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José Rodrigues dos Santos
responde a todas as críticas
𝗡𝘂𝗺 𝗹𝗼𝗻𝗴𝗼 "𝗲𝘀𝗰𝗹𝗮𝗿𝗲𝗰𝗶𝗺𝗲𝗻𝘁𝗼" 𝗲𝗻𝘃𝗶𝗮𝗱𝗼 𝗮̀ 𝗦𝗔́𝗕𝗔𝗗𝗢, 𝗼 𝗷𝗼𝗿𝗻𝗮𝗹𝗶𝘀𝘁𝗮 𝗿𝗲𝗯𝗮𝘁𝗲 𝗮𝘀 𝗰𝗿𝗶́𝘁𝗶𝗰𝗮𝘀 𝗱𝗲 𝗖𝗮𝗿𝗹𝗼𝘀 𝗩𝗮𝘇 𝗠𝗮𝗿𝗾𝘂𝗲𝘀, 𝗜𝗿𝗲𝗻𝗲 𝗣𝗶𝗺𝗲𝗻𝘁𝗲𝗹 𝗲 𝗝𝗼𝗮̃𝗼 𝗣𝗶𝗻𝘁𝗼 𝗖𝗼𝗲𝗹𝗵𝗼 𝗮 𝗽𝗿𝗼𝗽𝗼́𝘀𝗶𝘁𝗼 𝗱𝗼 𝗹𝗶𝘃𝗿𝗼 𝗢 𝗠𝗮́𝗴𝗶𝗰𝗼 𝗱𝗲 𝗔𝘂𝘀𝗰𝗵𝘄𝗶𝘁𝘇 𝗲 𝗢 𝗠𝗮𝗻𝘂𝘀𝗰𝗿𝗶𝘁𝗼 𝗱𝗲 𝗕𝗶𝗿𝗸𝗲𝗻𝗮𝘂.
A propósito dos meus romances O Mágico de Auschwitz e O Manuscrito de Birkenau, e das entrevistas que sobre eles dei, multiplicaram-se recentemente afirmações em tweets
e no Facebook que desencadearam uma nova campanha de ódio. Ainda pensei
em ignorar isto, pois estou habituado a ver práticas de bullying
e intimidação contra tudo o que se atreva a desviar-se do conhecimento
"autorizado", mas acabei por concluir que silenciar-me seria deixar que o
ódio e a mentira prevalecessem e a desinformação prosseguisse. O
problema é que as afirmações falsas são tantas e tão variadas que se
torna exaustivo desmontá-las a todas. Mas como a Sábado
teve o cuidado de publicar algumas com esmiuçado detalhe, respondo uma a
uma às afirmações mencionadas na página online da revista que digam
exclusivamente respeito a matéria factual. Antes de prosseguir, porém, parece-me importante sublinhar que é um absurdo falar sobre o que está em O Mágico de Auschwitz e O Manuscrito de Birkenau sem se ler as obras e apenas com base numa entrevista de vinte minutos. Portanto, leiam-nas primeiro e depois falem.
Comecemos com as acusações de Carlos Vaz Marques, o autor do excerto de
22 segundos da minha entrevista que no Twitter desencadeou a campanha de
ódio.
1. Vaz Marques refuta descontextualizações. "A
alegação de que o excerto de José Rodrigues dos Santos foi
descontextualizada é falsa. Não há mais contexto do que aquele. JRS diz
mesmo que alguém tomou a decisão de recorrer à câmara de gás
considerando que aquela foi uma forma "mais humana" de matar. O que há, à
luz de tudo o que li sobre o tema, é uma grande dose de facilitismo
interpretativo, tornando aquilo que foi uma forma industrial de
extermínio numa decisão de ordem "humanitária". E isso é de um
desrespeito grotesco pela História."
JRS: O excerto televisivo em causa começa comigo a
dizer o seguinte: "A certa altura há alguém que diz..." Este preâmbulo é
crucial e contextualiza o resto da frase. O problema é que os
comentários decorrem como se esse preâmbulo não tivesse sido feito. O
próprio Carlos Vaz Marques ignora-o em absoluto e escreve em dois tweets
irónicos: "As câmaras de gás ou de como os nazis foram afinal bonzinhos
e humanitários em Auschwitz". E: "Transformar o Holocausto, mesmo a
tentar explicar que não havia plano prévio, numa decisão humanitária
exige capacidade ficcional". E ainda diz à Sábado que eu
considero aquela "uma forma ‘mais humana’ de matar". Ora é absolutamente
falso, ridículo e, isso sim, grotesco, atribuir-me tal coisa. Mais
ridículo do que eu sustentar tal absurdo é haver pelos vistos pessoas
que têm suficiente falta de bom senso para achar que eu penso isso. O
que eu disse é que, no processo de decisão que conduziu ao Holocausto,
os nazis invocaram razões humanitárias para conceber os gaseamentos, o
que é muito diferente. Atente-se ao primeiro documento nazi existente a
preconizar explicitamente o extermínio dos judeus. Esse documento foi
enviado de Poznan a Adolf Eichmann a 16 de julho de 1941 pelo oficial SS
Rolf Hoppner, e consultei-o na sua tradução para inglês feita por
Christopher Browning em The Origins of the Final Solution – The Evolution of Nazi Jewish Policy, 1939-1942:
"Existe este inverno o perigo de não se conseguir alimentar todos os
judeus. Dever-se-ia considerar seriamente se não seria uma solução mais
humana eliminar os judeus (dispose of the Jews), designadamente os que não conseguem trabalhar, através de um agente de morte rápida (quick-acting agent). Seria melhor do que deixá-los morrer à fome" (página 321). O documento fala por si mesmo.
