armas que existem, mas que, por si mesmas, não podem iniciar uma guerra. Por trás do gatilho há um dedo, movido pelo pensamento, não por sua própria força.

A responsabilidade permanece em nossa mente, de onde se comandam as ações. Portanto, controlar em primeiro lugar a mente é muito importante.
Não estou falando de meditação profunda, mas apenas de cultivar menos raiva e mais respeito aos direitos do outro. Ter uma compreensão mais clara da nossa igualdade como seres humanos.

Ninguém quer a raiva, ninguém quer a intranqüilidade, mas por causa da ignorância somos acometidos por sentimentos como esses. A raiva nos faz perder uma das melhores qualidades humanas, o poder de discernimento.

Temos um cérebro bem desenvolvido, coisa que outros mamíferos não têm.
Esse órgão nos permite julgar o que é certo e o que é errado. Não apenas em termos atuais, mas em projeções para daqui dez, vinte ou mesmo cem anos.
Sem nenhum tipo de pré-cognição, podemos utilizar nosso bom senso para determinar o certo e o errado. Imaginar as causas e seus possíveis efeitos.

Contudo, se nossa mente estiver ocupada pela raiva, perderemos o poder de discernimento e nos tornaremos mentalmente incompletos. Devemos salvaguardar essa capacidade e, para tanto, temos de criar uma companhia de seguros interna: autodisciplina, autoconsciência e uma clara compreensão das desvantagens da raiva e dos efeitos positivos da bondade.
Se refletirmos a respeito dessas questões com freqüência, podemos incorporar a idéia e, então, controlar a mente.

Por exemplo: pode ser que você seja uma pessoa que se irrita facilmente com pequenas coisas. Com desenvolvida compreensão e conscientização, isso pode ser controlado. Se você fica geralmente zangado por dez minutos, tente reduzi-los para oito. Na semana seguinte, reduza para cinco e, no próximo mês, para dois. Depois, passe para zero. É assim que desenvolvemos e treinamos nossa mente. É o que penso e também o que pratico.

É perfeitamente claro que todos necessitam de paz interior, que só pode ser alcançada por meio da bondade, do amor e da compaixão.

O resultado é uma família em paz, felicidade entre pais e filhos, menos brigas entre casais. Em uma nação, essa atitude pode criar unidade, harmonia e cooperação com saudável motivação.

Em nível internacional, precisamos de confiança e respeito mútuos, discussões francas e amistosas, com motivações sinceras e um esforço conjunto no sentido de resolver problemas. Tudo isso é possível.

Precisamos, porém, mudar interiormente. Nossos líderes têm feito o melhor que podem para resolver nossos problemas, mas, quando um é resolvido, surge outro. Tenta-se solucionar este, surge mais um em outro lugar. Chegou o momento então de tentar uma abordagem diferente.

É certamente difícil realizar um movimento mundial pela paz de espírito, mas é a única alternativa.

Caso houvesse outro método mais fácil e prático, seria melhor, porém não há. Se com armas pudéssemos chegar à paz duradoura, muito bem. Transformaríamos todas as fábricas em produtoras de armamentos. Gastaríamos todos os dólares necessários, se conseguíssemos a definitiva paz, mas tal é impossível.
As armas não permanecem empilhadas. Uma vez desenvolvidas, alguém irá usá-las. O resultado é a morte de criaturas inocentes. Portanto, a única maneira de atingirmos uma paz mundial duradoura é por meio da transformação interior. E, mesmo que essa transformação não ocorra durante esta vida, a tentativa terá sido válida. Outros seres humanos virão; a próxima geração e as seguintes. E o progresso pode continuar.

Sinto que, apesar das dificuldades práticas, e, mesmo correndo o risco de que tal visão seja considerada pouco realista, vale a pena o esforço. Assim, aonde quer que eu vá, expresso essas idéias e sinto-me muito motivado porque mais pessoas têm sido receptivas a elas.

Cada um de nós é responsável por toda a humanidade. Chegou a hora de pensarmos nas outras pessoas como verdadeiros irmãos e irmãs e nos preocuparmos com seu bem-estar. Mesmo que você não possa se sacrificar inteiramente, não deverá esquecer-se das dificuldades dos outros. Temos de pensar mais sobre o futuro em benefício de toda a humanidade.
Se você tentar dominar seus sentimentos egoístas e desenvolver mais bondade e compaixão, em última análise, você é quem irá sair beneficiado. É o que chamo de egoísmo sábio.
Pessoas egoístas tolas só pensam em si mesmas, e o resultado é negativo. Egoístas sábios pensam nos outros, ajudam da melhor forma e também colhem os benefícios.

Essa é minha simples religião. Não há necessidade de templos ou de filosofias complicadas. Nosso próprio cérebro, nosso coração são nossos templos. A filosofia é a bondade.


DALAI LAMA

Conferência realizada pelo Dalai Lama - São Paulo - Brasil, em abril/maio de 2006

D. PEDRO II


D. Pedro II
Monarca de Portugal
24- Rei D. Pedro II - O Pacífico.jpg

D. Pedro II, rei de Portugal

Ordem: 24.º Monarca de Portugal
Cognome(s): O Pacífico
Início do Reinado: 12 de Setembro de 1683,
regente desde 24 de Novembro de 1667
Término do Reinado: 9 de Dezembro de 1706
Aclamação: Lisboa, Portugal
Predecessor(a): D. Afonso VI
Sucessor(a): D. João V
Pai: D. João IV
Mãe: D. Luísa de Gusmão
Data de Nascimento: 26 de Abril de 1648
Local de Nascimento: Lisboa, Palácio da Ribeira
Data de Falecimento: 9 de Dezembro de 1706
Local de Falecimento: Lisboa, Palácio da Ribeira
Local de Enterro: Panteão dos Braganças, Mosteiro de São Vicente de Fora, Lisboa
Consorte(s): D. Maria Francisca Isabel de Sabóia, Princesa de Nemours

D.Maria Sofia, Condessa Palatina de Neuburgo

Príncipe Herdeiro: D. Isabel de Bragança (filha)
Príncipe D. João (filho)
Dinastia: Bragança

D. Pedro II de Portugal (Lisboa, 26 de Abril de 1648Alcântara, 9 de Dezembro de 1706). Foi Rei de Portugal de 1683 à sua morte, sucedendo ao irmão Afonso VI, vindo já exercendo as funções de regente do reino desde 1668, devido à instabilidade mental do irmão, D. Afonso VI. Está sepultado no Panteão dos Braganças em São Vicente de Fora. Morreu na Quinta de Alcântara, ou Palácio da Palhavã, de apoplexia. Tinha 58 anos e estava doente apenas há quatro dias.


