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Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
25/04/2017
FRANCISCO SARSFIELD CABRAL
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IN "SOL"
22/04/17
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A pobreza
recua no mundo, mas...
Há meio século atrás estava convencido de que o crescimento da economia, nessa altura muito elevado, iria acabar com a pobreza nos países ricos – na Europa, nos Estados Unidos da América, no Japão. Mas isso não aconteceu.
Decerto que nesses países a pobreza diminuiu muito. Segundo o Banco
Mundial, a pobreza extrema (rendimento de apenas 1 dólar e 90 cêntimos
por dia) baixou de níveis entre 80 por cento da população (Japão) e 40
por cento (EUA) no século XIX para menos de 5 por cento agora. A pobreza
não terá sido totalmente eliminada nas sociedades ricas porque causas
não diretamente económicas entraram em jogo. É o caso da droga, por
exemplo, e da desestruturação familiar.
Por outro lado, a pobreza ter ficado reduzida a pequenas minorias,
frequentemente marginais, tirou aos pobres peso eleitoral, logo têm
menos força política. Aliás, boa parte dos pobres em países ricos nem
sequer votam. Ora a criação de apoios sociais aos pobres, sobretudo na
Europa, teve muito a ver com a generalização do sufrágio universal, já
no século XX. A primeira reivindicação da então maioria pobre era que o
Estado criasse uma proteção para os azares da vida – doença, desemprego,
morte, etc.
Se o capitalismo não eliminou a pobreza, o ‘socialismo real’,
soviético, não fez melhor. Durante décadas a ascensão da União Soviética
à categoria de superpotência levou vários novos países do então chamado
Terceiro Mundo a inspirarem-se no modelo comunista, que lhes parecia
uma via rápida para a industrialização e a prosperidade. Mas o colapso
do comunismo teve na raiz a sua ineficácia na área económica.
Desfizeram-se as ilusões.
Não há dúvida de que ao longo dos últimos 200 anos – ou seja, a
partir da Revolução Industrial – a pobreza extrema globalmente diminuiu
muito, período durante o qual a população mundial foi multiplicada por
sete. Em 1970 havia no mundo 2,7 mil milhões de pessoas em situação de
extrema pobreza, em 2013 eram apenas um terço, 705 milhões.
Depois disso a pobreza extrema continuou a diminuir, estimando-se
que hoje afete menos de 10 por cento da população mundial. Um resultado
que, na Grã-Bretanha, primeiro país a industrializar-se, apenas foi
obtido por volta de 1920, cem anos após os primeiros passos da Revolução
Industrial.
Nesta evolução sem precedentes na história mundial contou muito, nas
últimas décadas, o extraordinário crescimento económico chinês (que
agora abrandou um pouco, como é natural) e também o indiano. Também
houve progressos na América Latina, mas menores.
A pobreza ainda é um grande problema na África ao Sul da Sahara e na
Ásia do Sul. As perspetivas mais preocupantes vão para África. Em 2013
em África havia 383 milhões de pessoas em pobreza extrema, cerca de 40
por cento da população. No continente africano vivem agora mais de
metade dos muito pobres que existem no mundo. Mesmo países ricos em
petróleo, como Angola e a Nigéria, não escapam a este flagelo.
A população africana está a aumentar rapidamente (cerca de 2,5 por
cento ao ano). Mas as guerras, civis e outras, que envolvem inúmeros
países africanos, assim como a incompetência e a corrupção de muitos
governantes, são os principais fatores de o número absoluto de pobres em
África ser atualmente mais alto do que era na década de 90 do século
XX.
IN "SOL"
22/04/17
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O QUE NÓS
"FESTEJAMOS"!!!
O QUE NÓS
"FESTEJAMOS"!!!
O primeiro número da ONDA POP explica quase tudo, os primórdios, os conceitos, a paginação e artigos publicados demonstram o trabalho destes rapazolas nos idos de 60.
Hoje 25 de ABRIL está no ar o nº 87 começando com um anónimo herói da revolução de nome Manuel Tomás, sonoplasta, um dos responsáveis do programa LIMITE e onde Leite de Vasconcelos disse a "senha" para o desencadear do movimento militar, embora não soubesse o que estava a fazer, uma história verídica que pouca gente conhece.
ZECA RODRIGUES, uma grande músico nascido em Moçambique, ainda imparável na sua actividade.
ZECA RODRIGUES, uma grande músico nascido em Moçambique, ainda imparável na sua actividade.