2. Irene Pimentel: "Absolutamente chocante a
ignorância e a desfaçatez de José Rodrigues dos Santos. Havia piscina,
escola para meninos judeus, vida quotidiana à qual os prisioneiros se
adaptavam e se habituavam, em Auschwitz-Birkenau? Negacionismo."
JRS: Mas qual ignorância e qual negacionismo? Estão
em causa neste curto parágrafo três factos. Ou são verdadeiros ou são
falsos. Irene Pimentel diz que são falsos. Cabe-me a mim provar o
contrário. Vamos por partes.
- 1) A "piscina". Escreveu Laurence Rees, historiador que fez um documentário para a BBC sobre Auschwitz, no livro Auschwitz – The Nazis and the ‘Final Solution’,
que a chamada "piscina" na verdade "era um tanque de água sobre o qual
os bombeiros fixaram uma prancha improvisada. ‘Havia uma piscina em
Auschwitz para os bombeiros’, confirma Ryszard Dacko. ‘Eu podia nadar
lá’" (página 253). O senhor Dacko era um prisioneiro em Auschwitz,
esclareceu Rees. Como já vi que Irene Pimentel não está a par do
assunto, informo-a que a dita "piscina" se situava no Stammlager. Também
li um texto de um sobrevivente amigo dos sobreviventes Werner Reich,
Dov Kulka e Jan Freund, os três minhas fontes, a mencionar um tanque
usado como piscina no Campo dos Homens, em Birkenau. Se fizer questão,
encontrar-lhe-ei essa fonte. Pode ver imagens da "piscina" do Stammlager
neste link do youtube. O narrador deste vídeo, se se prestar atenção às suas palavras, menciona também a "piscina" de Birkenau.
2) A "escola para meninos judeus". Havia no Familienlager, o Campo das Famílias, conhecido também por Campo Checo, uma skola,
ou escola, animada por Alfred Hirsch, um sionista muito ativo. Freddy,
como era conhecido, era apreciado por todos no campo, incluindo pelos
nazis, sobre quem conseguiu exercer influência e obter melhor
alimentação para as crianças da escola. As referências sobre esta escola
são inúmeras, mas limitar-me-ei a dar este link do holocaust.cz sobre
Hirsch (personagem aliás de O Mágico de Auschwitz e O Manuscrito de Birkenau) que menciona a skola como uma "tentativa notável de criar um pequeno oásis dentro do campo da morte". Troquei emails com dois judeus que frequentaram essa escola e ainda hoje estão vivos, Dov Kulka e John (Jan) Freund.
3) A "vida quotidiana à qual os prisioneiros se adaptavam". Não percebo o
negacionismo sobre este tema por parte de uma historiadora profissional
que escreveu sobre o Holocausto, pois o assunto é abordado por
múltiplos sobreviventes. Disse o sobrevivente do Sonderkommando Eliezer
Eisenschmidt ao historiador israelita Gideon Grief, citado no livro We Wept Without Tears – Testimonies of the Jewish Sonderkommando From Auschwitz:
"Habituámo-nos àquela rotina. Tornou-se absolutamente normal, como se a
vida fosse mesmo assim" (página 231) e "encarávamos os nossos trabalhos
no crematório como empregos normais" (página 232). Shaul Chazan, outro
sobrevivente do Sonderkommando, a unidade dos crematórios, contou:
"Naquele lugar nós retirávamos os cadáveres das câmaras de gás e também
comíamos e bebíamos – com os cadáveres" (página 279). Acrescentou Yaakov
Silberberg, igualmente sobrevivente do Sonderkommando: "Sentávamo-nos
sobre os corpos e comíamos. E bebíamos chá" (página 323). Este pormenor é
descrito em O Manuscrito de Birkenau. Questionei o
sobrevivente Werner Reich sobre este assunto da adaptação e normalização
da experiência em Auschwitz e ele deu-me esta resposta num email datado
de 5 de janeiro de 2018: "Jose, I think you opened a can of
worms. The problem is only that your readership will not be used to
reading this type of gruesome normality. I agree that, the first time I
saw a dead body or killing, I was horrified. Later on, these sights were
part of the scenery, like telegraph poles or milestones."
