30/08/2009

TANGER

Vista da baía de Tânger, durante o pôr-do-sol.

Tânger (طنجة, transl. Tandja, em berbere e árabe, Tanger em francês) é uma cidade do norte de África, situada junto ao estreito de Gibraltar, onde começa a orla atlântica do Marrocos. É a capital da região de Tanger-Tétouan, e sua população, segundo o censo de 2004, é de 669.680 habitantes.

História

Tânger é uma antiga cidade fenícia, fundada por colonos cartaginenses no início do século V a.C.. Seu nome provavelmente se originou da deusa berbere Tinjis (ou Tinga), e ela continuou a ser um importante centro urbano para os berberes, o povo tradicionalmente nômade nativo da região. Moedas antigas se referem à cidade como Tenga, Tinga e Titga, e autores gregos adotaram diferentes variações do nome.

De acordo com a mitologia berbere, a cidade teria sido fundada por Sufax, filho de Tinjis, esposa do herói berbere Anteu. Segundo os gregos, Anteu seria um gigante, cuja tumba e esqueleto estariam nas redondezas, e alegavam que Sufax seria filho de Hércules com a viúva de Anteu. As "cavernas de Hércules", a alguns quilômetros da cidade, estão entre as principais atrações turísticas; de acordo com a lenda, Hércules teria passado a noite ali antes de realizar um de seus doze trabalhos.

Os romanos chamaram-lhe Tingis, donde advém o adjectivo tingitana para designar esta terra desde a Antiguidade. A cidade passou para o jugo romano no século I a.C., primeiro como uma aliada independente e, posteriormente, sob o imperador Augusto, como uma colônia (Colonia Julia, no governo de Cláudio), capital da Mauretânia Tingitana. Foi o local do martírio de São Marcelo de Tânger.[1] No século V d.C., os vândalos conquistaram e ocuparam a Tingitana, e de lá partiram para a conquista do Norte da África. Um século mais tarde, entre 534 e 682, a região fez parte do Império Bizantino, antes de cair sob o domínio árabe em 702. Devido ao seu passado cristão, ainda é uma diocese titular da Igreja Católica.[2]

Os portugueses tentaram conquistar a cidade em 1437, durante o período henriquino, apesar da oposição inicial do Rei D. Duarte e da desaprovação do infante D. Pedro, as cortes reunidas em Évora em Abril de 1436 votaram os créditos para a empresa. Rui de Pina afirma que na armada havia apenas 6000 homens, número insuficiente para atacar a poderosa praça do Magrebe.

Em Setembro o infante D. Fernando embarcou em Ceuta com destino a Tânger e o exército comandado pelo infante D. Henrique tomou, por terra, a mesma direcção. Os mouros defenderam-se comandados por Sala ben Sala, que era o capitão de Ceuta quando D. João I tomara esta cidade em 1415.

Dia de mercado no exterior das muralhas de Tânger (1873)

Os portugueses, derrotados após a tentativa, deixaram ficar o infante D. Fernando como prisioneiro, uma vez que o seu resgate passava pela devolução da praça de Ceuta aos marroquinos, o que não foi aceite pelas Cortes portuguesas. Por este motivo, D. Fernando viria a falecer cativo em Fez, em 1443, às mãos dos mouros, advindo daí a tradição de lhe ver o seu cativeiro como motivo de santidade, passando a ser conhecido como o Infante Santo.

Em 1458, e antes de atacar Alcácer Seguer, a armada de D. Afonso V esteve dois dias ancorada na baía de Tânger, tendo o rei planeado a sua conquista no que foi contrariado pelo Conselho. Três vezes tentou atacar a famosa cidade, sempre com mau resultado. Em 1471, com a tomada de Arzila, os habitantes de Tânger compreendendo que o objectivo final era a tomada da sua cidade, abandonaram-na. Foi então ocupada por D. João, filho do duque de Bragança no mesmo ano por ordem de D. Afonso V. As relíquias de D. Fernando só então foram recuperadas e solenemente transladadas para o Panteão Régio na Batalha, onde ainda hoje repousam, na Capela dos Fundadores.

