Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
05/06/2019
TERESA TEMUDO
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IN "VISÃO"
03/06719
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Até ao fim
A Maria começou a tossir e,
em seguida, fez uma hiperextensão do pescoço, seguida de esgares
horríveis com a face, os olhos arregalados, emitindo sons de alguém que
está a sufocar. A mãe imediatamente tirou aquele corpo adulto da cadeira
e, usando toda a sua força, suspendeu-a de cabeça para baixo,
comprimindo-lhe o tórax. O (ficcionado) drama de Maria, pela
neuropediatra Teresa Temudo
Marquei
a consulta para a última hora da tarde, de forma a poder estar com eles
o tempo que fosse necessário. Vinham de trabalhar, impecavelmente
vestidos. Um casal jovem, elegante, inteligente e bem sucedido. Até
àquele momento.
O diagnóstico não tinha sido fácil. Eu
tinha sido a última de uma série de médicos naquele ano. Ela começara a
aprender menos bem e a fala tornara-se menos compreensível. Colhendo bem
a história, já em pequena nunca conseguira andar de bicicleta sem
rodinhas e tivera sinais de desequilíbrio, que entretanto se agravaram
lentamente. Quando a mim recorreram, vinham já um pouco desesperados mas
ainda com alguma esperança de nada ser de grave. Tinham agora percebido
pelo meu telefonema, quando os convocara para a consulta, que o
diagnóstico era mau. Vinham tensos e não se olhavam.
Decidi ir direta ao assunto e disse-lhes que a filha tinha uma doença degenerativa do sistema nervoso central.
-Há tratamento, doutora? - perguntou o pai.
Não,
tive que responder. Apenas tinha aparecido recentemente um novo
fármaco, caríssimo e não comparticipado pelo Estado, que parecia atrasar
a progressão dos sintomas. Em Portugal ainda nenhum doente o usara.
Atirou em seguida outra pergunta, como uma bala.
-Quem transmitiu a doença? Eu ou a mãe?
Tinham
sido os dois, embora nenhum fosse doente. Em tantos milhões de
parceiros prováveis, tinham escolhido o errado. Fez-me ainda imensas
perguntas em que tentava obter respostas precisas e numéricas. Era
professor de física e, para ele, tudo era mensurável e passível de
previsão e resolução. Tinha que haver um tratamento. Impossível não
existir. Ele ia consegui-lo. Como podia aquilo acontecer à sua filha?
Porquê? Olhava-me agressivamente. Eu era a mensageira da má notícia.
Penso
que comecei a demonstrar algum desconforto na minha não resposta a
todas aquelas questões matemáticas. A mãe, uma senhora com um ar contido
e um nadinha rígido, vestida com um tailleur azul-marinho, camisa
branca e colar de pérolas, mantinha-se imóvel, as lágrimas a
escorrerem-lhe silenciosamente de uns olhos postos em mim. A um momento,
não podendo mais, interrompeu o marido e disse:
- Isto para nós está a ser um horror de sofrimento, mas imagino também a sua dor, ao ter que nos dar esta notícia.
Aquele
momento em que ela, intuitivamente, estabeleceu uma relação empática e
cúmplice comigo, imprimiu o cunho a uma relação que iria durar para
sempre.
II
A partir daquele dia o pai
lutou incansavelmente, através de todo o capital social de que
dispunha, para conseguir o novo fármaco para a filha. O diretor do
hospital acordou, apesar do preço do fármaco ser exorbitante, em
fornecê-lo gratuitamente à doente. O pai passou a centrar todos os seus
esforços no estudo da doença e nos efeitos do novo fármaco. Começaram a
manifestar-se os efeitos laterais: diarreias e intolerância alimentar
que provocaram diminuição do peso. Passado um ano era já óbvio que a
doença continuava a progredir, apesar do uso do novo medicamento. As
dificuldades em deglutir os alimentos provocavam graves tensões à hora
das refeições e o pai, estrategicamente, passou a sentar-se num lugar à
mesa de onde não conseguia ver a filha. Também por essa altura deixou de
acompanhar a filha às consultas. Desistiu.
