26/07/2009

5 - ABADIA DE ALCOBAÇA

Congregação Autónoma Portuguesa dos Cistercienses

A daqui consequente Congregação Autónoma dos Cistercienses de São Bernardo de Alcobaça tornou-se no dirigente de todos os mosteiros cistercienses portugueses e o abade recebeu o título de abade-geral da congregação. Tanto a Ordem de Avis como a Ordem de Cristo, a sucessora da Ordem dos Templários em Portugal, estavam subordinados à sua jurisdição. Assim, a abadia de Alcobaça voltou a ser o que era na Idade Média. Embora, entretanto, os habitantes dos coutos se administrassem de forma autónoma, encontravam-se subordinados ao domínio da abadia, sendo obrigados a pagar-lhe tributos. Após a Restauração de 1640, o Mosteiro tinha no rei D. João IV (1640-1660) novamente um devoto, que lhe concedia novos direitos e privilégios. Nestes tempos, houve um alargamento do Mosteiro em dois novos claustros, ligando-se a norte ao primeiro existente desde a Idade Média, o Claustro da Levada, (também apelidado de Claustro do Cardeal ou Claustro dos Noviços), que se iniciou ainda nos tempos do cardeal D. Henrique e terminou em 1636, e o Claustro do Rachadeiro (também apelidado de Claustro da Levada ou Claustro da Biblioteca). A própria parte central do Mosteiro - datada do período da Idade Média -, sofreu profundas alterações, sendo, nessa altura, construída a cozinha nova que ainda hoje em dia impressiona. A partir de 1702, o Mosteiro recebeu a sua magnífica fachada barroca, tendo a igreja obtido os seus dois campanários. Este conjunto ainda hoje dá ao Mosteiro mais o aspecto de um palácio, não revelando absolutamente nada da simplicidade inicial dos cistercienses. Em 1755, a construção terminou com a criação da Biblioteca, sendo esta, naquela época, uma das maiores da Península Ibérica.

As três catástrofes

Claustro da Levada, danos da inundação de 1772

Apesar dos grandes danos causados pela peste, que no ano de 1348 matou, em três meses, 150 monges, pelas inundações (como as de 1437 e 1495) e pelos terramotos(como os de 1422 ou de 1563), a Abadia conseguiu sobreviver. No entanto, houve três acontecimentos que levaram ao final do desdobramento do poder. Na sequência do histórico Terramoto de 1755, tanto a parte sul do Mosteiro como a sacristia foram danificadas. O Colégio de Nossa Senhora da Conceição, pertencente ao Mosteiro e que se encontra, desde 1648, no terreno da Abadia Velha – a primeira abadia provisória-, foi totalmente destruído, acabando por ser integrada nas partes restabelecidas a sul. Os monges fizeram duas procissões ao Santuário de Nossa Senhora da Nazaré, a fim de agradecer à Senhora o tê-los poupado a estragos maiores. Este santuário encontrava-se a 10 km de distância numa localidade chamada Sítio (perto de Pederneira, hoje Nazaré).[11] Contudo, no ano de 1772, algumas partes de Portugal foram destruídas por uma inundação – a grande cheia-, que se presume tratar-se de um tsunami, cujas consequências eram historicamente relacionadas com o terramoto ocorrido 17 anos antes. Embora o Mosteiro se localizasse a 10 km de distância da costa litoral, esta onda gigantesca foi muito mais destrutiva do que aquela que ocorrera em 1755. A parte sul do Mosteiro foi danificada, pela segunda vez, seriamente, deixando outras partes atoladas nas lamas deixadas pela água quando esta recuou. Demorou muitos anos até que as grandes massas de terra – que enterraram a maior parte do muro do Mosteiro-, fossem eliminadas. Ainda hoje, a forma ondulada da fachada Norte, com ca. de 250 m de comprimento, relembra os danos provavelmente causados pela inundação às fundações. Por fim, no âmbito das Invasões Francesas durante a Guerra Peninsular , as tropas napoleónicas entraram em Alcobaça no ano de 1810, saqueando e destruindo várias áreas do Mosteiro e da Igreja.

Encerramento dos mosteiros por parte do Estado

Nos tempos que se seguiram, só foram reparados a ala da fachada ocidental do Mosteiro, a Igreja e os três claustros a norte. Em 1834, a rainha D.Maria II decretou a abolição de várias congregações, conventos e mosteiros em Portugal. O motivo prendia-se com as Guerras Liberais durante as quais surgiram divergências entre a vertente liberal da monarquia. Em 1820, a Revolução Liberal levou ao reconhecimento da primeira Constituição pelo rei, o que foi combatido ferozmente tanto pela casa real, como também por toda a nobreza e pelo clero. D. Miguel I, irmão do rei, principal opositor à Constituição e ao rei, autoproclamou-se como rei opositor. O abade-geral de Alcobaça, tal como o fizeram outros clérigos, tomou posição contra a facção liberal, que exigia o afastamento dos privilégios da Igreja. Em 1834 (Concessão de Évora Monte), venceram os constitucionalistas. Num decreto, relativo ao encerramento dos mosteiros, ficou estabelecido que as suas riquezas revertiriam a favor do estado, à excepção dos objectos relacionados com acções sacras.

Pilhagem do Mosteiro no ano de 1833

Caldeira de 1385

Durante os anos 20, houve nos Coutos de Alcobaça, perturbações políticas, pois o povo ambicionava a libertação do domínio pelo Mosteiro. Esta situação derivava essencialmente das responsabilidades de reconstrução que lhe tinham sido acrescidas devido às catástrofes de 1755, 1772 e 1810. Em 1833 houve, no largo à entrada do Mosteiro, várias batalhas entre as tropas de D. Miguel e o batalhão voluntário dos Coutos de Alcobaça. Este batalhão também participara, em 1834, na batalha decisiva em Évora Monte a favor dos Constitucionalistas. Tanto os monges como toda a Igreja encontravam-se do lado dos Miguelistas e criaram, igualmente, um regimento de voluntários dos Coutos de Alcobaça, batalhando com as tropas de D. Miguel.[12] Entretanto, quando os monges perceberam que os Constitucionalistas estavam a ganhar a guerra, evacuaram o Mosteiro, pela primeira vez em Julho de 1833 e, posteriormente em Outubro de 1833. A 16 de Outubro do mesmo ano, no delírio da liberdade, a população entrou no edifício e saqueou-o durante onze dias. Durante o saque, desapareceram muitos objectos utilitários, de culto e de arte e uma grande parte do acervo da Biblioteca, cujos restos só alguns anos depois puderam ser transferidos para a Biblioteca Nacional de Lisboa. Durante estes tumultos, desapareceram também uma das caldeiras e recipientes de cobre em forma de tacho com um diâmetro de ca. de 1,20m e com a altura de um metro, que os portugueses tinham tomado aos espanhóis em 1385 durante a Batalha de Aljubarrota e que D. João I tinha entregue ao Mosteiro. A outra caldeira pode ser vista na Sala dos Reis. De acordo com algumas informações, os túmulos de D. Pedro e de Inês de Castro terão sido novamente violados. Somente no ano de 1837 é que o estado tomou posse do Mosteiro, passando a controlá-lo.

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