No domínio eclesiástico, Tânger pertenceu ao bispado unido de Ceuta e Tânger. Com o início do século XVI, Tânger permaneceria sempre em pé de guerra, interrompida apenas por breves intervalos de tréguas.

Surge então o plano de abandono de algumas praças portuguesas de Marrocos exposto por D. João III, em 1532, ao Papa. No entanto, em 1534, num pedido de consulta aos principais conselheiros do Reino, o monarca demonstra a sua vontade em conservar Tânger como base de ataque ao reino de Fez. As Cortes de 1562-63, reunidas depois do cerco de Mazagão, insistiram pela sua defesa e pediram o reforço da guarnição. Em 1578, por alturas da expedição que viria a partir de Arzila para Alcácer-Quibir, o rei encontrou em Tânger Mulei Moamede Almotoaquil, o xerife deposto por Mulei Abde Almélique.

A cidade permaneceu em mãos portuguesas até 1661, altura em que, ao abrigo do tratado de paz e amizade firmado com a Grã-Bretanha, a mão da princesa Catarina de Bragança, filha de D. João IV, foi cedida em casamento ao rei Carlos II de Inglaterra, levando no seu dote as cidades de Tânger e de Bombaim (na Índia). Uma esquadra desambarcou ali nesse mesmo ano e a guarnição e quase toda a população portuguesa regressaram ao Reino. No entanto o dominio inglês sobre a cidade durou pouco tempo. Em 1679 o sultão Moulay Ismail de Marrocos tenta sem exito ocupar a cidade, mas mantêm um grande bloqueio que finalmente leva à retirada inglesa no dia 6 de Fevereiro de 1684.

Já no século XX, Tânger esteve na base de uma crise internacional que precedeu a I Guerra Mundial, devido ao facto do kaiser Guilherme II da Alemanha aí querer estabelecer os interesses germânicos, chocando com a França, que tentava também controlar o sultanato.

Tânger, zona internacional (1923-56)

Tendo Marrocos tornado-se um protectorado francês em 1912, a cidade acabou por ser declarada zona internacional (administrada pelo Reino Unido, Espanha, França, a partir de 1923 também por Portugal, Itália, Bélgica, Países Baixos, Suécia, Estados Unidos e, desde 1945, União Soviética). Foi depois reunida ao reino de Marrocos, aquando da independência deste último, em 1956.

Património edificado

Em termos de património edificado, a cidade mantém diversos vestígios da ocupação portuguesa em bom estado de conservação, como a antiga fortaleza e igrejas, com destaque para a Catedral de Nossa Senhora da Conceição.

Economia

Tânger vista dum satélite.

Tânger é o segundo centro industrial mais importante do Marrocos, depois de Casablanca, com indústrias têxtil, química, metalúrgica e naval. Atualmente, a cidade possui dois parques industriais, que têm o estatuto de zona franca (ver Zona franca de Tânger).

A economia de Tânger se baseia fortemente no turismo. O número de resorts à beira-mar vem aumentando, com projetos patrocinados por investimento estrangeiro. Companhias do setor imobiliário e do setor de construção civil vêm investindo cada vez mais na infraestrutura turística.

O comércio artesanal na cidade velha (medina) se especializou principalmente em produtos de couro, manufacturas de madeira e prata, roupas tradicionais, e calçados.

A agricultura da área é terciária, e basicamente produz cereais. A cidade experimentou os efeitos do êxodo rural de cidades e aldeias vizinhas. A população quadruplicou durante um período de 25 anos: um milhão de habitantes em 2007, contra apenas 250 000 em 1982. Este fenômeno provocou a aparição de distritos suburbanos periféricos, habitados, principalmente, pela população pobre, que não possui as condições básicas de infraestrutura.

Pessoas famosas nascidas em Tânger

wikipédia

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