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Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
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Começo a ter medo do meu filho e da agressividade com que me trata." Esta é uma queixa cada vez mais recorrente por parte dos pais que são agredidos pelos filhos, por vezes de forma extremamente violenta, pelos motivos mais diversos.
Podemos começar por falar dos pais com maior dificuldade em exercer controlo, que não definem regras nem limites de forma clara e consistente, deixando a criança fazer aquilo que entender, sem balizas ou qualquer tipo de contenção. Este padrão educativo, mais indulgente, contribui para que a criança cresça com a ideia de que tudo pode.
O adulto é visto, não como um modelo, mas sim como um recurso para a satisfação de todos os seus desejos e necessidades. Contrariamente ao que possamos pensar, esta forma de educar não ajuda a criança a crescer de uma forma mais saudável e feliz. Gera, sim, crianças mais imaturas, impulsivas e com maior dificuldade de regulação emocional.
Quando crescem, muitas destas crianças tornam-se adolescentes igualmente impulsivos e com baixa tolerância à frustração, acreditando que as coisas têm de acontecer como eles querem. Decorrentes desta crença, surgem muitas vezes pensamentos negativos e formas enviesadas de ler as situações, a par de comportamentos mais agressivos, face aos pares e, não raras vezes, também aos pais.
Outros jovens apresentam quadros de psicopatologia que podem ser muito diversos, com especial enfoque para a perturbação disruptiva do comportamento. Esta perturbação caracteriza-se por um padrão frequente e persistente de comportamentos de transgressão, com a violação dos direitos dos outros e das principais normas sociais. Estes jovens mostram-se ainda autocentrados, pouco empáticos e sem qualquer arrependimento. O consumo de substâncias (álcool ou drogas) surge muitas vezes de mãos dadas com todas estas dificuldades, facilitando a desinibição do comportamento e a passagem ao ato.
E o que sentem os pais? Os pais sentem-se impotentes, desesperados e frequentemente esgotados, sem conseguirem encontrar uma estratégia adequada para lidar com o problema.
E sentem medo. Isso mesmo, sentem medo dos filhos. Fecham-se no quarto ou na casa de banho, tentam esconder as facas ou outros objetos cortantes e vivem num clima de permanente terror. Aliadas ao medo, surgem a culpa e a vergonha, emoções que mais não fazem do que inibir um pedido de ajuda. A culpa pelo que pensam que poderiam ter feito, ou pelo que não fizeram. E a vergonha face aos outros familiares e ao mundo em geral, por ser este um tema ainda tabu.
É fundamental que os pais reconheçam que existe um problema e peçam ajuda especializada o mais cedo possível, quando os comportamentos agressivos são mais permeáveis à mudança. Pedir ajuda é um ato de coragem que traduz centração no bem-estar dos filhos, e não um atestado de má parentalidade.
* Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS" - 25/03/21
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