A Maria foi-se
deteriorando lentamente nos primeiros anos. Com 14 decidiram tirá-la da
escola e passou a ter aulas no domicílio. Aos 16 desistiram da
professora e ficou a ser tratada por uma fisioterapeuta. A fala
tornou-se quase imperceptível, a marcha deteriorou-se, deixou de engolir
sólidos e cada refeição era uma luta pela sobrevivência.
A mãe,
entretanto, tinha deixado o seu cargo numa empresa e passou a ficar em
casa para cuidar da Maria. Até ao fim, dizia ela. Uma mulher autónoma e
habituada a liderar, passou a ficar em casa dias, meses, anos a fio, a
assistir à morte lenta de uma filha que tanto amava.
Dizia-me
coisas incríveis quando vinha à consulta, com ou sem a filha. Ficávamos
mais de uma hora a conversar , ríamos ou chorávamos sem lágrimas ou
fazíamos as duas coisas ao mesmo tempo. Ia-me falando do marido e das
dificuldades que ele tinha em lidar com a doença da filha. Tinha ido
trabalhar para fora, só vinha a casa ao fim de semana.
- Melhor
assim - dizia ela - Ao menos não nos perturba. Nós as duas estamos bem.
Sabe o momento que mais gosto do dia? Quando me deito a seu lado, antes
de adormecer. Fico em silêncio abraçada a ela na cama e apenas a ouço
respirar. Sinto uma paz enorme.
O filho adolescente tinha
decidido ir estudar para o estrangeiro, de onde só regressava nas
férias. Era um rapaz sensível e dotado que decidira perseguir um sonho.
Talvez inconscientemente, fugira, tal como o pai, do drama familiar.
Noutras
ocasiões vinha tão triste, que me dizia que aquela vida já não tinha
sentido e que desejava encontrar de manhã a filha morta no leito. Eu
escutava em silêncio, sabendo que ela apenas necessitava de desabafar,
pôr cá para fora os múltiplos sentimentos contraditórios que a tomavam
de assalto, sem correr o risco de ser julgada.
Outras vezes
chegávamos a rir dos dramas diários porque ela passava e que, com muito
humor, sabia desdramatizar. Os gazes sonoros que a filha emitia nas
situações menos adequadas, as suas birras de “prima dona”.
A
Maria, entretanto, como os seres humanos normais, cresceu e tornou-se
num adulto. Apesar da idade, continuava, para todos os efeitos a ser uma
criança pequena, dependente da mãe para tudo. Como a esperança de vida
que tinha era limitada, decidi não a transitar para a Neurologia de
adultos.
Quando a filha piorava, a mãe telefonava-me e eu ia
observá-la a casa. A decoração era formal e quase austera. Poucos
objetos, poucos quadros, nenhuma fotografia de família. Os tons beges
predominavam e apenas um gato persa enroscado no sofá acalorava o
ambiente. A Maria permanecia o dia numa saleta à média luz, sentada no
sofá em frente à televisão. Quando eu chegava lançava-me um olhar
desconfiado e, só a pedido da mãe me dizia um “olá” cada vez pior
articulado. Agora engasgava-se até com a saliva, a que se seguiam
acessos de tosse terrível que obrigavam a mãe a aspirá-la. Passou a ser
alimentada por um orifício no estômago onde lhe foi colocado um botão
com uma tampa. Mas nem isso resolveu os inúmeros episódios de quase
sufocamento.
Que fazer? Os medicamentos que lhe prescrevi para produzir menos saliva, davam-lhe retenção urinária como efeito lateral.