Importa explicar que a adaptabilidade dos seres humanos a condições
adversas é um tema muito estudado na psicologia e na biologia, e dado
como amplamente documentado. Aliás, a teoria da evolução assenta
justamente no conceito de adaptabilidade e negar a adaptabilidade
natural dos seres vivos é negar o próprio evolucionismo. Não sobrevive
quem é mais forte, sobrevive quem se adapta melhor. É próprio dos seres
vivos, incluindo os seres humanos, adaptarem-se às condições adversas
que enfrentam, e os prisioneiros de Auschwitz não constituíam, como é
óbvio, exceção. Faz impressão, por isso, ver académicos chegarem ao
ponto de negar a evidência. Ignorância minha, Irene Pimentel?
Negacionismo? Lamento, mas claramente não anda a fazer bem as suas
pesquisas...
Irene Pimentel: o senhor Rodrigues dos Santos
diz banalidades e outras coisas que leu como se fossem da sua lavra,
mistura a inquisição, o jihadismo, o gulague e o Holocausto, os
comunistas e os nazis. Com que então o nacional-socialismo vem do
ocultismo? O homem mistura o "homem novo" da revolução francesa com o do
nazismo e do estalinismo.
JRS: O problema destas tiradas é que se tecem em
poucas linhas e desmontá-las leva páginas e páginas. Irene Pimentel
mistura conceitos totalmente diferentes e que eu não relacionei e
torna-se moroso desfiar todo este novelo que ela emaranhou num curto
parágrafo. Tentarei ser breve.
"Inquisição, jihadismo, Gulag, Holocausto, comunistas e nazis". Este
assunto é por mim abordado no quadro da explicação de um problema
famoso colocado por Hannah Arendt em Eichmann in Jerusalem. "O
problema com Eichmann é que precisamente muitos eram como ele e que
muitos não eram nem perversos nem sádicos, é que eles eram, e ainda são,
terrível e horrivelmente normais" (página 276). Quando Arendt falou aí
na banalização do mal não se referia necessariamente ao conceito de que o
mal se tornou banal, mas à constatação de que o mal era perpetrado por
pessoas banais. Muitos sobreviventes do Holocausto disseram a mesma
coisa. "Nada é mais falso do que ver os SS como uma horda de sádicos que
torturava e maltratava milhares de seres humanos por instinto, paixão e
prazer", observou Benedikt Kautsky, uma judia que sobreviveu a
Auschwitz, citada pelo sobrevivente e historiador comunista austríaco,
Hermann Langbein, em Hommes et femmes à Auschwitz, que
consultei na sua tradução francesa. Outro sobrevivente, Ella Lingens,
confirmou a Langbein que a maioria dos SS que operavam a máquina de
extermínio "eram pessoas perfeitamente normais que sabiam muito bem
distinguir o bem do mal" (página 284). Os SS que estavam nos campos não
eram pois necessariamente psicopatas (embora também os houvesse), mas
pessoas normais. Como é possível que pessoas normais aceitassem envolver-se em ações de extermínio?
Essa é a grande questão, o grande mistério suscitado por Arendt e que
tantas pesquisas alimentou até no ramo da psicologia. Sem invalidar
outras explicações, a solução, parece-me a mim, é dada por Aleksandr
Solzhenitsyn no seu O Arquipélago de Gulag, o livro que lhe
valeu o Prémio Nobel e que fala do complexo concentracionário comunista
na União Soviética com base na sua experiência pessoal e na de duzentos
outros sobreviventes. A obra aborda extensivamente as matanças em massa
que decorriam nos campos comunistas, a fome, as torturas e a
escravização de milhões de pessoas (muitas delas detidas por sistemas de
quotas), para Solzhenitsyn chegar a esta conclusão (que
significativamente faz a epígrafe de O Manuscrito de Birkenau):
"Para fazer o mal, a primeira coisa necessária é acreditar-se que se
está a fazer o bem" (página 77). Essa é, na minha opinião, a resposta
para o mistério suscitado por Arendt sobre o facto de o Holocausto ter
sido cometido por gente banal: os nacional-socialistas acreditavam que
estavam a fazer um mal provisório em prol de um bem maior algures no
futuro. Uma escatologia messiânica. Faziam o genocídio em segredo, pois
tinham a noção de estar a fazer o mal, mas acreditavam que o bem final
os absolveria desse mal. Este tipo de escatologia messiânica encontra-se
em obra igualmente em outros sistemas de ideias que envolveram matanças
generalizadas, como a Inquisição, o jihadismo e o comunismo (o objeto
original da citação de Solzhenitsyn). Quando provocavam a morte de
hereges, infiéis ou burgueses e kulaks, estes sistemas de
ideias faziam-no na convicção de que, embora fizessem momentaneamente o
mal, era por um bem superior que viria algures num futuro melhor. Isto
tinha suporte doutrinário. Vejamos, por exemplo, o caso do marxismo.