Dados biográficos iniciais

Terceiro filho do rei João IV de Portugal e de Dona Luísa de Gusmão, foi Senhor da Casa do Infantado. Cognominado de O Pacífico, porque em sua regência que se fez a paz com a Espanha (em 1668).

Regente de 1667 a 1683, chegou ao poder por golpe de Estado no qual em 27 de janeiro de 1668 depôs o irmão Rei Afonso VI de Portugal. Foi rei por morte deste em 12 de setembro de 1683. Governou portanto de facto de 1667 a 1706. Implacável com o irmão, além de o encarcerar em Sintra, deflagrou processo de anulação do casamento com Maria Francisca Isabel de Sabóia, alegando a não-consumação, por inaptidão do rei em sua relação com mulheres, obtendo de Roma e dissolução e casando-se com a cunhada.

Apreciação

Diz Veríssimo Serrão em «História de Portugal», volume IV, página 233: «Um historiador coevo exaltou as suas qualidades físicas, tanto na destreza das armas como no toureio a cavalo, por ter uma agilidade e fortaleza que o predispunham para exercícios de violência. Foi no seu tempo que o palácio de Salvaterra de Magos voltou a ser o local preferido da corte, ali se instalando D. Pedro II nos meses de Janeiro e Fevereiro, para se dedicar aos desportos da montaria. (...) Senhor de grande memória, o monarca nunca recusava audiência a quem lha pedisse, tanto de dia como de noite, deleitando-se em ouvir os outros e em discutir os assuntos nos mais ínfimos pormenores. Essa qualidade era (...) um dos seus maiores defeitos, porque queria sempre ouvir a opinião dos conselheiros, o que o levava a dilatar a resolução dos problemas. O seu reinado tinha como grande desígnio reconstruir o País abalado pelas lutas da Restauração. Desde 1693 que podia dispor da riqueza aurífera do Brasil, que teria dado a essa obra o arranque decisivo de que Portugal carecia. Mas a participação na guerra sucessória da Espanha foi contrária aos interesses nacionais (...). »

Firmou a aliança inglesa. Consolidou a independência de Portugal, com a assinatura do Tratado de Madrid em 1668, pondo fim às guerras da Restauração iniciadas em 1640. teve o decisivo apoio da Inglaterra, com base em cláusulas matrimoniais que uniram Carlos II Stuart com a irmã, princesa Catarina de Bragança, em 1661. Portugal cedeu Tânger e Bombaim, comprometeu-se a transferir para os ingleses a maioria das praças recuperadas dos holandeses, repartir ao meio o comércio da canela, instalar famílias inglesas com os mesmos privilégios dos portugueses em Goa, Cochim, Diu, Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro. Em troca a Inglaterra daria suporte militar a Lisboa, protegendo embarcações portuguesas no Mediterrâneo e nas costas de Lisboa e do Porto.

A aliança com os ingleses foi decisiva na consolidação do poder de D. Pedro, que centralizou o poder da monarquia e dissolveu a excessiva força da nobreza depois da morte de D João IV em 1656.

Sua longa gestão foi de importantes realizações. Em 1671 concedeu liberdade de comércio para os ingleses residentes em Portugal e deu início ao estabelecimento de manufacturas têxteis. Dona Isabel Luísa foi proclamada herdeira do trono nas Cortes de 1674, tendo D. Pedro promulgado uma carta «sobre as regências e tuutorias dos Reys» para melhor fundar o direito de sua filha.

Em 1674 sua maior preocupação foi melhorar as defesas do Reino, pedindo contribuição dos três estados para o sustento das guarnições de fronteira, seu apetrecho e obras indispensáveis em castelos e fortes marítimos. As Cortes não atenderam a totalidade do pedido, mas o grande receio estava na defesa do litoral. «Os navios da Índia e do Brasil eram o principal objectivo da cobiça», diz Veríssimo Serrão, «História de Portugal», volume V, página 213, de modo que «a Coroa viu-se na obrigação de armar uma frota de 11 barcos. (...) A esquadra saiu do Tejo em 21 de julho de 1675, sob o comando de Pedro Jacques de Magalhães.» «Mas não se viram os resultados de tão custosa empresa».

Obteve autorização papal para a elevação do bispado da Bahia à categoria de arcebispado, e a criação dos bispados em Olinda e no Rio em 1676. Em 1677 foi criado o bispado do Maranhão, subordinado diretamente ao arcebispado de Lisboa. Em 1686, por decreto do Regimento de Missões, foram restringidos os privilégios dos jesuítas nos sertões do Norte. Houve porém resistências ao processo de reordenamento da administração colonial: em 1684 revolta de Beckman, que sublevou os colonos do Maranhão contra o monopólio da Companhia Geral para o Estado do Maranhão, sufocada; da década de 1680 o levante dos tapuias em diversas regiões do Nordeste.


