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Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
03/05/2021
PATRÍCIA AKESTER
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Dia Internacional da Trabalhadora:
Balanço da (des)igualdade de
género após um ano de Covid
A Covid-19 desencadeou uma profunda crise a vários níveis, incluindo qual dano colateral, "o maior retrocesso para a igualdade de género da última década" (Sofia Sprechmann, Secretária-Geral, Care International) - igualdade de género entendida como equidade de direitos, de responsabilidades e de oportunidades entre homens e mulheres, invocando o princípio estabelecido na Declaração Universal dos Direitos do Homem segundo o qual todos os seres humanos nascem iguais em dignidade e direitos, sem distinção de qualquer espécie, incluindo género.
Sinais do que viria emergiram, na União Europeia, com a primeira vaga pandémica, altura em que 2,2 milhões de mulheres perderam os seus postos de trabalho (Instituto Europeu para a Igualdade de Género, EIGE). No plano mundial, 54% das mulheres, que representam 39% da força laboral a nível global, viram-se celeremente desempregadas. Estatisticamente a vulnerabilidade das mulheres sob um ponto de vista laboral tem sido, no quadro pandémico, 1,8 vezes mais elevada que a dos homens (Mckinsey). É certo que mais tarde ou mais cedo a pandemia cessará, mas o desfecho virá de mão em mão com escassez de postos de trabalho e os cargos disponíveis não serão necessariamente atribuídos a mulheres. Atento o facto de que cerca de 50 milhões de mulheres estão, na sequência da pandemia, em situação de extrema pobreza (ONU Mulheres), urge resolver uma questão que tem claramente tonalidades éticas. E se a invocação deste argumento não for suficientemente convincente no âmbito do processo decisório que releva, repare-se que os benefícios económicos advenientes da redução da disparidade de género no mercado laboral são 6 a 8 vezes mais elevados que o custo das medidas requeridas para tal efeito: "agir agora" maximiza a contribuição das mulheres para a economia global, levando a um aumento de USD 13 triliões no PIB global por volta de 2030, isto é, mais 11% do que se nada for feito (Mckinsey).
A disparidade de tratamento não se tem ficado, contudo, pelo despedimento, sendo sentida, também, por quem conseguiu manter o respectivo cargo. Exemplo disso são as exímias cientistas que se encontram na linha da frente do combate contra a Covid-19. Embora colham e analisem dados, delineiem ensaios clínicos, coordenem estudos e aconselhem mesmo decisores políticos, o seu contributo é reconhecido com pouca frequência pelos media, que pendem para epidemiologistas, virologistas e outros profissionais de saúde do sexo masculino (timeshighereducation). Lamentavelmente, a ausência de vozes femininas na discussão pública da pandemia mais não é que uma distorção da realidade, perpetuando a invisibilidade das mulheres na ciência e em posições de liderança.
Acresce que desde Janeiro de 2020 apenas 1/3 dos artigos científicos atinentes à Covid-19 são da autoria de mulheres (British Medical Journal). A diminuição da produção científica das mulheres surge em alturas de confinamento, sendo imputada à distribuição não paritária do trabalho doméstico, quando em confinamento, entre parceiros (Nature). A pandemia revelou o enorme potencial do teletrabalho, tendo, todavia, agravado as responsabilidades não remuneradas das mulheres, sobretudo para as mulheres com filhos cujas idades oscilam entre os 0 e os 5 anos ou que, quando os estabelecimentos educacionais encerram sendo o ensino presencial substituído pelo ensino online, se vêem obrigadas a acompanhar os filhos nas suas "aulas virtuais" (EIGE). Segundo estudos recentes 85% das mães não consegue estabelecer fronteiras claras entre trabalho de foro profissional e familiar, quando em confinamento, com consequente aumento de níveis de exaustão e de ansiedade (Forbes). Note-se que as mulheres tendem a ser resilientes, habituadas que estão, se querem chegar a algum lado, a superar barreiras sobejamente conhecidas relativas a contratação, promoção, salário, carga de trabalho e outras que mais. Séculos de discriminação profundamente enraizada na sociedade, na cultura, na economia e na política a tal obrigaram. No entanto, as batalhas travadas, pré-pandemia, pela igualdade de género não preparam as mulheres, pelo visto, para as disparidades que adviriam da resposta à Covid-19.
