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Saúde:
cinco lições para 2022
A taxa de vacinação demonstra a literacia em
Saúde dos portugueses. Mas podemos fazer mais e melhor. E a escola é o
local ideal para, desde cedo, se iniciar um tipo de formação mais
avançada nesta matéria.
Aproximando-se 2022, Portugal deve aprender as lições da pandemia pela Covid-19, sobretudo no setor da saúde.
A
primeira lição é a importância da educação para a saúde e a necessidade
de incrementar os níveis de literacia da sociedade nesta área. Não que
os Portugueses não tenham demonstrado, em geral, um elevado nível cívico
comparativamente a outros povos europeus. A taxa de vacinação demonstra
isso mesmo. Mas podemos fazer mais e melhor. E a escola é o local ideal
para, desde cedo, se iniciar um tipo de formação mais avançada nesta
matéria. Até porque a literacia em saúde tem externalidades muito
positivas noutros domínios como a promoção de estilos de vida saudáveis.
Por exemplo, a nível da alimentação ou da prevenção do tabagismo.
A
segunda lição a extrair é melhorar significativamente o desempenho a
nível da comunicação em saúde. Foi confrangedor assistir a algumas
intervenções de responsáveis do setor chegando mesmo o Presidente da
República, por vezes, a antecipar medidas de saúde pública inevitáveis
como o uso de máscara em espaços públicos. Esta falha de comunicação,
para além da gravidade em si mesma, abriu o espaço público a um número
infindável de “analistas políticos da saúde”, por vezes disfarçados de
peritos, gerando enorme confusão junto da sociedade. Ou seja, é
importante criar uma estrutura credível e respeitada para comunicar a
evidência científica de um modo firme e convincente.
Outra lição
da maior importância no plano político e social é a qualidade da gestão
em saúde. Aprendamos de uma vez que é necessário melhorar a cultura
organizativa nesta área. É certo que o programa de vacinação Covid-19
foi um êxito do qual todos nos podemos orgulhar. É certo o
extraordinário papel dos profissionais de saúde nesta campanha, com
especial relevo para os enfermeiros que com dedicação e profissionalismo
cumpriram a sua missão na vacinação maciça dos portugueses. Mas também é
certo que foi a disciplina e a organização militares – superiormente
interpretadas pelo Vice-Almirante Gouveia e Melo – que permitiram a sua
concretização. Pelo que a lição a tirar é melhorar a formação dos
gestores na área da saúde, nomeadamente em matéria de liderança.
A
quarta lição refere-se à necessidade de planeamento estratégico. O
planeamento a nível de instalações e equipamentos, mas, sobretudo, de
recursos humanos é essencial. A União europeia percebeu isso criando
infraestruturas à escala europeia e constituindo uma reserva estratégica
de medicamentos e dispositivos médicos para não ficar refém de nenhuma
potência estrangeira. Mas, a nível dos recursos humanos, a tarefa tem
que ser a nível do Serviço Nacional de Saúde. Pelo que é necessário
planear a médio prazo (pelo menos uma década), e com rigor técnico, as
necessidades futuras. O que parece não estar a acontecer. É
incompreensível, por exemplo, o desconhecimento da importância da
medicina geral e familiar, e do papel central dos cuidados de saúde
primários. Esta lição não foi aprendida.
A última lição prende-se
com a proteção dos direitos humanos tal como a privacidade individual.
Apesar de terem sido implementadas importantes medidas de saúde pública,
com inegável impacto económico e social, como o confinamento, o
certificado verde digital, ou a vacinação de crianças e jovens, é
preciso promover um debate sério na nossa sociedade entre direitos
individuais e responsabilidade social. Para que no futuro existam linhas
de orientação claras e inequívocas sobre como proceder em situações
limite promovendo a democracia e os direitos humanos, mas também os
deveres de cidadania.
Ou seja, em 2022, esperamos nós na fase
pós-pandémica, a política de saúde deve ser reenquadrada à luz da
experiência de quase dois anos de uma catástrofe global sem precedentes,
mas que tem que obrigatoriamente nos deixar mais fortes e mais bem
preparados.
* Professor Catedrático da Universidade do Porto
IN "O JORNAL ECONÓMICO - 22/11/21
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