Havia um óbice legal ao casamento de sua filha com o primo, o duque de Sabóia: a chamada «lei das Cortes de Lamego» impedia o casamento de uma herdeira com um príncipe estrangeiro, pretenso documento que em 1640 se tornara lei fundamental do Reino. As Cortes convocadas em 1º de novembro de 1679 não tiveram dúvidas em proceder à derrogação. Já então viera a Lisboa o embaixador saboiano, o marquês de Ornano, celebrar o casamento por procuração. Mas tudo ficaria sem efeito na medida em que a embaixada do duque de Cadaval, enviada a Turim, em maio de 1682, não alcançou ou não quis concretizar o projeto, por pressões talvez de Luís XIV sobre a dinastia de Sabóia. Em 1683, aliás, morreriam D. Afonso VI de Portugal e a rainha D. Maria Francisca Isabel. Na corte havia um forte partido «francês», chefiado pelo 1º duque de Cadaval, por Manuel Teles da Silva, 2º conde de Vilar Maior, futuro marquês de Alegrete, e pelo visconde de Ponte de Lima, mas outros pugnavam por aliança mais próxima com a Espanha. Ao casar-se novamente, D. Pedro II escolheu a irmã da rainha espanhola, como ela filha de Filipe Guilherme, eleitor palatino do Reno. A nova rainha D. Maria Sofia de Neuburgo jamais influiu na vida política, mantendo uma atuação discreta e dando ao marido larga descendência.

A descoberta de ouro no sertão de Caeté, nas Minas Gerais, no final do século XVII, deu início a uma fase de prosperidade econômica e a remodelações administrativas, com a criação em 1693 da Capitania de São Paulo e Minas Gerais, e a criação da Intendência das Minas em 1702. Data do período também a destruição do Quilombo dos Palmares (Alagoas) em 1695.

No final do reinado, havia dois grandes problemas no Brasil: a disputa pela colônia do Sacramento que, embora desde 1680 reconhecido território português, foi ocupada pelos espanhóis em 1705; e os primeiros conflitos, desde 1703, entre paulistas e emboabas, concorrentes forasteiros, inclusive portugueses, que chegaram à região das minas em busca de ouro.

Portugal e a política europeia

Numa avaliação geral, seu reinado consolidou a independência de Portugal diante da Espanha, mas foi alto o custo das concessões à Inglaterra: pelo controvertido Tratado de Methuen, de 1703, os panos de lã ingleses passaram a ser livremente comercializados em Portugal, o que levou à estagnação da indústria têxtil do Reino.

Sua política de não-alinhamento tinha como trunfo a presença de embaixadores e agentes nas cortes européias, e os nomes que se destacaram foram, até 1700, D. Francisco de Melo, marquês de Sande; Henrique de Sousa Tavares, 1º marquês de Arronches; o doutor José de Faria, na Inglaterra; Duarte Ribeiro de Macedo e Salvador Taborda Portugal, em Paris; Diogo de Mendonça Corte-Real, na Holanda. Diz Veríssimo Serrão: «Foi nessa boa escolha que se formou o mais destacado de nossos diplomatas da primeira metade de Setecentos: D. Luís da Cunha».

A Guerra da Sucessão Espanhola veio alterar o equilíbrio, pois a sucessão de Carlos II da Espanha, morto em 1700, se revelou enorme problema, na medida em que não teve descendência. O rei deixara por testemento como herdeiro o neto de Luís XIV, Filipe, duque de Anjou. Recusando o fato consumado, Guilherme III da Inglaterra, por meio da Grande Aliança da Haia, formou coligação com Holanda e com o Império, propondo Carlos, arquiduque da Áustria, como candidato ao trono espanhol. Seria difícil a Portugal fugir às pressões externas, e o rei se viu impossibilitado de guardar uma posição neutral, pois as implicações do conflito podiam estender-se à América. Portugal, que começara por reconhecer Filipe de Anjou como Filipe V de Espanha pelo tratado de Paris de 18 de junho de 1701, repensou sua posição, fato para o qual «contribuíram as primeiras derrotas dos franceses em Itália e no Reno», e a ameaça da frota inglesa. Em setembro de 1702 anulou-se o tratado com Luís XIV e graças à intervenção de John Methuen, embaixador da Inglaterra, estabeleceram-se «formas de cooperação que ainda não eram de aberta beligerância por parte de Portugal.» Mas era normal: diz Veríssimo Serrão na obra citada, página 230 do volume V: «Desde 1661 Portugal voltara, na política européia, a fazer parte da órbita inglesa que garantira o triunfo da Restauração».

Portugal assinou em Lisboa em 16 de maio de 1703 um tratado defensivo com a Inglaterra e Províncias Unidas, outro tratado de aliança ofensiva e defensiva com a rainha Ana de Inglaterra, Leopoldo I da Áustria e os Estados da Holanda. Havia dois artigos secretos: logo que subisse ao trono da Espanha, o arquiduque Carlos entregaria a Portugal a título perpétuo as praças fronteiras de Badajoz, Albuquerque, Valença de Alcântara, Tui, Baiona de Galiza e Vigo; e na América do Sul, as terras da margem setentrional do rio da Prata, o qual ficaria a constituir o limite das duas coroas.

Aclamado rei da Espanha como Carlos III em Viena em 12 de setembro de 1703, o arquiduque Carlos entendeu fazer de Portugal a base das operações contra seu adversário e desembarcou em Lisboa a 9 de março de 1704. Deixou a cidade no ano seguinte numa esquadra inglesa para se fixar na Catalunha, pois a morte do imperador Leopoldo I, em 5 de maio, o forçava a se aproximar da Áustria e do norte da Itália. A ofensiva aliada começou com D. António Luís de Sousa, 4º marquês das Minas e Dinis de Melo e Castro, 1º conde das Galveias, que comandavam respectivamente a Beira e o Alentejo. Valência de Alcântara se rendeu ao segundo em 8 de maio de 1705. D. Fernando de Mascarenhas, futuro marquês de Fronteira, foi outro nome a destacar na guerra. A 28 de junho o exército português chegou a entrar triunfante em Madrid, onde Carlos III foi aclamado. Mas seu nome não tinha qualquer ressonância nas populações, e Filipe V recebia constantes socorros dos Pirineus e beneficiava da realeza em exercício.