Entende-se que os decisores políticos tiveram, em primeira instância, de responder à crítica crise de saúde pública, tendo, contudo, chegado a hora de configurar mecanismos, pelo mundo fora, adequados a outros fins tais como, precisamente, a promoção da igualdade de género que é, saliente-se, uma das tarefas fundamentais do Estado nos termos do artigo 9(h) da Constituição da República Portuguesa. Refira-se que qualquer solução exige, liminarmente, o exame das toxicidades trazidas a lume pela resposta à pandemia e pela adopção de medidas que, mediante as conclusões alcançadas, eliminem as suas nefastas consequências socioeconómicas. Mencione-se, ainda, à cautela, que o remédio não passa pela utilização de uma linguagem não discriminatória de forma (tem sido dito) a neutralizar ou minimizar a especificação do género. Não releva, para mim, e outras pensarão como eu, se se emprega, por exemplo, o termo "filiação" em vez de "filho de" ou "data de nascimento" em vez de "nascido em". A igualdade de género é um imperativo que requer acção e que não depende da promoção de linguagem neutra: "o que importa é saber estar juntos em pé de igualdade" e "desde que as coisas se tornem naquilo que a gente quer é igual dizer meu homem ou dizer minha mulher" (Ary dos Santos). Venham, sim, paridade no reconhecimento do mérito e do árduo trabalho, bem como igualdade de oportunidades e de proventos. O resto é conversa.
* Fundadora do Gabinete de Propriedade Intelectual
IN "DINHEIRO VIVO" - 01/05/21
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2621.UNIÃO
Guetos gigantescos e problemas ambientais
Bloco denuncia situação nas estufas de Odemira
No perímetro de rega do Mira, que abrange os concelhos de Odemira e Aljezur, as estufas proliferam num modelo de agricultura intensiva que compromete o ambiente e que vive da utilização de mão de obra barata, sobretudo constituída por trabalhadores imigrantes instalados em contentores. A resposta do governo a esta situação veio através de uma Resolução do Conselho de Ministro de 24 de outubro, com o qual se estabeleceu um “regime especial” que equipara os contentores a “estruturas complementares à atividade agrícola” por períodos que podem atingir os dez anos.
Foi com esta situação que Catarina Martins se deparou na sua visita a este local. A coordenadora do Bloco salientou a existência de dois problemas diferentes envolvidos, o ambiental e o social.
Em relação ao primeiro, destacou o facto de, numa zona de parque natural, “parecer não haver limite para a instalação de estufas”. Um facto que considera “estranho”, até porque “quem tiver aqui a sua casa e quiser fazer alguma coisa tem de pedir tantas autorizações”.
Para além dos problemas ambientais relacionados ao abuso em área de paisagem protegida, a dirigente bloquista encontra também problemas de “saúde pública” devidos ao uso de pesticidas e outros produtos como plástico das estufas. A falta de água é outra questão ambiental decisiva que se enfrenta nesta zona do Alentejo. A questão, resume, redunda num problema de sustentabilidade.
Catarina Martins esclarece que o partido não tem “nada contra que haja aqui uma atividade económica que se desenvolva, nada contra a importância da agricultura para esta região e para o país”. O que quer é que o “descontrolo” que julga “inaceitável” termine, que haja “limites ambientais claros” e que se “estude qual o limite para este tipo de produção.”
Para além deste problema há um outro causado também por este modelo agrícola. O problema social de uma mão de que “não está a ser integrada”, a quem “falta tudo” e que enfrenta ainda por cima “uma situação muito complicada de rutura de serviços públicos que foram pensados para muito menos população”.
Estas pessoas são alojadas em contentores “quase como se fossem um utensílio agrícola”, o que a coordenadora do Bloco considera “inaceitável” sendo um “atentado aos direitos humanos”. Para além disso é ainda uma “fratura social enorme em Portugal que nunca vimos e não queremos ver”, criando “guetos gigantescos”.
A condição ambiental dos trabalhadores migrantes que trabalham nas estufas contrasta aliás e “viola” mesmo a lei de bases da habitação recentemente aprovada e “que fala explicitamente do conceito de habitação condigna”.
Os contentores surgem a partir de uma “ideia absurda” de que “os imigrantes têm que morar colados ao sítio onde trabalham”, ou seja de que desde acordam até que dormem “estão sempre a trabalhar e não têm nenhuma outra vida para além do trabalho”. O que leva Catarina Martins a questionar: “porque é que quem vem trabalhar para as estufas não pode ir morar para as aldeias e para as vilas que não têm gente, porque é que as pessoas não podem ser tratadas com dignidade?”
Para a coordenadora do Bloco, “Portugal não pode ser um país de trabalho forçado”. E aponta baterias a “quem ganha com este abuso” que “não é quem aqui mora, a população que aqui estava só perde, quem ganha muito dinheiro é quem nem sequer aqui mora e tem uma enorme rentabilidade à custa de abusar da vida das pessoas”.
