15/09/2009

MÁRIO CRESPO


Está bem... façamos de conta

Façamos de conta que nada aconteceu no Freeport. Que não houve
invulgaridades no processo de licenciamento e que despachos ministeriais a
três dias do fim de um governo são coisa normal. Que não houve tios e primos
a falar para sobrinhas e sobrinhos e a referir montantes de milhões (contos,
libras, euros?). Façamos de conta que a Universidade que licenciou José
Sócrates não está fechada no meio de um caso de polícia com arguidos e tudo.

Façamos de conta que José Sócrates sabe mesmo falar Inglês. Façamos de conta
que é de aceitar a tese do professor Freitas do Amaral de que, pelo que
sabe, no Freeport está tudo bem e é em termos quid juris irrepreensível.
Façamos de conta que aceitamos o mestrado em Gestão com que na mesma
entrevista Freitas do Amaral distinguiu o primeiro-ministro e façamos de
conta que não é absurdo colocá-lo numa das "melhores posições no Mundo" para
enfrentar a crise devido aos prodígios académicos que Freitas do Amaral lhe
reconheceu. Façamos de conta que, como o afirma o professor Correia de
Campos, tudo isto não passa de uma invenção dos média. Façamos de conta que
o "Magalhães" é a sério e que nunca houve alunos/figurantes contratados para
encenar acções de propaganda do Governo sobre a educação. Façamos de conta
que a OCDE se pronunciou sobre a educação em Portugal considerando-a do
melhor que há no Mundo. Façamos de conta que Jorge Coelho nunca disse que
"quem se mete com o PS leva". Façamos de conta que Augusto Santos Silva
nunca disse que do que gostava mesmo era de "malhar na Direita" (acho que
Klaus Barbie disse o mesmo da Esquerda). Façamos de conta que o director do
Sol não declarou que teve pressões e ameaças de represálias económicas se
publicasse reportagens sobre o Freeport. Façamos de conta que o ministro da
Presidência Pedro Silva Pereira não me telefonou a tentar saber por "onde é
que eu ia começar" a entrevista que lhe fiz sobre o Freeport e não me voltou
a telefonar pouco antes da entrevista a dizer que queria ser tratado por
ministro e sem confianças de natureza pessoal. Façamos de conta que Edmundo
Pedro não está preocupado com a "falta de liberdade". E Manuel Alegre
também. Façamos de conta que não é infinitamente ridículo e perverso
comparar o Caso Freeport ao Caso Dreyfus. Façamos de conta que não aconteceu
nada com o professor Charrua e que não houve indagações da Polícia antes de
manifestações legais de professores. Façamos de conta que é normal a
sequência de entrevistas do Ministério Público e são normais e de boa
prática democrática as declarações do procurador-geral da República. Façamos
de conta que não há SIS. Façamos de conta que o presidente da República não
chamou o PGR sobre o Freeport e quando disse que isto era assunto de Estado
não queria dizer nada disso. Façamos de conta que esta democracia está a
funcionar e votemos. Votemos, já que temos a valsa começada, e o nada há-de
acabar-se como todas as coisas. Votemos Chaves, Mugabe, Castro, Eduardo dos
Santos, Kabila ou o que quer que seja. Votemos por unanimidade porque de
facto não interessa. A continuar assim, é só a fazer de conta que votamos.

publicamos pela sua pertinente actualidade

in "jornal de notícias" em 09/02/09

enviado por ANTÓNIO CUNHA

Sem comentários:

Enviar um comentário