01/09/2009

FRANCISCO MOITA FLORES


Impressão Digital

Bons e maus (I)

As listas de deputados apresentadas por Manuel Ferreira Leite vieram reinstalar o circo de impropérios sobre os ‘bons e os maus’ corruptos, a propósito de processos judiciários com figuras públicas implicadas. No caso vertente é a condição de pré-julgamento de António Preto pronunciado por crime económico-financeiro que desconheço.

Não é este caso em concreto que está em causa. A indignação está aí na rua e é justa a desolação daqueles que esperavam ter chegado o tempo de acabar com estes equívocos. Afinal, continua tudo igual. Passa-se de vilão a virtuoso conforme a simpatia do chefe político de ocasião. E é por esta degradação já sem pudor que quem vota está farto, desagradado, desiludido e quem é eleito e rejeita práticas criminais graves é metido no mesmo saco que, na gíria, conclui que ‘eles são todos iguais’. Mas não são. A esmagadora maioria das pessoas que se dedica à vida pública, seja qual for o partido, quer servir sem condições e com a alma tranquila. Não querem ser a outra mulher de César que basta parecer e não ser.

Foi o PSD, através de Marques Mendes, quem teve o mérito de lançar o primeiro rebate sobre este estado de cumplicidade entre a aparente seriedade e aparente desonestidade. Mas foi generalista e precipitado. Dramatizou a constituição de arguido, quando tinha a obrigação de não contribuir para essa girândola de loucura que transforma essa figura jurídica que nas suas finalidades últimas protege cidadãos suspeitos de ter cometido um crime por indícios e não por provas. Mas é o princípio de uma discussão séria que não avança. Quem ontem denunciava furiosamente suspeitos, basta estar do seu lado, para logo se tratar como cidadão vulgar. E na verdade não é. Seja eleito, seja funcionário público, perpetuar-se no poder sem que lhe sejam aplicadas medidas restritivas. Assim como é necessário definir o limite em que é suficiente obrigar a comunidade política a suspender funções.

Com alguns amigos, temos vindo a reflectir ao longo dos últimos meses sobre estas desilusões sucessivas que tardam qualquer espécie de renovação e de moralização da vida política e pública. Neste espaço, e até às eleições, vou ocupar-me com a divulgação de propostas que temos considerado. Muitos de nós ficámos cansados dos odores a putrefacção dos cadáveres que a vida nos impôs. E, por isso mesmo, não quero continuar a sentir o mesmo cheiro fétido desta vala comum e ficar calado. Chega de decepções.

Francisco Moita Flores
Professor Universitário

in"correio da manhã"

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