CAETANO VELOSO, hoje a actuar no Porto, a música de corpo inteiro.
NORMAN GREENBAUM, um grande compositor e músico quase desconhecido, convém ler.
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NORMAN GREENBAUM, um grande compositor e músico quase desconhecido, convém ler.
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CHUCK BERRY, seria deus da música na mitologia grega, é bom recordá-lo.
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Cantem com a "ONDA POP", "THE TREMELOES", o carismático "MANUEL FREIRE" e o (britluso) "CLIFF RICHARD".
Chamamos-vos a atenção dos videosdiscs que a página apresenta, são da época em que as vozes não eram tratadas por sofisticadas aparelhagens, as que hoje fazem com que trogloditas mal amanhados sem voz possam parecer que cantam, há muitos pelo país, conspurcando as tardes de televisão ao fim de semana..
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Chamamos-vos a atenção dos videosdiscs que a página apresenta, são da época em que as vozes não eram tratadas por sofisticadas aparelhagens, as que hoje fazem com que trogloditas mal amanhados sem voz possam parecer que cantam, há muitos pelo país, conspurcando as tardes de televisão ao fim de semana..
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A "ONDA POP" continua cheia de informação verdadeira, bem elaborada e metódica, sem folclores, mantém a coerência da sua génese. Na net e em português tem o condão de informar e trazer ao presente um passado glorioso de música como ninguém faz. Apresenta música variada de escolha criteriosa, temos o orgulho de dizer que os autores são nossos amigos mas não é por isso que estão na "PEIDA", é pelo valor e inteligência que demonstram.
Neste blogue, na coluna da direita tem um link directo.
OBRIGATÓRIO IR VER!!!
ABJEIAÇOS .
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FONTE:Salomé Pinto
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SALGUEIRO MAIA
SEMPRE
Salgueiro Maia completaria em (01/07/2017) 73 anos. Mas o capitão de abril que liderou a revolução dos cravos faleceu há mais de 25 anos, em 1992, vítima de cancro. Os camaradas que com ele formaram o Movimento das Forças Armadas recordam-no como um homem de muita coragem que nunca se deixou corromper. E criticam os Governos que não prestaram a devida homenagem enquanto Maia ainda estava vivo. Sobre a transladação para o Panteão Nacional, as posições são divergentes.
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Era meia-noite, 20 minutos, 19 segundos
Texto de Carlos Albino
A VERDADEIRA HISTÓRIA
DA SENHA DO 25 DE ABRIL
Era meia-noite, 20 minutos, 19 segundos
Texto de Carlos Albino
Passaram 25 anos desde aquele momento em que eu e o
Manuel Tomás nos vimos directamente comprometidos e
cúmplices conscientes na senha para o arranque
simultâneo dos militares que decidiram acabar de uma vez
por todas com uma ditadura que matava o País com uma
morte que não se via.
Durante este tempo todo, os únicos
responsáveis directos pela execução e transmissão da
senha têm assistido ao mais lamentável desfile de vaidades
por parte de gente e até de forças políticas que
indevidamente têm querido apropriar-se desse gesto. E o
que é mais lamentável é que, tendo este País tantos
historiadores, quase nenhum destes quis acertar com a
verdade sobre factos recentes e autores vivos.Em matéria de senhas do 25 de Abril, tem
havido para cada um a sua senha.
Otelo é que, no fundamental, tem dito sempre a verdade no seu legítimo ponto de vista de comandante operacional do 25 de Abril. E, diga-se, também pouco mais interessará do que esse ponto de vista, pelo que os responsáveis efectivos pela execução e transmissão da senha jamais ao longo destes anos tentaram meter-se ou insinuar-se nessa área em que Otelo fala por direito próprio, como também, depois que foi comunicada e confirmada em definitivo a senha escolhida pelo Movimento, jamais incomodaram os militares operacionais com questões que apenas passaram a fazer parte da responsabilidade de quem, independentemente do risco (ao lado do local da emissão da senha estava o Governo Civil, pejado de polícia de choque, e em linha de vista a própria sede da PIDE), assumiu o firme compromisso de a transmitir e no momento exacto. Foi o que aconteceu e também isto foi importante.