No Brasil

Fixou as bases de sua política no Brasil em dois pontos principais: o da pesquisa de metais e pedras preciosas e da extensão da fronteira da colônia às margens do rio da Prata. Enviou o visconde de Barbacena ao Brasil com instruções especiais para incentivas as explorações mineiras, e era tal a reputação dos paulistas que o Príncipe Regente, instado por Barbacena, escreveu a doze dos principais sertanistas piratininganos, a quem proporcionou a «incomparável honra» de uma interpelação direta, convocando-os ao emprego do seu real serviço. Alguns eram do maior prol, como Fernão Dias Pais, Francisco Dias Velho, Lourenço Castanho Taques.[carece de fontes?]

Sob seu reinado foi criada a Casa da Moeda da Bahia, inaugurada em 8 de março de 1694. D. Pedro II cedeu seus direitos de senhoriagem, tributo a ele devido, para o melhor funcionamento desta instituição, que cunhou as primeiras moedas brasileiras para uso da própria colônia em 1695. Estas moedas de 4000 e 2000 réis, em ouro e 640, 320, 160, 80, 40 e 20 réis, em prata; ampliaram e diversificaram o meio circulante no Brasil.

Últimos anos

Desde 1703 o rei passava épocas de profunda sonolência que os médicos atribuíam a um «defluxo de estilicido», ou seja, grave infecção da laringe. A 5 de dezembro de 1706 foi acometido de um «pleuriz legítimo» que derivou num ataque apoplético, com o qual perdeu os sentidos. Não resultou a sangria nos pés e, no dia 9, o ataque se tornou fatal. Acredita-se hoje em doença hepática, pois a autópsia achou «hua parte do fígado torcida e se lhe acharão 25 pedras no fel».

Está sepultado em Lisboa no Panteão dos Braganças.

Casamentos e descendência

D. Pedro teve ainda três filhos naturais:

Crónica de Faria e Sousa, 1730

A Crónica de Faria e Sousa, de 1730, refere o seguinte: “Passatempos ordinarios seus eram os exercícios corporais: caça, touros em Salvaterra, no Alentejo, a 12 léguas de Lx. Um dos melhores ginetes do Reino, quando todos os nobres toureavam como o rei. Em seu reinado, houve duas batalhas, Villaviciosa e Albuquerque, que perderam os Espanhóis por ser inferiores em gente mas não falta de valor, e quedaram os portugueses mui ufanos porque não estavam acostumados a ganhar. Paz com a Espanha em 23 de fevereiro de 1668. Houve depois a Guerra da Sucessão da Espanha: morto Carlos II aos 39 anos em 1º de novembro de 1700, por seu testamento de 21 de outubro o sucessor era Filipe de França, duque de Anjou, neto de Luis XIV, filho segundo do Delfim. Em 1701 D. Pedro assinou tratado de aliança ofensiva e defensiva com Espanha e França. Dois anos depois, «le obligaron sus inimigos a unirse con la Casa de Austria» e a fazer tratado semelhante com os Aliados inimigos de duas Coroas. Em 26 de maio de 1703, com partido do Imperador Leopoldo I, entrou com Vítor Amadeu II, duque de Sabóia, na grande aliança concluida na Haia em 7 de setembro de 1701 com Guilherme III da Grã-Bretanha e mais os Estados Gerais das Províncias Unidas dos Países Baixos. Morreu de apoplexia em 9 de dezembro de 1706. A primeira rainha (casamento com seu irmão anulado em 24 de março de 1668, casados a 2 de abril seguinte) morrera em Palhavã a 27 de dezembro de 1683 aos 38 anos. A segunda mulher morreu a 4 de agosto de 1699 aos 33 anos. Em março de 1704 chegou a Lisboa o segundo filho do imperador Leopoldo I (morto em 5 de maio de 1705 aos 65 anos), Carlos (futuro Carlos III de Espanha), recebido com muitos agasalhos. Sitiada Barcelona, foi obrigado a se retirar em 12 de maio de 1706 perdendo na ocasião toda a artilharia.»

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MARIA SOFIA DE NEUBURGO



D.Maria Sofia de Neuburgo, Rainha de Portugal
Rainha de Portugal
D. Maria Sofia, rainha de Portugal.
D.Maria Sofia de Neuburgo, Rainha de Portugal,
2ªEsposa de El-Rei D.Pedro II
Nascimento 6 de Agosto de 1666

Brevath, Império Germânico
Morte 4 de Agosto de 1699

Lisboa
Casa Real Neuburgo, Condes Palatinos do Reno
Pai Filipe Guilherme, Conde Palatino do Reno
Mãe Isabel Amália

Maria Sofia Isabel de Neuburgo (Brevath, ducado de Juliers, 6 de agosto de 1666Lisboa, no paço da Ribeira, em 4 de Agosto de 1699) foi a segunda mulher de D. Pedro II. Filha do eleitor palatino do Reno, conde Filipe Guilherme, portanto ligada à casa reinante da Baviera, os Wittelsbach, e de sua segunda mulher, Isabel Amália.

Por influência de Espanha onde reinava uma princesa da Casa de Neuburgo, Dom Pedro, nomeou Manuel Teles da Silva, 1º marquês de Alegrete, embaixador extraordinário com o encargo de ir pedir a mão de D. Maria Sofia, sendo o contrato de casamento assinado em 11 de Agosto de 1687. A nova rainha recebeu 100.000 florins de dote. Quando chegou ao Tejo foi recebida com grandes festas.

Tinha 20 anos ao ser pedida em casamento por D. Pedro II, viuvo há quatro anos. Como a herdeira, D. Isabel, era fraca e doente, ao completar 16 anos os conselheiros de Estado pediram oficialmente ao Rei um segundo casamento. Combatiam em torno dele, para determinarem a escolha da futura rainha, a influência francesa e a influência espanhola. Luís XIV sugeria Mademoiselle de Bourbon, os ministros espanhóis uma princesa da casa de Neuburgo, irmã da Rainha de Espanha. A influência espanhola venceu pelas informações mandadas ao Rei por António de Freitas Branco, encarregado de ver as duas princesas.