Até
àquela data, apesar dos seus 22 anos, eu conseguira mantê-la na
Pediatria, num ambiente carinhoso e delicado. Contudo, quando pedi a uma
colega minha de outra especialidade pediátrica para me ajudar,
recusou-se dizendo que a Maria era já uma adulta e que tínhamos que
fazer a transição e entregá-la aos cuidados da Medicina Interna. Decidi
pedir opinião à equipa de cuidados paliativos do hospital. Habituados a
tratar de adultos com doenças neurológicas em estado terminal, saberiam
melhor que eu como ajudar. Telefonei à mãe a comunicar a data da
consulta. Eu iria com elas para “apresentar o caso”.
Na sala de
espera predominavam doentes em cadeiras de rodas e, muitos deles, vinham
com máscaras e a sua garrafa de oxigénio. Adultos jovens com doenças
neuromusculares em fase terminal, com a mente perfeita e o corpo
estraçalhado. Evitavam olhar-nos, humilhados por serem ainda
transportados e dependentes da mãe.
Fomos finalmente chamadas
para entrar. Lá dentro, um médico, uma enfermeira e uma técnica de uma
empresa de ventiladores ao domicílio. Resumi o caso, em frente da mãe e
da Maria, que se contorcia na cadeira de rodas.
- Minha senhora -
disse o médico – penso que sabe que não podemos fazer milagres. Isto é o
estado terminal duma doença e pouco há a fazer.
-Mas como
melhorar a qualidade de vida dela? Tem ataques de falta de ar terrível
provocados pela aspiração da saliva….Como lhe reduzir o sofrimento?
- Já foram tentados fármacos?
- Sim, mas sem resultado…
- Então é preciso ter paciência…nada há a fazer. Não percebo bem o que veio cá fazer…De que está à espera?
Senti-me
envergonhada por ver um colega meu tratar assim os doentes. Aquela mãe
merecia, pelo menos, uma palavra de conforto. Eu sabia que, na verdade,
muito pouco poderíamos ajudar. Mas ainda havia alguns tratamentos que
podíamos tentar, como por exemplo, fazer a ablação de algumas das
glândulas salivares, de forma a ela produzir menos saliva.
- Não espero milagres – disse a mãe. Estou muito consciente do que a espera, mas gostava de lhe reduzir o sofrimento….
Não
teve tempo de continuar. A Maria começou a tossir e, em seguida, fez
uma hiperextensão do pescoço, seguida de esgares horríveis com a face,
os olhos arregalados, emitindo sons de alguém que está a sufocar. A mãe
imediatamente tirou aquele corpo adulto da cadeira e, usando toda a sua
força, suspendeu-a de cabeça para baixo, comprimindo-lhe o tórax. Ao fim
de uns dois minutos, que nos pareceram uma eternidade, ouvimo-la
novamente a respirar. A mãe, exausta, voltou a coloca-la na cadeira e em
seguida, com um olhar de dignidade magoada, olhou a médica e disse:
- Obrigada, doutor. Já percebi que me não pode ajudar.
O médico corou e começou a escrever no teclado do computador que, estrategicamente, formava uma barreira entre ele e os doentes.
Já
cá fora, novamente na sala de espera, falei novamente com a mãe e
decidi arranjar uma alternativa cirúrgica. Acabamos por conseguir que
fosse acompanhada por uma outra equipa de cuidados paliativos.
Tal
como a mãe desejara, ela faleceu silenciosamente, durante o sono.
Comunicou-me a notícia só passados meses, por email. Imagino que, para
não me incomodar, não me fazer sentir obrigada a ir ao funeral.
Agradecia-me tudo o que tinha feito e dava-me força para continuar a
trabalhar .
Lamento não ter ido ao funeral. Imagino que a Maria ,
vestida como uma adolescente, estava finalmente com um ar feliz e que a
mãe, sentada ao lado, não chorava. Um ar exausto e vazio.
Ainda
não tive coragem para telefonar à mãe e já passou mais de um ano. Será
que voltou a trabalhar? Que fará agora com o tempo que lhe sobra? Será
que ainda acorda de noite parecendo ouvir a filha a engasgar-se? Será
que ainda se sente culpada quando vai ao cabeleireiro? Será que está
mais alegre?