Otelo é que, no fundamental, tem dito sempre a verdade no seu legítimo ponto de vista de comandante operacional do 25 de Abril. E, diga-se, também pouco mais interessará do que esse ponto de vista, pelo que os responsáveis efectivos pela execução e transmissão da senha jamais ao longo destes anos tentaram meter-se ou insinuar-se nessa área em que Otelo fala por direito próprio, como também, depois que foi comunicada e confirmada em definitivo a senha escolhida pelo Movimento, jamais incomodaram os militares operacionais com questões que apenas passaram a fazer parte da responsabilidade de quem, independentemente do risco (ao lado do local da emissão da senha estava o Governo Civil, pejado de polícia de choque, e em linha de vista a própria sede da PIDE), assumiu o firme compromisso de a transmitir e no momento exacto. Foi o que aconteceu e também isto foi importante.
Ora, a partir do momento em que ficou assente que para o arranque do movimento militar
seria necessária uma senha transmitida através de uma estação de rádio com efectiva
cobertura nacional, as escolhas não eram muitas.
Uma das escolhas seria o Rádio Clube Português, que haveria de ser pensado para posto de comando do Movimento após ocupação militar das instalações, e transmitir previamente uma senha por aí seria uma imprudência de toda a ordem.
Uma das escolhas seria o Rádio Clube Português, que haveria de ser pensado para posto de comando do Movimento após ocupação militar das instalações, e transmitir previamente uma senha por aí seria uma imprudência de toda a ordem.
Outra escolha possível seria a antiga Emissora Nacional, mas não se via lá
dentro alguém com capacidade de intervenção e iniciativa para actuar àquela hora ou mesmo
a qualquer outra hora, pois os democratas nessa altura não abundavam por lá.
Restava a
Rádio Renascença e dentro desta o "Limite", um programa independente que, pelo aluguer de
instalações e antenas para as suas emissões, pagava por mês o equivalente em moeda actual a
4500 contos.
O programa, à data da preparação final do movimento militar, tinha no núcleo duro dos seus
decisores Marcel de Almeida (um amigo de longa data de Melo Antunes), Leite Vasconcelos
e Manuel Tomás (vindos de Moçambique com indesmentivel currículo de democratas) e o
signatário.
Como não acontecia com qualquer outro programa de rádio, o "Limite", que era transmitido em directo, era alvo de duas censuras: uma que era a da própria Rádio Renascença e a outra a oficial, exercida por um coronel cujo nome neste momento não me ocorre mas de que conservo as garatujas de assinatura, instalado na Renascença exclusivamente para actuar sobre o "Limite" (por tanto recebia o equivalente hoje a 300 mil escudos, quantia obtida através do aumento do aluguer das antenas ao "Limite" - ou seja, o programa pagava indirectamente ao seu próprio censor...
Como não acontecia com qualquer outro programa de rádio, o "Limite", que era transmitido em directo, era alvo de duas censuras: uma que era a da própria Rádio Renascença e a outra a oficial, exercida por um coronel cujo nome neste momento não me ocorre mas de que conservo as garatujas de assinatura, instalado na Renascença exclusivamente para actuar sobre o "Limite" (por tanto recebia o equivalente hoje a 300 mil escudos, quantia obtida através do aumento do aluguer das antenas ao "Limite" - ou seja, o programa pagava indirectamente ao seu próprio censor...
E quanto aos célebres Emissores Associados de Lisboa, o que era isso? Essa rede de fracos
emissores mal se ouvia em Lisboa (nas zonas baixas da cidade a sintonia era impossível).
Seria impensável a transmissão de uma senha para todo o País através dos Associados. O
sinal que consistiu em 'E depois do Adeus' serviu e bem como primeiro toque para uns poucos
operacionais e, diga-se já agora, serviu também para quem no "Limite" estava com aviso.
Mas por aí houve uma fase em que toda a gente corria para as senhas de Abril, para os
símbolos de Abril, para as condecorações de Abril, para os heróis de Abril, e no meio de
tanta distracção chegou a dizer-se que o sinal dos Associados serviu para todo o País, pouco
faltando para se garantir que quando o Paulo de Carvalho apresentou tal canção para o
concurso televisivo já o tinha feito a pensar no MFA, na noite do 25 de Abril, na libertação
dos presos políticos, no fim da censura e no termo da guerra colonial. Que José Afonso assim
já pensasse (e de há muito) quando escreveu, cantou e gravou a Grândola, não duvido.
Mas devo dizer, agora que passaram 25 anos e no que está relacionado com o que me
pediram, que apenas dois civis tiveram conhecimento do processo que culminaria com a
senha do 25 de Abril: Manuel Tomás e quem dá testemunho nestas linhas.
