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.Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
23/10/2022
- O misterioso caso de pacientes com alergia a carne - Algumas pessoas desenvolvem de maneira repentina alergias após comerem um pedaço de carne. E isso sem nunca terem manifestado qualquer sintoma parecido antes. Por que será? Graças ao trabalho de um “detetive da ciência”, a causa do problema foi desvendada.
- Por que homens também devem se preocupar com produtos menstruais - A menstruação é um tema evitado por muitos. O fato é que as mulheres menstruam e precisam de produtos sanitários adequados. E homens precisam se preocupar com isso também, afinal a maioria dos produtos menstruais são descartáveis e usam muito plástico. E isso é um problema para o meio ambiente - consequentemente, para todos. Mas já existem soluções, como vamos mostrar neste vídeo do Futurando.
FONTE:DW Brasil
SÓNIA DE SÁ
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Que país é este que, com uma democracia quarentona, continua a dizer aos seus cidadãos que ser rico é poder optar e ser pobre é ter de continuar a sujeitar-se?
Deambulava pelas ruas de Lisboa quando me deparo com uma família em desespero. Entre lágrimas e um aparente pânico generalizado, percebo que o jovem do grupo ali à minha frente teria de desistir do curso e da universidade onde tinha entrado.
Lisboa estava a expulsar um estudante pois não lhe havia destinado um local para residir sem falir o agregado familiar.
O cenário é tanto mais chocante quando percebemos que a selva mercantil em que a habitação em Lisboa se tornou quando se nota uma absoluta impunidade face aos abusos sucessivos de arrendatários e figuras semelhantes.
“Não há quem os trave”, dizia a mãe do estudante em estado de choque. “Pediram-me 600 euros por um quarto minúsculo sem janela e ainda por cima exigiram-nos três meses de renda de avanço”, gritava.
Se para qualquer família da chamada classe média portuguesa é quase impossível dispensar 1800 euros para um investimento mensal – quando os salários não chegam muitas vezes aos 1000 euros – facilmente se entende o desespero da impossibilidade daquela família Rodrigues, cujos salários rondam, em conjunto, os 1400 euros.
Este foi/é o caso dos Rodrigues, cuja decisão foi adiar, por ora, a frequência do jovem Pedro na licenciatura de gestão, já que a capital não é para pobres, diz-lhes o país. Mais dramático ainda é o país dizer-lhe que estudar naquele interior longínquo – a menos de 100 quilómetros da costa – é para os menos “capazes”.
E voltamos à era troikiana: os sacrifícios em tempos de crise são para “todos”, contudo, os mais frágeis (porque “vivem acima das suas possibilidades”, lembram-se?) sofrem sempre mais e os menos frágeis (os ‘duros’ da trama económica) não a sentem tanto.
Estudar, então, é mais um divisor discriminatório: se tem dinheiro fica e prossegue os estudos; se não, fica pelo caminho. Porquê? Porque quando a especulação e os cortes aparecem batem mais rapidamente à porta sem blindagem, como a da família Rodrigues.
Mas que país é este que continua a dizer os seus cidadãos que ser bem-sucedido é ter capacidade financeira? Que país é este que, com uma democracia quarentona, continua a dizer aos seus cidadãos que ser rico é poder optar e ser pobre é ter de continuar a sujeitar-se? Que país é este que diz aos seus habitantes que o litoral é tudo de bom e o interior é o “país real”, ou seja, tudo de mau?
Se é para continuar assim, sugiro que a pergunta mais urgente a fazer aos/às habitantes deste país seja: é português rico ou pobre? É português do litoral ou do interior? Dependendo da resposta, já ficamos a conhecer o destino. Assim seja.
* Professora universitária, Univ. da Beira Interior e Univ. Autónoma de Lisboa.
IN "O JORNAL ECONÓMICO" - 15/10/22.
Mais uma notável produção da RTP
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