25/09/2009

Novas Oportunidades MARTA OLIVEIRA SANTOS

Correio da Educação

Novas Oportunidades - A ignorância certificada

Marta Oliveira Santos

O país encontra-se com uma taxa muito baixa de escolaridade em relação aos países da
EU(União Europeia). Logo há necessidade de colmatar esta situação e, para isso foram
criadas"As Novas Oportunidades", uns cursinhos intensivos de três meses, no fim
dos quais os "estudantes"(agora com o nome pomposo de formandos) obtêm o certificado
de equivalência ao 9º ou 12º anos.
Fantástico, se os cursinhos fossem a sério! ...

Perante a publicidade aos referidos cursos, aqueles que abandonaram a escola ou, por
qualquer razão não concluíram um dos ciclos de escolaridade, esfregaram as mãos de
contentes, uma vez que agora se lhes oferece a oportunidade de obterem um certificado de
habilitações que lhes poderá vir a ser útil. E como diz o ditado"mais vale tarde do que
nunca", eles lá se inscreveram. Por outro lado, três meses das 7.00 às 10.00 horas, horário
pós-laboral, uma vez por semana, era coisa fácil de realizar. Coitados daqueles que andam
3 anos (7º, 8º e 9º anos) para concluírem o 3º ciclo!!! Isso é que é difícil!

Na rua, no café, nos locais públicos em geral ouve-se: "Ah! Agora, ando a estudar! Ando a
fazer o 9º ou 12º ano! Aquilo é porreiro, pá!"
Entretanto, há pessoas com quem contactamos no dia-a-dia, mais próximos de nós,
o cabeleireiro, o sapateiro, a empregada doméstica, etc. que também nos confidenciam
com ar feliz: "Agora, com esta idade, ando a estudar! Ando a fazer o 9º!" E nós,
simpaticamente, sorrimos, abanamos a cabeça e dizemos que fazem bem, sempre é
uma mais valia…contudo, numa dessas conversas, tentei descobrir que disciplinas
constavam do curso, ficando a saber que eram Português, Matemática, Informática e
Cidadania para o 9º ano; e indaguei ainda como eram as aulas e a avaliação final.
E fiquei atónita.
Em Português o formando teria que escrever a história da sua vida e a razão por que
se inscreveu no curso, sendo o texto corrigido aula a aula pela respectiva formadora;
Matemática consistia em efectuar cálculos básicos e apresentar, por exemplo, a
receita de um bolo e duplicá-la;
para Informática apercebi-me que seria a apresentação do trabalho escrito e,
posteriormente, quem quisesse apresentá-lo-ia em "powerpoint";
em Cidadania, os formandos apresentavam os diferentes resíduos e diziam em que contentor os deveriam colocar. A nível de Português ainda foi pedida a leitura de um
livro e seu comentário, sendo a selecção ao critério do formando o que deu origem a
autores "light", nada de autores portugueses de renome; a acrescer a este comentário
teriam também de fazer a apresentação crítica a um filme e a uma reportagem.
Todos estes elementos seriam entregues num dossier, cuja capa ficaria ao critério de
cada formando.

Três meses passaram num abrir e fechar de olhos, por isso um destes dias, enquanto
aguardava a minha vez para ser atendida no consultório médico, fui brindada com o
dossier do curso da recepcionista e respectivo certificado de 9º ano. Engoli em seco aquelas
páginas recheadas de erros ortográficos e de construção frásica, desencadeamento de
ideias e falta de coesão, (…), entremeados por bonitas fotografias; na II parte, umas contitas
simples e duas tábuas de multiplicação; e em Cidadania, os contentores do lixo coloridos
com a indicação dos resíduos que se põem lá dentro.
Em seguida, com um sorriso muito branco (nem o amarelo consegui!) e, como bem
educada que sou, felicitei a dona do dossier cuja capa estava realmente bonita, original,
revelando bastante criatividade e ouvi-a alegre dizer: "A formadora disse-me que tinha
hipóteses de fazer o 12º ano. Logo que possa, vou fazer a minha inscrição!"
Fiquei estarrecida, sem palavras para lhe dizer o que quer que fosse.
"As Novas Oportunidades" são isto? Está a gastar-se tanto dinheiro para passar
certificados de ignorância? Será que todos os formadores serão iguais a estes?
E o 9º ano é escrever umas tretas e ler um Nicholas Sparks e um artigo da revista "Simplesmente Maria"?
E o 12º ano será a mesma coisa (queria dizer chachada) acrescida de uma língua?