Álvaro Guerra foi
um precioso elemento de ligação e naturalmente que não foi ouvido nem achado para a
execução da senha; Leite Vasconcelos, que no seu dia de folga deu a sua voz a tudo o que
tinha que ser dito nos exactos 11 minutos de duração do bloco previamente submetido às
censuras; o estagiário de locução que estava na cabine (não quero dizer o nome antes que o
encontre porque é um dos que têm andado para aí a mentir) estava longe de imaginar o que se
iria passar e nada justificava que se lhe dissesse o que estava em jogo; a regência de estúdios
onde em todo o caso poderia ser interrompida a emissão caso tivesse ocorrido alguma
denúncia, estava debaixo de olho. Mas, acima de tudo, devo aqui testemunhar que o Manuel
Tomás, para além de uma lealdade total, foi uma peça-chave para o êxito da pequena coisa
que foi pedida - a senha.
A caminho do limite
22 de Março. Informação inicial sobre a inevitabilidade de uma senha por rádio com efectiva
cobertura nacional para o arranque dos quartéis.
29 de Março. Ensaio no Coliseu (festival da Casa da Imprensa) sobre a aceitação de Grândola. O festival foi gravado e transmitido em diferido pelo Limite.
23 de Abril, fim de manhã. Álvaro Guerra é o elemento de ligação com Carlos Albino, a
quem pede a transmissão da canção 'Venham mais Cinco' no Limite de 25 de Abril.
Carlos
Albino pede a Álvaro Guerra para devolver a resposta de que tal canção estava proibida pela
censura interna da Renascença embora a censura oficial a tolerasse. Sugeridas alternativas,
entre as quais Grândola.
24 de Abril, 10 horas. Álvaro Guerra novamente serve de elo de ligação de Almada
3
Contreiras com Carlos Albino, a quem comunica a escolha definitiva de Grândola Vila
Morena como senha para o movimento militar. Carlos Albino garante a transmissão.
24 de Abril, 11 horas. Carlos Albino adquire na então Livraria Opinião, a Madeira Luís, o
disco "Cantigas de Maio" para garantia. Desde Dezembro de 1973, havia indícios de que a
PIDE preparava o assalto dos escritórios do Limite, na Praça de Alvalade.
24 de Abril, 15 horas. Encontro decisivo com Manuel Tomás, para a execução da senha e
garantia de transmissão face às duas censuras que o Limite enfrentava: a da Rádio
Renascença e a oficial (um coronel que acompanhava as emissões em directo e visava
previamente os textos).
Carlos Albino e Manuel Tomás decidem sair dos estúdios para um
local onde possam prosseguir com segurança o diálogo.
24 de Abril, 15 e 30. Ajoelhados na Igreja de S. João de Brito e simulando rezar, Carlos
Albino e Manuel Tomás combinam todos os pormenores técnicos da senha.
24 de Abril, 17 horas. Leite Vasconcelos (em dia de folga na locução do Limite) é
convocado por Manuel Tomás para "gravar poemas". Carlos Albino escreve textos para
serem visados pelo censor.
24 de Abril, 19 horas. Censor autoriza textos e alinhamento.
24 de Abril, 20 horas. Na Renascença, gravação dos textos por Leite Vasconcelos,
desconhecendo o objectivo.
25 de Abril. Aos 20 minutos e 19 segundos, arranque da fita com a senha. Carlos Albino e
Manuel Tomás retiram-se da Renascença às 3 e 30.
Que vasta galeria de falsos heróis
Texto de Carlos Albino
A senha, com as características com que foi pedida (leitura da
primeira quadra de Grândola, transmissão integral da canção e
repetição da quadra inicial), era à partida de difícil execução e
transmissão num programa que estava debaixo de duas
censuras: uma, relativamente tolerante e até em certos
momentos pactuante, montada pela Renascença, e outra, braço
directo da censura oficial a actuar exclusivamente sobre o
Limite.
É lícito recordar isto, pois não são poucos os que têm
procurado fazer a contrafacção da senha, chegando a pôr em
causa a palavra e a própria dignidade pessoal das duas únicas
pessoas (e não mais) que têm a ver directamente com o caso.
Em todo o caso, a leitura das quadras (independentemente de a
canção de José Afonso ser permitida) e só pelo facto de ser uma leitura suporia sempre
passagem pela censura que chegou a impedir que fizéssemos momentos de silêncio (as
brancas como se diz na gíria da rádio).