Friedrich Engels escreveu que se deveria usar "absoluta impiedade" na
revolução, pois um dia essa violência impiedosa seria compreendida e até
elogiada. "Até ao momento em que o mundo esteja capaz de passar um
julgamento histórico sobre este tipo de coisas, seremos encarados não
apenas como bestas brutas, o que é irrelevante, mas também como bête
(estúpidos), o que é pior", escreveu Engels, para concluir que "a
reabilitação do nosso partido pela história estará assegurada
antecipadamente pela nossa literatura" ("Engels to Joseph Weydemeyer In
New York", 12 de abril de 1853, Marxist Internet Archive,
www.marxists.org.). Se fizer questão posso também dar exemplos do
jihadismo. Está claro agora o sentido da minha referência à Inquisição,
ao jihadismo e ao comunismo? Fi-lo simplesmente no quadro de uma
explicação sobre escatologias messiânicas nas quais o
nacional-socialismo se enquadra.
"O nacional-socialismo vem do ocultismo". O nazismo tem várias
fontes intelectuais e uma delas, embora não a única nem a principal, é o
ocultismo. As lendas e mitos germânicos e conceitos ocultistas da
teosofia, antroposofia e ariosofia desempenharam o seu papel ao gerar um
racismo bizarro, assente até no sobrenatural. Os nazis inspiraram-se em
teorias extravagantes dos movimentos ocultistas da época para
reivindicarem, com absoluta sinceridade, que os alemães eram um povo
divino porque descendiam dos sobreviventes de Thule, ou Atlântida, eles
próprios de origem divina, e que tinham sofrido alguma degeneração por
se terem cruzado com povos de pele escura, considerados demónicos.
Haveria assim uma luta entre a Luz, representada pelos loiros arianos de
origem divina, e as Trevas, cujos soldados eram os povos escuros
luciferianos, em particular os judeus. O grande projeto racial dos nazis
passava por retomar a pureza da raça alemã, de modo a recuperar a sua
natureza divina e assim resgatar a humanidade das trevas, e isso
requeria eliminar as raças demoníacas, sobretudo a judaica. Estas ideias
esotéricas eram sobretudo perfilhadas por Himmler e Hess, embora fossem
igualmente abraçadas por outros líderes nacional-socialistas, incluindo
Hitler, que no Mein Kampf afirmou, numa declaração com
aparentes tonalidades místicas, que a política racial permitiria aos
alemães "atingir esferas que se situam para lá da Terra", pois o ariano é
"o Prometeu da humanidade" e "se fosse forçado a desaparecer uma
profunda treva abater-se-ia sobre a Terra; em poucos milhares de anos a
cultura humana extinguir-se-ia e o mundo transformar-se-ia num deserto".
Este esoterismo racista levou mesmo o ex-nazi Hermann Rauschning a
escrever que Hitler tinha a "convicção de que o homem existe num
qualquer tipo de associação mágica com o universo" e alegadamente a
definir o nacional-socialismo como "socialismo mágico", posição também
sustentada por Thomas Mann. "As tendências fascistas", escreveu o grande
escritor alemão, "estão impregnadas de magia". Eu sei que tudo isto é
bizarro e suscita estranheza. Porém, faz parte da História, das origens
intelectuais do nacional-socialismo, da sua ideologia – e do tema da
minha obra. Escolhi este tema justamente por o misticismo nazi ser
largamente desconhecido do grande público e entendo que a ficção serve
para tocar em temas tabu ou menos conhecidos. Não quer isto dizer que o
nacional-socialismo e a Shoah se reduzissem ao misticismo (como Irene
Pimentel bizarramente afirmou que eu estava a fazer). Estou apenas a
dizer que o misticismo desempenhou um papel na ideologia nazi e no
Holocausto.
O "homem novo". Desde a Revolução Francesa, quando Robespierre
apareceu com o conceito do "homem novo", que a ideia fez o seu caminho.
Os comunistas quiseram erguer o "Homo sovieticus", os fascistas o "homem
novo italiano", os nacional-socialistas o "super-homem", ou "Übermensch".
Em todos eles o grande projeto sempre foi o de erguer o homem novo – e
era esse afinal o próprio projeto da eugenia. No nacional-socialismo
isso foi tentado pelo caminho racial e místico, no comunismo e no
fascismo pelo caminho social. Para todos os efeitos, estamos perante um
objetivo demiúrgico, pois em todos, e cada um da sua forma, a ideia
última era construir um homem novo, um homem mais perfeito, um homem
superior.
Irene Pimentel: "Só para esclarecer: em
Auschwitz-Birkenau (destinado a matar todo os judeus e ciganos para lá
deportados, com excepção dos jovens saudáveis escolhidos na "selecção",
enviados para o campo de trabalho escravo para judeus de Buna-Monowitz)
não tinha piscina (para quê?). Onde havia uma piscina (aliás não usada
pelos prisioneiros), escola, sala de concertos de fachada e algumas
famílias ficavam reunidas era no campo de concentração de Theresienstadt
(Terezin), na antiga Checoslováquia ocupada pelos nazis, e que serviu
de "gueto-modelo para judeus" (qualificação dos próprios nazis),
utilizado para efeitos de propaganda nazi (por exemplo, para a Cruz
Vermelha). Há um filme nazi feito ali com esse propósito. Para esse
campos foram enviados inicialmente judeus intelectuais checos ou
personalidades de relevo. O destino final deles foi depois a deportação
para os campos da morte, nomeadamente Birkenau. As famílias checas
(familienlager) e ciganas (Zigeunerlager) não foram logo, à chegada
(como era habitual) enviadas para as câmaras de gás mas permaneceram em
casamatas até serem depois assassinadas."