Governo presta um péssimo serviço ao país
Mas os patrões das estufas não são os únicos culpados da situação. Também a forma como o governo pretende resolver a questão “é do nosso ponto de vista um atentado aos direitos humanos”. A dirigente bloquista refere-se à resolução do Conselho de Ministros que permite que estes empreendimentos agrícolas construam contentores para albergar os seus trabalhadores que, por vezes levam 16 pessoas em cada contentor e 4 em cada quarto, denuncia.
Se “quem aqui quer tirar todo o lucro não se responsabilizando pelas pessoas que aqui traz está a prestar um mau serviço ao país”, também o governo “está a prestar um péssimo serviço ao país” sendo “muito irresponsável” por promover a guetização.
Por isso, o Bloco propõe ao governo “que revogue imediatamente a sua resolução do Conselho dem Ministros e que faça um estudo “que permita um desenvolvimento da atividade económica de forma que respeite o ambiente e os trabalhadores imigrante” que são “necessários porque aqui há muito pouca gente” e devem ser integrados nas comunidades, criando-se “serviços públicos deem resposta”, uma política que alie desenvolvimento económico, sustentabilidade ambiental e direitos humanos, sintetiza.
Nesse sentido, o Bloco questionou já o governo através de pergunta entregue na Assembleia da República sobre “quando é que o Governo revogará o regime excecional e transitório criado no Perímetro de Rega do Mira”, “que medidas tomará o Governo para garantir aos trabalhadores e às trabalhadoras migrantes destas explorações agrícolas o direito à habitação digna” e “para facilitar a sua integração no tecido social e urbano dos municípios onde residem”, “que diligências levará a cabo o Governo para, em articulação com as respetivas autarquias locais, reforçar e adaptar os serviços públicos nas localidades onde residem” e “quais as medidas de promoção de igualdade, de prevenção e de combate a manifestações de discriminação racial e de xenofobia que o Governo pensa implementar nestes municípios e noutros com contextos migratórios similares”.
Imigrantes
Condições de trabalho precárias
na agricultura intensiva no Alentejo
8-AS ORIGENS E A HISTÓRIA
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* Poderia ser apenas um filme romântico francês se não fosse… Tudo. Com direção de Laurent Bouhnik, “Q” – também conhecido como Q Desire – traz a história de Cecile (Déborah Révy) uma garota transtornada pela morte do pai e que literalmente interfere na vida das pessoas com seu modo peculiar de agir. O longa se passa em um contexto social deteriorado pela crise econômica do país e mostra diversas histórias de pessoas aleatórias que ao longo do enredo vão se encontrando.
Escolhi falar de “Q” por conta da temática: o longa discute de forma totalmente inesperada o desejo, o amor e a forma complexa que o ser humano tem de demonstrar sentimentos. Já nas primeiras cenas é possível observar enquadramentos surpreendentes e narrativas que até então parecem desconexas com o resto da trama. Em certos momentos até parece que estamos observando uma pintura, com fotografias tão bem produzidas e cores que remetem sensações únicas. Dependendo do grau de “situação cinema” que o espectador se encontrar, talvez ele sinta e até imagine uma leve brisa soprar da tela, um calor incontrolável e uma espécie de ar carregado de tanta… Luxúria.
Sim, é isso mesmo. A história gira em torno de Cecile, uma jovem que vê no sexo uma forma de escapar da realidade, porém ela nunca está satisfeita. Por conta disso, a moça brinca de seduzir e é praticamente impossível não sentir uma pitada de atração por ela. É importante lembrar também que neste longa a mulher é poderosa. Ela é decidida, autoritária, vai atrás do que quer e faz o que quiser, não importando as consequências. Mas é na relação sexual que ela se mostra vulnerável, delicada e solitária. O desejo, a libido e a sensualidade são explorados efusivamente, com aquele jeitinho que só um trés francês consegue fazer. Não acredito que valha a pena falar dos outros personagens, pois o diretor deixa claro que o espectador precisa conhecer um por um, através dos diálogos rápidos e espontâneos entre cada cena.
Devo confessar que deixei algo importante para falar agora: este longa contêm várias cenas de nudez, sexo (do tipo mais erótico possível até uma mais selvagem) e até conta com pouquinho de ação e cenas non-sense. Por isso, talvez seja mais prudente não assistir com certas pessoas se quiser evitar “vergonha alheia”.
Directed by | Laurent Bouhnik |
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Written by | Laurent Bouhnik |
Starring | Déborah Révy Hélène Zimmer |
Music by | Ernest Saint Laurent |
Cinematography | Dominique Colin |
Edited by | Valérie Pico |
Release date |
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Running time | 103 minutes |
Country | France |
Language | French |
110-CINEMA