Ninguém hoje pode imaginar a dificuldade que era a de fazer rádio em directo como nós, os do Limite, fazíamos. Era aliás a nossa razão de existir na rádio.
Ninguém hoje pode imaginar a dificuldade que era a de fazer rádio em directo como nós, os do Limite, fazíamos. Era aliás a nossa razão de existir na rádio.
Como é que as dificuldades foram contornadas, com a máxima garantia de que a transmissão
da senha não seria interrompida, abortada ou substituída por outro material? Todos os
cuidados eram poucos, pois não se passava só connosco - a PIDE conseguia instalar
informadores em tudo o que fosse sítio. O Limite não poderia ser uma excepção só por ser
Limite.
Como dois a pensar funcionam melhor do que um só, o Manuel Tomás e eu (ajoelhados na
Igreja de S. João de Brito, local fantasticamente protegido para conspiração de tal tamanho,
pois até o facto de o pároco ser então o antípoda dos progressistas ajudava a que o local
obrigasse a PIDE a grandes cuidados), a senha ficou combinada nestes termos: eu escreveria
dois poemas para justificar a chamada a serviço do Leite Vasconcelos, que estava em dia de
folga, os textos seguiriam para o censor, o Manuel Tomás, segundo um alinhamento
combinado, faria a engenharia final da peça, no domínio estético e técnico. Este modo de
actuação não daria grandemente nas vistas: o Limite assentava na sua maior parte sobre
textos poéticos meus lidos sempre, àquele época, pelo Leite de Vasconcelos e trabalhados
também sempre segundo os belíssimos esquemas que somente a sensibilidade artística de
Manuel Tomás conseguia nas circunstâncias em que trabalhávamos.
Assim foi.
O alinhamento foi redigido, em resumo: quadra, canção Grândola, quadra, poema Geografia,
poema Revolução Solar e para finalizar a canção Coro da Primavera.
Os censores (da Renascença e o coronel) viabilizaram os textos sem hesitações: a "geografia"
falava dos rios portugueses e a "revolução solar" falava de planetas e galáxias... Para eles,
isto não tinha "política".
Viabilizados, os textos foram lidos pelo Leite de Vasconcelos e
gravados a seco, sendo pouco depois trabalhados sonoplasticamente pelo Manuel Tomás. O
bloco ficou com 11 minutos, o que era habitual no Limite. Tudo se fez como se tudo fosse o
mais normal.
O que não tem sido normal é o aproveitamento que nestes 25 anos se tem feito
da senha.
Vou esforçar-me para não dizer nomes, pois estamos em época de concórdia, mas recordo
que surgiu um e garantiu que escolheu comigo o disco da senha. Não escolheu nada. Surgiu
outro e garantiu que a senha foi o Depois do Adeus - e bem se viu o triste espectáculo e as
tremendas confusões que fizeram nas comemorações do 25 de Abril que decorreram em
Santarém. Ora isso não foi senha, por amor de Deus!
Outro que nem era do Limite deixou-se filmar para um alegado documentário sobre a senha
que percorreu o Alentejo, sendo aqui recebido como herói. Não era. E outro que até era do
Limite - não resisto a citar Leite de Vasconcelos - deixou-se filmar pelo musicólogo
Fernando Matos Silva para alegada "reconstituição do cenário". Não era. A voz foi dele, mas
ele estava longe do estúdio e mais longe ainda do que a senha significava.
Reportagem no ar sem hesitação
Texto de Carlos Albino
As primeiras reportagens sobre o 25 de Abril e o que estava a acontecer nas ruas da capital,
solicitadas como serviço a Adelino Gomes, a quem foram disponibilizados meios
profissionais adequados, foram transmitidas por responsabilidade do Limite.
Os noticiários da Renascença até 27 de Abril continuaram com reservas sobre a queda da ditadura e ninguém esperava que o MFA fosse ocupar o Rádio Clube Português para mandar fazer reportagens... A Emissora Nacional dava música clássica e quanto aos Emissores Associados, ninguém ouvia nem podia ouvir isto.
Os primeiros debates políticos com intenção deliberadamente pluralista aconteceram no Limite. Mas também todo este sonho acabou no dia 8 de Junho de 1974, após a transmissão da primeira entrevista com Arnaldo Matos (na presença de Fernando Rosas, o historiador deve recordar bem a cena) e depois de terem sido ouvidas personalidades dos mais diversos quadrantes.
A Renascença acabou com o Limite trocando-o pelo efémero "Voz dos Trabalhadores" decidido em plenário, onde também ninguém se solidarizou com as circunstâncias que ditaram o fim do contrato firmado entre o Limite e a Renascença.