JRS: Quando se desmente algo dá um certo jeito não se desmentir a verdade.
1) Diz Irene Pimentel, "só para esclarecer", que em
Auschwitz-Birkenau "não havia piscina", mas já lhe demonstrei que havia.
Recordo o livro atrás mencionado de Laurence Rees, o historiador que
fez o documentário sobre Auschwitz para a BBC, quando descreveu
a dita piscina como "um tanque de água sobre o qual os bombeiros
fixaram uma prancha improvisada. ‘Havia uma piscina em Auschwitz para os
bombeiros’, confirma Ryszard Dacko. ‘Eu podia nadar lá’" (página 253).
Dei-lhe ainda o link para o youtube com imagens dessa piscina. E mostrei-lhe que também havia referências a outra piscina, esta em Birkenau.
2) Diz igualmente Irene Pimentel que Auschwitz-Birkenau estava
"destinado a matar todos os judeus e ciganos para lá deportados", com
exceção dos saudáveis que iam para Monowitz. Está a confundir coisas.
Auschwitz I era um campo de concentração com uma câmara de gás
rapidamente desativada, pelo que a sua função não era o extermínio de
judeus e ciganos (apenas o foi num curto período). Auschwitz II, o nome
oficial de Birkenau, tinha 4 crematórios com câmaras de gás, sendo,
portanto, de facto um campo de extermínio, mas a maior parte do seu
espaço físico era reservada para campo de trabalho ou de concentração.
Em particular o Campo das Mulheres e o Campo dos Homens, tal como o
Mexiko, albergavam prisioneiros que trabalhavam em Birkenau ou em
sub-campos adjacentes. Portanto, Birkenau era um campo de extermínio e
um campo de concentração e de trabalho. E as dezenas de sub-campos que
integravam o complexo de Auschwitz eram campos de trabalho, incluindo
para experiências de agricultura biológica, para o fabrico de cimento,
para o fabrico de armamento, etc. Um campo de extermínio não precisava
de muito espaço. Veja-se Treblinka, por exemplo, que tinha apenas um
único edifício, um crematório com câmara de gás. Apesar de
incomensuravelmente mais pequeno fisicamente do que o gigantesco
complexo de Auschwitz, em Treblinka mataram-se quase tantas pessoas como
em Auschwitz. Para matar não era preciso muito espaço, mas para
concentrar prisioneiros era-o. É por isso que Auschwitz era vasto.
Era-o, não por ser um campo de extermínio, mas por ser também um campo
de concentração e de trabalho. Julgo que Irene Pimentel sabe isto, mas
presumo que se tenha exprimido mal.
3) Porém, ao contrário do que Irene Pimentel diz, os que sobreviviam à Selektion na Judenrampe
não iam todos para Monowitz. Uns ficavam em Birkenau, outros iam para o
Stammlager, outros para as dezenas de sub-campos existentes no
complexo.
4) Quanto a Theresienstadt, o que escreveu é correto, mas em nada me
desmente. Pelo contrário, o meu romance ilustra-o, pois uma parte da
ação decorre justamente em Theresienstadt. Aliás, Freddy Hirsch começou
por abrir a sua escola em Theresienstadt e quando foi para Birkenau
abriu-a também no Campo das Famílias. Pelo como escreveu, reconhecendo a
existência da skola em Theresienstadt mas pondo em dúvida que ela existisse em Birkenau, depreendo que isto seja novidade para Irene Pimentel.
João Pinto Coelho: Cito-o: "A
minha ideia era transportar o leitor de Portugal, em 2020, para
Auschwitz, em 1944. De tal maneira que as pessoas estão a ler o romance e
a certa altura já não estão aqui, estão lá, naquele tempo. Estão a
sentir os cheiros, as cores, a visão, as emoções, como se estivessem lá.
"Uma proeza para qualquer autor, mais ainda nunca lá tendo estado.
Censuro-o por isso? Essa agora! Mas estranho como suportou não fazer
essa visita. Já eu não sosseguei enquanto não fiz a viagem. E mesmo
tendo lá ido quatro vezes, de ter passado dias a fio a trabalhar nos
antigos campos, de atravessar sem pressas a mata de bétulas de Birkenau,
ou de caminhar, por vezes à noite e quase sempre sozinho, entre os
barracões do Stammlager, nunca concebi os cheiros ou as emoções de quem
lá sobreviveu ou fez tudo por isso. Muito menos tentei descrevê-los. Mas
cada um faz o que pode e, sobre isso, nada a dizer."