Sinto-me mal por ainda a não ter ido visitar. Um dia destes ligo-lhe e vamos tomar um café.
(Todas as histórias que envolvem doentes são ficção, baseada em casos reais e na prática clínica da autora)
IN "VISÃO"
03/06719
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ÚLTIMO EPISÓDIO
13- O MARKETING
DA LOUCURA
REPARAR OS DANOS
O QUE DEVE FAZER
ÚLTIMO EPISÓDIO
Os psiquiatras dizem--nos que a forma de resolver comportamentos indesejáveis é alterando a química cerebral com um comprimido.
Mas
ao contrário de um medicamento comum como a insulina, os medicamentos
psicotrópicos não têm uma doença alvo mensurável para tratar, e podem
transtornar o equilíbrio delicado dos processos químicos que o corpo
precisa para funcionar bem.
Não obstante, os psiquiatras e as
companhias farmacêuticas têm usado estes medicamentos para criar um
mercado enorme e lucrativo.
E eles têm feito isto nomeando cada
vez mais comportamentos indesejáveis como "perturbações médicas" que
requerem medicação psiquiátrica
Mas será que estas realmente se deviam chamar doenças?
A questão é portanto:
Como
é que os medicamentos psicotrópicos, sem uma doença alvo, sem poderes
curativos conhecidos e uma lista longa e extensa de efeitos secundários,
se transformam no tratamento indicado para todo o tipo de distúrbios
psicológicos?
E como é que os psiquiatras que apoiam estes medicamentos conseguiram dominar o campo do tratamento mental?
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* As nossas séries por episódios são editadas no mesmo dia da semana à
mesma hora, assim torna-se fácil se quiser visionar episódios
anteriores.
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Nesta senda de "bloguices" iniciadas em Setembro/17, iremos reeditar
algumas séries que de forma especial sensibilizaram os nossos
visitadores alguns anos atrás, esta é uma delas.
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79-CINEMA
FORA "D'ORAS"
IX-Bohemian Rhapsody
SINOPSE
Bohemian Rhapsody é um filme de drama biográfico britânico-estadunidense de 2018 sobre Freddie Mercury, vocalista da banda de rock britânica Queen. Dirigido por Bryan Singer, escrito por Anthony McCarten e produzido por Graham King e Jim Beachsobre,
empresário da banda, o longa-metragem concentra-se em um período de
quinze anos, desde a formação original até sua apresentação no Live Aid, em 1985, seis anos antes da morte de Mercury. Brian May e Roger Taylor, membros originais da banda Queen, serviram como consultores. Produzido pela 20th Century Fox, Regency Enterprises, GK Films e pela Queen Films e distribuído pela 20th Century Fox, é interpretado por Rami Malek (como Freddie Mercury), Ben Hardy, Gwilym Lee, Joseph Mazzello, Allen Leech e Lucy Boynton.
ELENCO
Rami Malek, como Freddie Mercury, vocalista da banda Queen.
Adam Rauf como Freddie Mercury jovem.Gwilym Lee como Brian May, guitarrista da banda.
Joseph Mazzello como John Deacon, baixista da banda. Allen Leech como Paul Prenter, gerente pessoal de Mercury.
Lucy Boynton como Mary Austin, companheira de Mercury ao longo da vida.
Mike Myers como Ray Foster, executivo da EMI.
Aaron McCusker como Jim Hutton, namorado de Mercury.
Aidan Gillen como John Reid, primeiro manager do Queen.
Tom Hollander como Jim Beach, segundo manager do Queen.
Dermot Murphy como Bob Geldof
Meneka Das como Jer Bulsara, mãe de Mercury.
Ace Bhatti como Bomi Bulsara, pai de Mercury.
Dickie Beau como Kenny Everett.
Neil Fox-Roberts como Sr. Austin, pai de Mary.
Philip Andrew como Reinhold Mack.
Matthew Houston como Larry Mullen Jr., baterista da banda de rock irlandesa U2.
FONTE: Snow White Queen