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Espremam as notícias nacionais
no mês de Agosto e não sai nada
Há outra mudança que é a acumulação "pesada" de meios, mas os resultados ainda não são conclusivos. Porém, por muito "pesados" que fossem os meios, o fogo continuou a arder enquanto teve combustível e meteorologia favorável.
O mês de Agosto é a habitual "estação-pateta" para as notícias e a
comunicação social dedica-se com afã às tolices que duram um dia ou
dois. O que é pior é que parece haver continuidade antes e depois, como
se os critérios de patetice se tornassem a norma.
Claro
que houve duas coisas importantes interligadas em Agosto, mas estão
longe de serem de Agosto ou até de serem "notícias": as alterações
climáticas e os fogos, em particular o de Monchique. São aliás, mais do
que "notícias", reflexos de problemas estruturais que estão a vir ao de
cima. Mas o fogo de Monchique revelou mudanças significativas no plano
táctico, particularmente com a ênfase na defesa a outrance das
populações, admito mesmo que com certo exagero. Seja como for, resultou.
Há outra mudança que é a acumulação "pesada", como agora se diz, de
meios, mas os resultados ainda não são conclusivos. Porém, por muito
"pesados" que fossem os meios, o fogo continuou a arder enquanto teve
combustível e meteorologia favorável. E, depois, porque esta acumulação
de meios só foi possível porque não houve outros incêndios
significativos ao mesmo tempo. Vamos ter um País perigoso em Agosto, mas
suspeito que a chuva intensa, filha das mesmas alterações climáticas,
vai tornar também o Inverno mais perigoso. O tempo amável e moderado de
Portugal é uma coisa do passado.
O partido da estação-pateta é o...
...CDS.
É impressionante como o CDS transformou cada fragmento das
pseudonotícias de Agosto numa causa política, sempre com a mesma
veemência de linguagem, com as mesmas declarações indignadas. Algumas
são muito ridículas, como colocar um senhorito como Nuno Melo a andar de
comboio, sendo que os dirigentes do CDS precisam de guia para comprar o
bilhete, acertar na carruagem, escolher o cais certo para a direcção
desejada, e saber abrir as portas quando não são automáticas.
Já é difícil distinguir o que é importante do que é pontual na acção
política do CDS, porque ele vai a todas. Serve para marcar presença, mas
como as sondagens mostram, não ganham votos.
O problema com Trump chama-se guerra civil
O título
parece alarmista e é. E há de facto duas frentes para o problema Trump:
a externa, com o agravamento dos conflitos internacionais; e a interna.
Convém não esquecer que estamos a falar do homem mais poderoso do
mundo.
É da interna que vou falar. O problema com Trump está
muito para além dos incidentes quotidianos que ele gera como quem
respira. Nem tem a ver sequer com os processos múltiplos que estão em
curso, dos quais os mais graves começam a anunciar-se nas investigações
sobre os dinheiros das suas empresas. Não é por acaso que Trump disse
que esta era a linha vermelha nas investigações sobre ele. Também não é a
oposição democrática, nem a ameaça pouco provável de impeachment,
embora tudo se some para criar o pior cenário.
O pior cenário é
que Trump não quer abandonar o poder, nem que seja afastado pelos
tribunais, nem pelo Congresso e pelo Senado, nem que perca as eleições.
Em todos estes casos, com a veemência e violência necessárias, ele dirá
que se trata de uma conspiração dos seus adversários, do deep state, dos
votos fraudulentos, seja lá do que for, e apelará àquilo que nos EUA
tem sido referido como a sua "base". A "base" de Trump não é muito
grande, mas está mobilizada e ele alimenta-a com mentiras e teorias
conspirativas de modo a imunizá-la contra qualquer facto que lhe seja
desfavorável. O tribalismo alimentado pelas redes sociais tem aqui uma
extensão bem real, a inoculação da realidade é quase total, e seja por
ideologia, seja por interesse, ou seja por essa coisa bem mais perigosa
que é uma certa forma de identidade perversa dos excluídos, a "base"
tornou-se uma massa de manobra de um autocrata populista, perigosamente
desarranjado, e com mente de mafioso. E já é violento e será ainda mais
violento num país mergulhado numa cultura de armas. Este é o clima de
uma guerra civil, com dois campos antagónicos, mas desiguais: um é hard e
o outro é soft.
Duas pessoas disseram que estou a dizer em
campos opostos. O antigo director da CIA, Brennan, a quem Trump tirou a
autorização de segurança, deu uma entrevista em que disse que o mais
grave do que está a ocorrer nos EUA é a "passagem para as ruas" da
retórica agressiva de Trump. O outro, foi o inefável Rudy Giuliani que
disse, falando de processos judiciais e das revelações do seu
ex-advogado, que se alguém tentar depor Trump, o povo americano o
impedirá. Está aqui tudo.
IN "SÁBADO"
02/09/18
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