JRS: Meu caro João Pinto Coelho, "sobre isso nada a dizer"?! Se não
tem "nada a dizer", porque o disse? Tamanha sonsice não lhe fica bem e,
se me permite, derrota os seus propósitos.
A questão da visita a Auschwitz. O João terá os seus métodos de
trabalho, eu tenho os meus. Só visito os sítios depois de pesquisar e
escrever sobre eles, pois assim tenho um olhar mais educado sobre o que
estou a ver. Quando vou ao local é apenas para introduzir pequenas
correções. Sempre procedi assim e já o expliquei em várias entrevistas a
propósito de outros romances. Desta vez, porém, não foi possível ir ao
local por causa da pandemia. O João Pinto Coelho "nunca" concebeu "os
cheiros e as emoções de quem lá sobreviveu" nem tentou "descrevê-los".
Foi uma opção. Eu concebi e descrevi, e fi-lo com base nos múltiplos
testemunhos que nos chegaram. Ou pensa o João Pinto Coelho que o cheiro
de Birkenau em 1944 se reproduz no Século XXI com um passeio pelas
bétulas da mata da vizinhança? A minha técnica de investigação foi
amplamente comentada pelo rabino Shlomo Pereira. Se quiser faço-lhe
chegar o vídeo, o rabino é um excelente comunicador e explicou bem como
fiz para "conceber os cheiros e emoções" que tanto o perturbam.João
Pinto Coelho sugere ainda que talvez não seja muito exata a história que
José Rodrigues dos Santos conta na entrevista da RTP, que teve a ideia
para estes dois livros depois de ter conhecido em 2017 um mágico num
espetáculo de Luís de Matos na RTP e que era um sobrevivente
de Auschwitz. "Igualmente não censuro JRS por dizer que nenhum autor
português escreveu sobre o assunto, muito menos que se esqueça das
perguntas que me fez quando me entrevistou num Telejornal em outubro de
2017 - pelo que vejo agora, apenas quatro dias antes da epifania que o
levou a escrever os dois romances sobre Auschwitz."
JRS: Ó meu caro João Pinto Coelho, então está a
insinuar que eu conheci o Werner Reich no programa do Luís de Matos
porque dias antes o entrevistei a si? Este é o seu momento de humor,
certo? Se a ideia é essa, parabéns: resultou. Nem vou explorar mais este
faux pas. Quanto a eu ter dito "nenhum autor português
escreveu sobre o assunto", o que eu disse na entrevista à RTP foi que
"não estou a ver nenhum autor muito conhecido que tenha ainda tratado o
tema", mencionando José Saramago e Lobo Antunes. Já vi que se considera
nessa categoria, e não o vou desmentir porque acho muito bem que seja um
homem confiante e que acredite em si e nas suas capacidades (fossem
todos assim e tudo seria melhor, e com isto não estou a ser irónico),
pelo que neste ponto só me resta apresentar-lhe as minhas desculpas
(também sem a menor ironia). Tem razão, injusticei-o. O João Pinto
Coelho escreveu romances sobre Auschwitz. A verdade é para se dizer e os
erros para se corrigirem.
Também não o critico pelas gafes – logo eu, que me espalho tantas vezes-, mesmo quando nos diz: 'Os
nazis tinham 50 campos de concentração, que é uma coisa gigantesca, e
os comunistas, na Rússia, tinham 500! Eram dez vezes mais.' Classificar
Auschwitz como um campo de concentração é uma imprecisão muito mais
comum do que afirmar que os nazis tinham 50 campos. Infelizmente o
número foi superior, dolorosamente superior: mais de 44.000, somados os
campos de concentração e guetos, campos de trabalho, de trânsito, de
extermínio, etc."
JRS: Diz que não critica mas logo a seguir critica. A sonsice é, decididamente, um traço seu. Vamos por partes.
- O João Pinto Coelho começa por regressar ao tema das classificações
dos campos. "Classificar Auschwitz como um campo de concentração é uma
imprecisão", diz corretamente. Auschwitz era simultaneamente campo de
concentração, campo de trabalho e campo de extermínio. Na entrevista
usei a expressão mais simples e comummente conhecida, como é natural.
Uma entrevista para o grande público não é, porém, o local para lidar
com questões técnicas, parece-me a mim, pelo que considero o detalhe
mais adequado a outro contexto.Quanto aos 44 mil campos de concentração,
confesso que fiquei intrigado pois 44 mil KL é, convenhamos, imenso. Os
nazis tinham 44 mil campos com Largerfuhrer, Sturmbahnfuhrer, Rapportfuhrer, Kapos, Blockaltesten e tudo o mais? Isso é uma legião! Fui verificar no livro de Nikolaus Wachsmann. Em KL – A History of the Nazi Concentration Camps
(já agora, vá criticar o Wachsmann por no título incluir Auschwitz na
classificação de campos de concentração) escreveu ele sobre os campos
que começaram a aparecer em 1933: "Os sítios (de detenção) eram geridos
pelas diferentes autoridades locais, regionais e estatais, e tinham
todos os formatos e tamanhos. Um punhado operou durante anos, mas a
maioria fechou após apenas poucas semanas ou meses. As condições
variavam também enormemente, desde o inofensivo ao que ameaçava a vida:
alguns prisioneiros não sofreram nada enquanto outros eram
permanentemente agredidos (violated). Vários dos novos sítios
eram chamados campos de concentração, mas este termo era ainda aplicado
de forma liberal" (página 33). Na página 37 esclareceu Wachsmann que
"frequentemente os energúmenos nazis levavam poucos minutos a arrastar
as suas vítimas para um desses campos, normalmente grandes bares das SA,
apartamentos privados ou as chamadas casas-SA". A seguir deu o exemplo
de um prisioneiro que ficou um dia num apartamento e uns dias num bar.