Continuando assim o país a tapar o sol com a peneira, teremos em poucos
anos a ignorância certificada!


enviado por CARLOS SANTOS

3 comentários:

  1. Não concordo, de todo! Os que fazem o 9.º ou 12.º anos da maneira que está aqui descrita são os mesmos que andam no chamado "ensino regular" a perder e a fazer perder tempo, a gastar o dinheiro dos contribuintes e das respectivas famílias.
    Conheço muitas pessoas que pelas mais variadas razões, não puderam concluir os seus estudos e agora estão a fazê-lo porque querem melhorar os seus conhecimentos, porque precisam desse certificado para ter um emprego aceitável. A maioria dos empregos exigem como habilitação mínima o 12.º ano.Alguns estão a fazer com grande esforço!
    Eu tenho 50 anos, fiz o 2.º ano complementar dos Liceus, no Liceu Filipa de Lencastre e no Liceu Pedro Nunes (1976/1978), fiz o Curso de Secretariado de Direcção do Instituto de Novas Profissões (1979/1982).Trabalho desde os 17 anos, já tive várias experiências profissionais.
    Não ganho nada com a certificação do 12.º ano, até porque tenho 12 anos de escolaridade seguidos e bastava-me ir ao Ministério de Educação demonstrar que fui mal avaliada,mas decidi aproveitar esta oportunidade para enriquecimento pessoal e profissional.
    Estou a fazer formação pós laboral, em sala de aula, das 19 às 22h, de 2ªa 5ª feira numa escola de formação profissional certificada (CECOA).Estou a melhorar os meus conhecimentos nas 2 áreas em que tenho algumas dificuldades: informática e inglês.
    Comecei a 23 de Março de 2009, ainda não terminei, estou muito cansada mas tem sido uma mais valia.
    Acompanhei de muito perto duas pessoas que fizeram pelo outro método "o tal dossier" e posso garantir que não foi com essa facilidade; num dos casos ele fez o 9.º ano com a ajuda de amigos mais habilitados academicamente e tem estado a preparar-se com algumas formações para fazer o tal "dossier" que lhe dará a certificação do 12.º ano. É uma pessoa muito competente a nível profissional e tem melhorado muito os seus conhecimentos. A outra acabou ao fim de seis meses, com a ajuda de familiares mais habilitados e para que conste ela deixou os estudos quando já estava no 2.º ano do Curso de Educação Especial em Macau.
    Há dois dias estiveram dois peritos internacionais a fazer uma avaliação junto dos "formandos", formadores e responsáveis do Centro de Formação que frequento.
    Em tudo na vida, há bom e mau e este programa não é excepção.
    Não sou partidária de facilitismos,mas acho que as pessoas devem ter novas oportunidades de melhorar as suas competências pessoais, profissionais e cívicas.
    Espero que as nossas críticas e sugestões, bem como de todos os intervenientes dos vários centros de formação profissional seleccionados que estão a ser avaliados,contribuam para a melhoria deste tipo de ensino.

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  2. Concordo com o que a Fátima diz. Nem todos tivemos as mesmas oportunidades na vida. Não sei que trabalho a Dra. Marta leu, de qualquer forma desafio-a a ler o meu PRA (Portefólio de Aprendizagens). Depois vou querer que ela me diga se tenho ou não qualificações práticas e válidas para ter um certificado a nível do 12º ano.

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  3. A sra. Dra. Marta Oliveira Santos fez uma apreciação um tanto grosseira das Novas Oportunidades. Se fosse tão fácil eu certamente a esta hora, estaria na cama a fazer uma valente soneca. Mas, a sra. Dra. para valorizar o seu curso, que eu não sei em que Universidade foi tirado ou adquirido, esvaloriza o trabalho empenho e esforço dos outros. Congratulo-me por tido a sua Oportunidade durante a sua infância. Não seja invejosa e não roube os sonhos aos outros. Eu tenho 60 anos mas ainda sonho, não em comprar um diploma mas a ganhá-lo. Que a Deus a abençoe.

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