O conde de Vilar Maior, Manuel Teles da Silva, futuro primeiro marquês de Alegrete, foi como embaixador para pedir em Heidelberg a mão da princesa e de tratar das condições do contrato. A embaixada deixou Lisboa em 8 de dezembro de 1686. O contrato assinou-se a 22 de maio de 1687, pelo qual era ela dotada com 100.000 florins do Reno.

Casamento

Casou em 2 de julho de 1687 na capela eleitoral de Heidelberg por procuração. Deixou Heidelberg no início de agosto, fazendo a viagem pelo rio Reno, com homenagens dos governadores e magistrados das cidades e fortalezas nas duas margens do rio, assim como príncipes e os governos das terras circunvizinhas, quais foram os Arcebispos eleitores de Mogúncia, de Treves, de Colónia, e o Bispo de Vormes, primo do Imperador; Carlos II de Espanha, o Príncipe Guilherme de Orange, fut Rei da Inglaterra, e os Estados Gerais das Províncias Unidas, assim como a Holanda, por seus deputados.

Em Brila embarcou D. Maria Sofia de Neuburgo num iate inglês, que Jaime II pôs à sua disposição, escoltada por esquadra comandada pelo Duque de Grafton, filho do rei Carlos II, com quem vinha o Príncipe Fitz James, e alguns lordes. A armada arribou a Plymouth, chegando a Lisboa a 12 de agosto de 1687, fundeando pelo meio-dia. Havia numerosas embarcações pelo Tejo, navios de guerra fundeados adornados de bandeiras e flâmulas, salvas de castelos e fortalezas, sinos de igrejas, girândolas de foguetes. Pelas 3h embarcou D. Pedro II no bergantim real com os oficiais de sua casa, presidentes dos tribunais e fidalgos. Era precedido por 24 bergantins adornados de toldos, onde iam os fidalgos. Ao sair do bergantim era esperado pelo General Crafton e por D. Luís de Meneses, conde da Ericeira. Entrou na câmara da rainha a cumprimentá-la e vieram ambos para bordo do bergantim real entre as salvas repetidas das armadas portuguesa e inglesas. Desembarcaram em pavilhão levantado na ponte da Casa da Índia, e desde ali até à capela real do paço da Ribeira tudo se via adornado. Receberam as bênção nupciais do arcebispo Lisboa e capelão-mor do Rei, D. Luís de Sousa.

Houve dias de festas públicas e brilhantes iluminações. D. Maria Sofia de Neuburgo era bondosa, e D. Pedro II consagrava-lhe o afeto e respeito. D. Isabel, que tinha quase a mesma idade, muito se lhe afeiçoou. Teve dissidências com a cunhada, D. Catarina de Bragança, por questões de etiqueta e de precedências, tão graves no século XVII. Devota e caritativa, do seu bolso sustentava viúvas e órfãs, chegando a recolher no paço doentes pobres. Tinha muita afeição ao Padre Bartolomeu do Quental, que faleceu com fama de santidade. Fundou em Beja um colégio para os religiosos franciscanos, que dotou com rendimentos. Faleceu cedo, vítima de ataque de erisipela no rosto e a cabeça. Sepultada no hábito de São Francisco no panteão real de São Vicente de Fora. Esteve casada 12 anos e teve sete filhos. Jaz no Panteão dos Braganças, no mosteiro de São Vicente de Fora em Lisboa.

Morreu aos 33 anos e apesar dos pomposos elogios fúnebres proferidos em Lisboa e em Lagos, não se salientou para além da missão caritativa exercida.

Descendentes

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TRATADO DE METHUEN


O Tratado de Methuen, também referido como Tratado dos Panos e Vinhos, foi um diploma assinado entre a Grã-Bretanha e Portugal, em 27 de dezembro de 1703. Foram seus negociadores o embaixador extraordinário britânico John Methuen, por parte da Rainha Ana da Grã-Bretanha, e D. Manuel Teles da Silva, marquês de Alegrete.

Pelos seus termos, os portugueses se comprometiam a consumir os têxteis britânicos e, em contrapartida, os britânicos, os vinhos de Portugal. Com três artigos, é o texto mais reduzido da história diplomática européia[1]:

"I. Sua Majestade ElRey de Portugal promete tanto em Seu proprio Nome, como no de Seus Sucessores, de admitir para sempre daqui em diante no Reyno de Portugal os Panos de lãa, e mais fábricas de lanificio de Inglaterra, como era costume até o tempo que forão proibidos pelas Leys, não obstante qualquer condição em contrário.
II. He estipulado que Sua Sagrada e Real Magestade Britanica, em seu proprio Nome e no de Seus Sucessores será obrigada para sempre daqui em diante, de admitir na Grã Bretanha os Vinhos do produto de Portugal, de sorte que em tempo algum (haja Paz ou Guerra entre os Reynos de Inglaterra e de França), não se poderá exigir de Direitos de Alfândega nestes Vinhos, ou debaixo de qualquer outro título, directa ou indirectamente, ou sejam transportados para Inglaterra em Pipas, Toneis ou qualquer outra vasilha que seja mais o que se costuma pedir para igual quantidade, ou de medida de Vinho de França, diminuindo ou abatendo uma terça parte do Doreito do costume. Porem, se em quaquer tempo esta dedução, ou abatimento de direitos, que será feito, como acima he declarado, for por algum modo infringido e prejudicado, Sua Sagrada Magestade Portugueza poderá, justa e legitimamente, proibir os Panos de lãa e todas as demais fabricas de lanificios de Inglaterra.
III. Os Exmos. Senhores Plenipotenciários prometem, e tomão sobre si, que seus Amos acima mencionados ratificarão este Tratado, e que dentro do termo de dous meses se passarão as Ratificações."