Ou seja, para o João Pinto Coelho e para os nazis um campo de
concentração era um apartamento privado, talvez umas águas-furtadas,
onde detinham um prisioneiro durante umas horas ou uns dias ou umas
semanas. Mas quando eu falo de campos de concentração, meu caro, não é
disso evidentemente que estou a falar. Se fosse, não diria que os
comunistas só tiveram quase 500 campos de concentração, falaria em
milhares e milhares de campos na URSS, pois segundo esse critério
bastava a Checa, ou o NKVD, ou o KGB deter alguém num apartamento
durante umas horas para esse espaço passar a ser classificado como campo
de concentração e o detido tornar-se automaticamente um zek.
Desculpe, isso para mim não faz sentido nenhum. Por exemplo, Auschwitz
tinha na verdade dezenas de campos, não era só o Stammlager, Birkenau e
Monowitz, mas todos esses campos eram designados sub-campos, não campos.
Quando falo em campos de concentração não me estou, pois, a referir a
umas águas-furtadas ou a uns bares ou mesmo a um sub-campo, estou antes a
referir-me a um espaço complexo cercado por arame fartado, vigiado por
sentinelas em miradouros, com holofotes, um Lagerfuhrer e respetiva corte de Rapportfuhrer, Blockfuhrer, Kapos, Blockaltesteren,
etc. O problema aqui não é que eu tenha dito uma coisa errada e o João
Pinto Coelho uma coisa certa ou o inverso, mas que estamos a falar de
coisas diferentes. Por favor, não confundamos as pessoas com dados
enviesados, comparando coisas que não têm comparação.
O João Pinto Coelho escreveu romances sobre Auschwitz. A verdade é para se dizer e os erros para se corrigirem.
Finalmente, um último exemplo do texto de João Pinto Coelho. "Há mais e há pior. Atente-se:
'Nós
vemos no livro que há ali uma máquina que está montada e que é quase
como quem vai para o trabalho. Aquilo é um trabalho, portanto, eles vão
lá fazer um trabalho. (…) Chegou ao ponto de terem um bordel no campo
para os prisioneiros (…) tinham uma piscina para os prisioneiros, (…)
tinham uma escola para as crianças judias no Familienlager, em Birkenau.
Por outro lado, o ser humano tem uma enorme capacidade de se adaptar às
situações.
"Adaptar a quê? A Auschwitz? Terá JRS lido Primo
Levi? No lager, a única adaptação possível é a abreviatura da morte, os
Muselmänner. Não. Eles não vão lá fazer um trabalho, vão lá para morrer.
Por cada transporte que chegava a Birkenau, a maior parte era
imediatamente conduzida para as câmaras de gás. Os que ficavam
trabalhavam como escravos até morrerem também. Não iam para a piscina e
mesmo os bordéis criados nalguns campos para "premiar" os mais
produtivos não passavam de um embuste, um lugar de humilhação para os
prisioneiros, ou mais um exemplo do cinismo e crueldade dos nazis.
Oiçam-se as vítimas, pela voz de uma de muitas - Jozef Szajna: «Os
bordéis eram apenas mais uma forma de os SS atormentarem os
prisioneiros. Todos os que pensam que o bloco 24 era uma espécie de
prenda para os prisioneiros, não fazem a mínima ideia do que foi
Auschwitz."
JRS: De novo por partes. O João
Pinto Coelho entende que não é possível a um prisioneiro "adaptar a"
Auschwitz a não ser pela "abreviatura da morte", e para isso invoca o
testemunho de Primo Levi. Nega portanto os múltiplos testemunhos de
muitos outros sobreviventes, nega os estudos de psicologia que abordam a
adaptabilidade dos seres humanos a condições adversas e nega a teoria
da evolução que atribui à adaptabilidade um papel central na evolução.
Um verdadeiro negacionista. A adaptação a condições adversas é algo
amplamente documentado pela ciência, como já expliquei em resposta a
Irene Pimentel, e, a não ser que ache que Auschwitz abriu
miraculosamente uns parênteses na condição humana, é evidente que em
Auschwitz ela inevitavelmente existiu. Fico espantado como ainda se
tenta negar uma coisa tão evidente.
