Encruzilhadas socialistas
1 O alerta é de Manuel Alegre: um país maioritariamente de Esquerda pode vir a ser governado à Direita. Ou porque PSD e CDS consigam ter mais deputados que a soma das esquerdas, o que ainda parece improvável; ou porque sendo a soma das esquerdas maioritária no Parlamento isso não sirva para nada. Porque "nem o PCP e o BE estão disponíveis nem o PS quer governar com qualquer deles".
Teme Manuel Alegre que, chegando o PS a essa encruzilhada, ou seja, a uma vitória eleitoral com maioria relativa, opte pela viragem à Direita. Seja com a muleta do CDS, sempre ávido de obter uma parcela de Poder, seja com a recomposição do Bloco Central. Faltam dois meses para as eleições legislativas, mas é para esse cenário e para essa batalha que já se prepara Manuel Alegre. Sempre com o PS, mas também contra este PS. Ou seja, contra José Sócrates.
Repare-se noutra frase do artigo de Manuel Alegre publicado neste fim--de-semana no "Expresso": "Os socialistas não podem ter um discurso emprestado. Não se combate o liberalismo ultra com o liberalismo suave. Nem se vence o PSD com ex-ideólogos do PSD". Bem pode José Sócrates fazer de conta que subscreve o que diz Manuel Alegre, tentando que passe a ideia de uma divergência suave e salutar. Não é assim de todo. O grande adversário político de Manuel Alegre é José Sócrates. Um político "ideologicamente colonizado", o líder de uma esquerda "que imita o poder da Direita", o secretário-geral que ouve "opiniões à Direita e esquecendo a sua própria Esquerda", o estratega que preferiu o marketing à política.
2. António Costa conquistou esta semana dois apoios importantes na sua corrida pela Câmara Municipal de Lisboa. Primeiro foi José Saramago, depois Carlos do Carmo. Duas figuras desde sempre ligadas ao Partido Comunista que se juntam, sem hesitações, a uma das figuras cimeiras do Partido Socialista. É provável que ambos não tenham dúvidas quanto à decisão de António Costa, no caso de chegar a uma encruzilhada como a que se avizinha com o resultado das próximas legislativas: a viragem seria para a Esquerda. António Costa jamais se colocará em bicos de pés, mas é cada vez mais evidente que, mais do que um potencial sucessor, é uma alternativa de liderança no PS.
3. Elisa Ferreira há muito que passou a encruzilhada. Está num beco sem saída. Contestada desde o primeiro dia por ser simultaneamente candidata ao Parlamento Europeu e à Câmara do Porto não só não conseguiu retirar esse incómodo tema da agenda, como o viu transformar-se no único e sufocante tema da agenda. As responsabilidades são partilhadas: pela própria, que deveria ter feito uma opção clara que não levantasse desconfianças entre os eleitores; por José Sócrates, porque se lembrou de impedir as duplas candidaturas tarde e a más horas, esquecendo os efeitos colaterais; e por essa estranha gente que faz parte do chamado aparelho, mais interessada em garantir um lugar a Manuel dos Santos no Parlamento Europeu do que em reconquistar a cidade do Porto.
in "jornal de notícias"
É uma pena o PODER toldar a lucidez à maioria das pessoas!
ResponderEliminarParece não ser possível conjugar a arte de exercer o poder com inteligência, sensibilidade e justiça sociais, bom senso!