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1º DUQUE DO CADAVAL


Nuno Álvares Pereira de Melo criado em 26 de abril de 1648 por Carta Régia de D. João IV de Portugal Duque de Cadaval. A medida foi considerada de justiça, por se tratar do parente mais chegado, por varonia, à Casa de Bragança e de razão, por ser o novo titular na hierarquia da nobreza na «maior pessoa que hoje he em Portugal abaixo de S. M. e A.» Morreu aos 87 anos em 29 de janeiro de 1725.


Filho do 3º marquês de Ferreira (título de 1534) e 4º conde de Tentúgal (título de 1504), D. Francisco de Melo, e de D. Joana Pimentel. D. Nuno nasceu em Évora em 4 de novembro de 1638 e foi educado no Paço. Foram seus irmãos D. Teodoro de Melo de Bragança, (morto em 1672), cônego na Sé de Lisboa, sumilher da cortina de Afonso VI de Portugal, e D. Isabel de Moscoso (1640-1650).

Primeiros anos

Depois da aclamação del-rei D. João IV de Portugal, o marquês de Ferreira transferiu sua casa para Lisboa, e D. Nuno criou-se no paço real, passando-se-lhe em 20 de março de 1641 carta de conde de Tentúgal, declarando-se que venceria o assentamento desde o dia em que nascera, e que teria o mesmo que o conde de Alcoutim, 260$000 réis que lhe pertenciam como parente da Casa Real. Quando faleceu seu pai em 1645, sucedeu na sua importantíssima casa e no título de marquês de Ferreira, por carta de 3 de agosto de 1645 e de conde sobrinho em 8 de agosto de 1645. Em 26 de abril de 1648 concedeu-lhe el-rei o titulo de Duque de Cadaval, dia em que nasceu o infante D. Pedro, cuja carta se lhe passou a 18 de julho. Desde então o primogénito ficou sendo marquês de Ferreira e o 2o filho conde de Tentúgal.

Carreira

Em 1657, com 19 anos, foi nomeado familiar do Santo Oficio. Em 1657 quis o Duque tomar parte na guerra do Alentejo, mas a Rainha regente D. Luísa de Gusmão não consentiu, proibindo-lhe de sair da Corte, por carta de 19 de maio. Em 1658 tentou novamente partir para o exército, e desta vez obteve permissão, porque a Rainha tencionava nomeá-lo general de cavalaria na seguinte campanha. Assistiu ao cerco de Badajoz e ao ataque do forte de S. Miguel, sempre com distinção, porém neste ataque recebeu dois ferimentos, um deles de muita gravidade, em que uma bala lhe despedaçou o ombro esquerdo, obrigando-o a tratamento prolongado, e de que sempre ficou sofrendo. Em 1659 quis voltar ao exército, mas a rainha o não deixou, e a 10 de março o nomeou conselheiro de Estado, ministro do despacho da junta nocturna, onde se tratavam os mais importantes negócios e os mais altos interesses do reino.

Era dos fidalgos que mais censuravam o procedimento irregular do Pr D. Afonso, e por isso, tão depressa subiu ao trono, o novo monarca mandou-o para a vila de Almeida. O valente militar, apesar de lhe ser proibido repetidas vezes sair a campanha durante o tempo do seu exílio, ainda serviu como soldado ás ordens do governador das armas da província da Beira, tornando-se notável em alguns combates. Sentindo-se doente partiu para as Caldas da Rainha, donde passou a Tentúgal, e sendo-lhe estranhado aquele proceder, dirigiu uma representação ao rei, em que obteve, licença para residir em Alenquer, e mais tarde permitido regressar a Lisboa.

Tomou tomou grande parte na deposição do monarca e na entrega do governo do reino a seu irmão D. Pedro. Assistiu como condestável ás Cortes de 27 de janeiro de 1668, reunidas para o juramento do infante como regente no impedimento perpétuo de D. Afonso VI de Portugal, e foi ele quem a rainha D. Maria Francisca de Sabóia encarregou de tratar, como seu procurador, da causa do divórcio.

Quando terminou a guerra com Espanha, teve a nomeação de primeiro plenipotenciário para o tratado da paz assinado em Lisboa a 13 de fevereiro de 1668. Ainda neste ano a Rainha o escolheu para seu mordomo-mor, cargo que conservou até à sua morte, servindo sucessivamente as rainhas D. Maria Sofia de Neuburgo e D. Maria Ana de Áustria.

Em Junho de 1670 foi nomeado presidente do Conselho Ultramarino, cargo de que se exonerou em 1673, ano em que o infante regente resolveu guarnecer a corte com cavalaria paga, dando-lhe o governo dela, e o da província da Estremadura. Também foi presidente da Junta do Tabaco, logo na sua criação em 1678, cargo que serviu durante 20 anos, sendo então transferido para o de presidente do desembargo do paço, que exerceu até falecer. Quando em 1680, depois da fundação da colónia do Sacramento, o governo de Buenos Aires expulsou os portugueses, esteve iminente a guerra com Espanha, e por essa ocasião o Duque recebeu ordem de passar logo ao Alentejo. Como a Espanha cedeu, o duque foi nomeado 1o Ministro plenipotenciário para as negociações que terminaram pelo tratado de 6 de maio de 1681.

Foi mestre-de-campo general. Senhor das vilas de Cadaval, Vila Nova de Danços, Alvaiázere, Rabaçal, Arega, Buarcos, Anobra, Carrapito, Mortágua, Penacova, Vilalva, Vila Ruiva, Albergaria, Água de Peixes, Peral, Cercal, Póvoa, Santa Cristina, Tentúgal, Muja, Noudar, Barrancos, etc., Alcaide-mor das vilas e castelos de Olivença e de Alvor, comendador das comendas de Santo Isidoro, da vila de Eixo, Santo André de Morais, Santa Maria de Marmeleiro, S. Mateus, Sardoal, da ordem de Cristo; de Grândola na de San Tiago; de Noudar na de São Bento de Avis. Pertenceu aos conselhos do Estado e da Guerra dos reis D. Afonso VI de Portugal, D. Pedro II de Portugal, e D. João V de Portugal, e despacho das mercês, e expediente, mestre de campo general da Corte e província da Estremadura, junto à pessoa do rei, e capitão general da cavalaria da mesma corte e província, governador das armas de Setúbal e de Cascais, etc.