No que diz respeito à frase "eles vão lá fazer um trabalho", o reparo de
João Pinto Coelho é compreensível e eu esclareço rapidamente. Quando eu
disse "que é quase como quem vai para o trabalho", não me referia aos
prisioneiros mas aos SS, como me parece óbvio. Muitos SS encaravam
Auschwitz como uma espécie de emprego, incluindo com máquina
burocrática. Está claro agora? Isto sem embargo de haver sobreviventes
que diziam a mesma coisa, vide a resposta de Eliezer Eisenschmidt a
Gideon Grief: "encarávamos os nossos trabalhos no crematório como
empregos normais" (página 232).
Quanto aos "Muselmanner", o João Pinto Coelho está a falar de um
conceito que nem toquei na entrevista, mas que desenvolvo na minha obra.
Leia-a, se quiser. Esclareço-o apenas que "a maior parte" dos gaseados
em Birkenau não eram, ao contrário do que sugere, Muselmanner. Nem tente
argumentar o contrário, mas dou-lhe uma pista: quantos das centenas de
milhar de gaseados da Aktion Hoss, por exemplo, eram Muselmanner?
Por
fim os bordeis como punição, "um lugar de humilhação" nas palavras de
João Pinto Coelho. Ouviu o sobrevivente Jozef Szajna dizer que os
bordeis eram "mais uma forma de os SS atormentarem os prisioneiros".
Aceitamos o testemunho, claro. Na verdade Szajna em nada desmente o que
eu disse nas entrevistas e escrevi na obra. Esperaria até que abordasse a
questão das prisioneiras que no bordel serviam como prostitutas, mas
como não as mencionou não irei por aí (leia O Mágico de Auschwitz,
elas são aí abordadas). É importante, contudo, perceber que nem todos
os prisioneiros masculinos encaravam o bordel como uma tormenta, para
mais vivendo em condições péssimas e embrutecidos pela experiência do
campo. Eugen Kogon, um historiador alemão e sobrevivente cristão de
Auschwitz, escreveu no seu livro L’État SS, que li na tradução
francesa, que "o objetivo desta iniciativa (o bordel) era corromper os
detidos políticos cuja influência se tornava dominante no campo" (página
209). Mais esclareceu Kogon que os prisioneiros pagavam "dois marcos de
entrada" (página 209). Outro sobrevivente, o historiador comunista
austríaco Hermann Langbein, escreveu no seu livro já citado que "os
detidos, salvo os judeus a quem tal era interdito, compravam o direito
de frequentar os bordeis através de bilhetes entregues em função do seu
trabalho" (página 397). Os bordeis não eram necessariamente punições,
meu caro. Eram concebidos como um prémio para os prisioneiros masculinos
que se portavam bem (segundo os padrões das SS, claro). Escreve
Laurence Rees no seu Auschwitz – The Nazis and the ‘Final Solution’:
"Himmler decidiu que fornecer bordeis à rede de campos de concentração
iria aumentar a produtividade dos prisioneiros ‘empenhados no trabalho’ (‘hard-working’ prisoners),
excluindo os judeus, oferecendo-lhes assim um incentivo para
trabalharem mais" (página 249). Com isto não estou a dizer que acho o
bordel um prémio (como decerto será apressadamente dito se eu não fizer
este esclarecimento), mas que os SS conceberam o bordel como um prémio e
que decerto a generalidade dos prisioneiros masculinos que o
frequentavam assim o encaravam (de tal modo que pagavam de livre vontade
dois marcos para lá ir, pois a ida ao bordel não era compulsiva mas
voluntária e apenas acessível a quem se "portava bem"). Rees entrevistou
até um prisioneiro polaco, Józef Paczynski, que afirmou ter-se "rido"
(página 250) quando soube do bordel, e foi um frequentador do dito
estabelecimento, tendo descrito a Rees em pormenor o que aconteceu
quando lá foi da primeira vez e conheceu uma "rapariga bonita e
elegante" (elegant, good-looking girl) (página 250). Concluiu João Pinto Coelho: "todos
os que pensam que o bloco 24 era uma espécie de prenda para os
prisioneiros, não fazem a mínima ideia do que foi Auschwitz". O João
faz?
IN "SÁBADO" - 08/12/20
* Raríssimas são as vezes que damos opinião sobre os textos dos autores que escolhemos, hoje sentimo-nos obrigados.
José Rodrigues dos Santos é escritor que lemos com gosto, respeitamos e acreditamos nos seu esforço de pesquisa para criar as ficções que nos fazem perder no tempo o tempo.
Estranhamos que os seus livros despertem tanta dor de corno de intelectuais que no conjunto das suas obras vendem menos que um só livro de JRS.
Desiludidos ficámos com o sr. Daniel Oliveira que no programa "EIXO DO MAL" falou de JRS como uma pessoa que gosta de vender livros, a memória de seu pai, notável escritor, devia suscitar-lhe mais respeito para com quem escreve com decência.
No mesmo programa Pedro Marques Lopes chama desonesto por outro motivo ao analista acima citado.
Já abaixo proporcionamos em link a verborreia da inveja.
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