.
.
Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
.
Eis o futuro: cidadãos vacinados podem ser infectados e podem transmitir a infecção (tal como os não vacinados), mas vai na mesma haver "certificados digitais covid". Sabem porquê? Porque é fundamental distinguir entre portadores do coronavirus vacinados de infectados não-vacinados. Nesta perigosa gestão política da covid, a discriminação joga um papel essencial - o de criar novas e profundas fracturas sociais, dividir para reinar, atirar o roto contra o nu. No final, alguém que morra contaminado por alguém vacinado não será tão grave nem tão condenável como alguém que adoeça depois de um não-inoculado lhe ter transmitido o virus. Vacinados espalharem a covid é aceitável. Não vacinados fazerem o mesmo?! Nem pensar. Esses são vistos como ameaça a abater.
Ou seja, o passaporte sanitário não resolve nada nem garante sequer o essencial- que o portador está saudável naquele instante. Portanto, o certificado que autoriza a circulação inclusive dentro do país (a versão europeia visa a passagem de fronteiras nacionais apenas), que pretende condicionar até a entrada em lugares públicos ou festas privadas visa criar guetos, enclaves digitais, apartheid. Serve para separar puros de impuros, cumpridores de irresponsáveis, bons cidadãos de má escória. Segregação. A stayaway covid não vingou, mas passou a eufemistica Carta dos direitos humanos na Era Digital, trilhando o caminho dos "selos de qualidade", "carimbos de garantia", o sibilar para as tiranias 2.0, armadas até aos dentes com as novas tecnologias, algoritmos, chips.
O Certificado Digital Covid é mais um pontapé na boca dos portugueses que, entre salários de miséria, falências em catadupa, ileteracia científica, overdoses de medo com lavagens cerebrais, apneias de sono e de vigília, já só querem livrarem-se da pressão de amigos e família, que o deixem passar à vontade, ir de férias, não interessa a que preço, se está certo ou errado, quanto das nossas liberdades públicas fica penhorado. Tem sido assim desde Março de 2020 e assim continuará. Os políticos a mostrarem músculo e punho, a mandar toda a gente para casa com orelhas de burro, a trancar portas, janelas e postigos, a tentar controlar a comunicação social, a regurgitar normas atrás de novas normas patéticas e contraditórias, a rasgar a Constituição e a cuspirem-lhe em cima. Paz à sua alma. Já nem se incomodam em declarar estado de emergência. O estado de direito, passou a ser visto como uma maçada, empecilho que importa arredar lesto como um calhau no caminho.
No fim, com esta novilíngua que vexaria Orwell, armam-se em magnânimos e ainda têm o topete de dizer que o certificado serve para conferir "mais liberdade". Mas é suposto agradecer?! Sublinhe-se que só devolve à liberdade quem a tirou. Em democracia à liberdade é natural, intrínseca, orgânica e consagrada nas leis fundamentais. É um direito humano inalienável. Falar de Liberdade certificada é como falar de alergia acalmante ou de gordura adelgaçante. Um paradoxo. É uma treta.
Eram só quinze dias para achatar a curva e não rebentar o SNS. Depois precisávamos de esperar pela vacina. Agora ela também não é suficiente e levamos ferretes como gado. Qual será o próximo golpe? Vá. Só mais umas semanas. Vai ficar tudo bem.
* Psicóloga clínica
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS" - 27/06/21
.