Morto o pai em 1645, sucedeu nos vários títulos e recebeu os senhorios de Buarcos, Póvoa de Santa Cristina, Tentúgal, Arega, Anobra, Carapito, etc Alcaide-mor de Olivença e de Alvor, senhor do paul de Muge, comendador de Santo Isidoro, Eixo, Sardoal, na Ordem de Cristo, Grândola na Ordem de Sant'Iago e Noudar na Ordem de Avis. Para festejar o nascimento do Infante D. Pedro, futuro Pedro II de Portugal, D. João IV quis que o 5º duque de Tentúgal, apesar da pouca idade, fosse investido em um novo título que marcasse bem sua grandeza nobiliárquica. Foi esta a origem histórica da Casa de Cadaval.

O 1º duque fez construir um enorme palácio na vila de Muge, ponto-chave do domínio senhorial na Estremadura. No arrabalde de Lisboa, mandou construir uma casa nobre em Pedrouços, que serviu por vezes de residência a D. Pedro II, guardando na toponímia a designação de Alto do Duque.

Estando em 1682 ajustado o casamento do Duque de Sabóia, Victor Amadeu, com a infanta D. Isabel, o Duque de Cadaval foi como embaixador extraordinário à corte de Turim conduzir a Lisboa aquele príncipe. O casamento, porém, não se realizou. No princípio do século XVIII, tendo falecido o Rei de Espanha Carlos II, sucedeu-lhe Filipe V de Espanha, que varias potências logo reconheceram como soberano, entre as quais se contava Portugal. D. Pedro II de Portugal, porém, mudou de parecer, decidindo-se a auxiliar as pretensões do Arquiduque Carlos. Cadaval não aprovou a mudança de política, mas ao ver que os seus conselhos nada conseguiam, e a guerra declarada, sujeitou o seu voto à decisão do monarca, e tratou com empenho que a sua vontade fosse satisfeita. D. Pedro partiu para a Beira, deixando-o em Lisboa para assistir à rainha governadora, mas ao chegar a Santarém, logo o mandou chamar, levando-o consigo para a Beira, onde lhe deu a patente de mestre do campo general junto à sua pessoa.

Depois da morte de D. Pedro em 1706, D. João V de Portugal nomeou em Abril de 1707 o Duque de Cadaval governador do exército que se devia formar na Beira, ficado com a mesma patente de mestre de campo general, mas não chegou a exercer esta comissão, e durante o novo reinado conservou-se mais retirado dos negócios públicos, porque D. João V, apenas subiu ao trono, diligenciou afastar do poder os validos de seu pai.

Em Setembro de 1725, teve um ataque apopléctico, repetido um ano depois, vindo a falecer. Durante o tempo da sua doença recebeu as maiores demonstrações de afeto da família real, da corte e do povo.

Resumo

Participou em 1658 na campanha do Alentejo com o posto de tenente real, ferindo-se no cerco de Badajoz. Foi, por decisão da Regente D. Luísa de Gusmão, conselheiro de Estado e ministro da Junta Nocturna, vindo a ser no reinado de D. Afonso IV de Portugal uma das principais figuras da cena política como claro opositor ao conde de Castelo Melhor. Foi por isso desterrado para Almeida, e o conde foi sempre com ele implacável em seu desterro. Com a queda do Escrivão da Puridade, o duque recuperou o valimento e foi a principal figura do partido do príncipe D. Pedro, futuro Pedro II de Portugal.

Ocupou sucessivamente os cargos de condestável nas Cortes de 1667, de mordomo-mor da Rainha D. Maria Francisca de Sabóia em 1668, de presidente da Junta do Tabaco (1678), de mestre-de-campo general da província da Estremadura (1681) sendo mandado a Turim assentar os esponsais da Infanta D. Isabel com o duque Vítor Amadeu de Sabóia . Em 1687 foi mordomo-mor da Rainha D. Maria Sofia de Neuburgo, presidente do Desembargo do Paço (1698), mestre-de-campo general em 1706. Sob D. João V de Portugal continuou a ter prestígio, sendo mordomo-mor da Rainha D. Maria Ana de Áustria em 1708 e servindo de conselheiro do monarca.

Numa época em que a moda era inclinar-se pela Espanha, favorecia a França. Pertenceu-lhe aliás a ruptura do projetado casamento de D. Isabel com o duque de Sabóia e a tentativa de casá-la, em 1684, com um príncipe ou nobre da casa de França.

No campo cultural, sua valiosa «livraria» era sem igual, singular coleção de papéis impressos, cartas, relatórios, pareceres, memórias e outros documentos de interesse histórico, literário e genealógico, completada aliás por seu filho. Virginia Rau e Maria Fernanda Gomes da Silva publicaram aliás «Os Manuscritos do Arquivo da Casa Cadaval respeitantes ao Brasil» em 1956-1958.

Casamentos e descendência

Casou três vezes:

  • 1 - em Évora em 29 de dezembro de 1660 com D. Maria de Faro (1635-1661 Lisboa), condessa de Faro e de Odemira, viuva desde 1658 de D. João Forjaz Pereira Pimentel, 8° conde da Feira, com quem tinha casado em 1653. Era filha de D. Mariana da Silveira e Soares e de D. Francisco de Faro (1600-1661), 7° Conde de Odemira; tiveram uma filha que pouco viveu.
  • 2 - na França, Paris, em 2 de fevereiro de 1671 casou com a princesa D. Maria Angélica Henriqueta de Lorena (1646-1674), filha de Francisco de Lorena, 2º conde de Rieux, Príncipe de Harcourt, e Catarina Henriqueta, filha bastarda de Henrique IV de França;
  • 3 - e, ainda em França, em Versalhes, em 25 de junho de 1675, casou com a princesa Margarida Armanda de Lorena ou Lorena-Armagnac, filha de Luís de Lorena, Conde de Armagnac e de Harcourt, estribeiro-mor de Luís XIV, e de sua esposa Catarina de Neuville, filha do Duque de Villeroy. Esta senhora sobreviveu três anos a seu marido, falecendo a 15 de dezembro de 1730. Os descendentes adiante tiveram sobrenome "Alvares Pereira de Melo."

Deixou filhos e numerosos bastardos.

  • 1 - Primogênito D. Jaime de Melo (1684-1749), 5.º marquês de Ferreiro, 6.º Conde de Tentúgal declarado em 19 de dezembro de 1736 e 3.º Duque de Cadaval.
  • 2 - bastardo Jaime (1663-cedo morto)
  • 3 - Bastarda D. Margarida, morta cedo.
  • 4 - Bastarda D. Margarida d Melo (16 de fevereiro de 1711-7 de janeiro de 1728, de bexigas).
  • 5 - Bastardo D. Luis de Melo (11 de novembro de 1712-22 de outubro de 1722).
  • 6 - Bastarda Eugênia de Melo (14 de setembro de 1715-12 de setembro de 1752), freira no Mosteiro da Esperança em Lisboa.
  • 7 - Bastarda D. Ana Catarina de Melo (25 de novembro de 1716-?), freira no dito Mosteiro.
  • 8 - Bastardo D. Nuno Alvares Pereira de Melo (15 de fevereiro de 1720-?), cavaleiro na Ordem de Cristo, Deputado do Santo Ofício na Inquisição de Lisboa.
  • 9 - bastardo D. Pedro de Melo, morto cedo.
  • 10 - bastardo D. Francisco de Melo (nascido e morto em 1721).
  • 11 - Bastardo D. Teodosio de Melo (nascido e morto em 1722)
  • 12 - Bastarda D. Isabel de Melo (30 de abril de 1723-?), religiosa no Mosteiro de Nossa Senhora da Conceição da Luz.
  • 13 - Bastarda D. Joana de Melo (28 de novembro de 1724-24 de setembro de 1725).
  • 14 - Bastardo D. Rodrigo de Melo (15 de setembro de 1726-?), clérigo regular de São Caetano.
  • 15 - Bastardo D. Manoel de Melo (10 de agosto de 1728-?), clérigo, idem.
  • 16 - Bastarda D. Maria de Melo (31 de março de 1730-?), religiosa no Mosteiro de Nossa Senhora da Conceição da Luz.
  • 17 - Bastarda D. Leonor de Melo (17 de março de 1732-morta cedo).
  • 18 - Bastardo D Alvaro de Melo (24 de outubro de 1734-?)com seu irmão abaixo em Tomar.
  • 19 - bastardo D. José de Melo (1738-?), religiosos no convento de Tomar desde 1750.
  • 20 - Joana (1661-1669). condessa de Tentugal, de Faro e de Odemira.
  • 21 - Filho (1664-cedo morto)
  • 22 - Francisco (Lisboa nascido em 1674 e no mesmo ano morto em Évora)
  • 23 - Francisco (Lisboa 1677-1678).
  • 24 - Alvaro (Lisboa 1685-1701 Lisboa)
  • 25 - D. Ana (1681-2 de dezembro de 1721), em 1695 casada com Luís Alvares de Tavora (morto em 1718), 5o conde de São João.
  • 26 - D. Isabel Henriqueta de Lorena (Lisboa 1672-1699 Evora). Em 1690 casada com Rodrigo Eanes de Sá e Menezes (morto em 1733) 3º Marquês de Fontes e marquês de Abrantes.
  • 27 - D. Eugenia Rosa de Lorena (1683-1724). Casada em 1698 com Manuel Teles da Silva (1682-1736 ), 4.º Conde de Vilar Maior, e 3.º Marquês de Alegrete.
  • 28 - Catarina (nascida e morta em 1678)
  • 29 - Filipa Angelina (1694-1713) que em 1711 casou com Joaquim de Sá e Menezes (morto em 1756) Marquês de Fontes e marquês de Abrantes.
  • 30 - D. Joana de Lorena (1687-1740). Casou em 1699 com Bernardo Filipe Néri de Távora (1681-1744) 2.º Conde de Alvor, filho do 1.º conde de Alvor Francisco de Távora, e de sua mulher, D. Inês Catarina de Távora. Mestre de campo general de batalha dos exércitos de D. João V de Portugal, com o governo das armas da província de Trás-os-Montes, do conselho de guerra, mordomo-mor da princesa do Brasil D. Maria Ana Vitória, senhor da vila de Moura, comendador de Machico na ilha da Madeira e de Santa Maria de Mesquitela; de Santa Maria de Freixedas, e da de Duas Igrejas, todas na Ordem de Cristo; alcaide-mor de Marialva. Serviu com seu pai na guerra em que ocupou vários postos. General de batalha. Ferido no choque da Godinha em 1709, e ficou com o braço esquerdo paralisado. 0 título ficou extinto pela sentença proferida contra o 3º Marquês seu filho, Francisco de Assis de Távora, supliciado em Belém em 3 de janeiro de 1759).
  • 31 - D. Rodrigo de Melo (Lisboa 1688- 1713 vila de Torres Vedras) Marquês de Cadaval. Casou em 1711 com Ana de Lorena de Sá e Menezes (1691-1740), filha do Marquês de Fontes; casou depois com sua sobrinha, Ana Catarina de Lorena.
  • 34 D. Luís Ambrósio de Melo (Lisboa 1679-1700 Evora em vida de seu pai, sem sucessão), 2.º Duque de Cadaval.
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