Não foi difícil perceber que a colisão frontal entre o Limite e a administração da Renascença de então resultou do facto de se ter usado a estação para a transmissão da senha. Até hoje, ao que se saiba, nunca a estação assumiu como ponto de honra o facto de ter acontecido nessa casa o gesto que significou a mudança radical da vida portuguesa, pois, se o fizesse, dificilmente poderia evitar a alma do Limite que tem todos os motivos para descansar em paz.
Até ao último momento da existência do programa ninguém compreendeu como a Igreja perdeu uma oportunidade excelente para, logo em 1974, sair da sexta-feira pouco santa da ditadura para decididamente entrar no dia de ar livre da ressurreição que começou a ocorrer apenas passados anos, limitada e tardiamente.
Digamos que sobre o Limite caiu uma espécie de maldição impensável e da qual, por certo, nestas páginas de alguma forma se livra tendo sido necessário deixar passar estes 25 anos para que se diga à vontade o que jamais pode ser entendido como defesa de causa própria. Na verdade, algo de fundamental para a Revolução do 25 de Abril faz parte do património disso que hoje é já mera lembrança e simples recordação, mas que para aquela grande parte de uma geração a entrar nos 40, 50 e 60 que não perdeu ou não quis perder a memória, continua a ser a evocação suave de uma deliberada cultura de sensibilidade e da fragrância de um perfume com as possíveis palavras rasgadas nas noites de terror.
Não se está a sugerir o descerramento de uma placa à entrada da Renascença, nem outra coisa qualquer. O que se sugere é que já era altura de a Renascença assumir o Limite como facto importante da sua biografia, como altura é dos historiadores e candidatos a isso serem mais rigorosos e precisos, quanto a nomes, horas e formas. Sobretudo, ouvindo quem fez sobre o que fez.
Os noticiários da Renascença até 27 de Abril continuaram com reservas sobre a queda da ditadura e ninguém esperava que o MFA fosse ocupar o Rádio Clube Português para mandar fazer reportagens... A Emissora Nacional dava música clássica e quanto aos Emissores Associados, ninguém ouvia nem podia ouvir isto.
Os primeiros debates políticos com intenção deliberadamente pluralista aconteceram no Limite. Mas também todo este sonho acabou no dia 8 de Junho de 1974, após a transmissão da primeira entrevista com Arnaldo Matos (na presença de Fernando Rosas, o historiador deve recordar bem a cena) e depois de terem sido ouvidas personalidades dos mais diversos quadrantes.
A Renascença acabou com o Limite trocando-o pelo efémero "Voz dos Trabalhadores" decidido em plenário, onde também ninguém se solidarizou com as circunstâncias que ditaram o fim do contrato firmado entre o Limite e a Renascença.
Não foi difícil perceber que a colisão frontal entre o Limite e a administração da Renascença de então resultou do facto de se ter usado a estação para a transmissão da senha. Até hoje, ao que se saiba, nunca a estação assumiu como ponto de honra o facto de ter acontecido nessa casa o gesto que significou a mudança radical da vida portuguesa, pois, se o fizesse, dificilmente poderia evitar a alma do Limite que tem todos os motivos para descansar em paz.
Até ao último momento da existência do programa ninguém compreendeu como a Igreja perdeu uma oportunidade excelente para, logo em 1974, sair da sexta-feira pouco santa da ditadura para decididamente entrar no dia de ar livre da ressurreição que começou a ocorrer apenas passados anos, limitada e tardiamente.
Digamos que sobre o Limite caiu uma espécie de maldição impensável e da qual, por certo, nestas páginas de alguma forma se livra tendo sido necessário deixar passar estes 25 anos para que se diga à vontade o que jamais pode ser entendido como defesa de causa própria. Na verdade, algo de fundamental para a Revolução do 25 de Abril faz parte do património disso que hoje é já mera lembrança e simples recordação, mas que para aquela grande parte de uma geração a entrar nos 40, 50 e 60 que não perdeu ou não quis perder a memória, continua a ser a evocação suave de uma deliberada cultura de sensibilidade e da fragrância de um perfume com as possíveis palavras rasgadas nas noites de terror.
Não se está a sugerir o descerramento de uma placa à entrada da Renascença, nem outra coisa qualquer. O que se sugere é que já era altura de a Renascença assumir o Limite como facto importante da sua biografia, como altura é dos historiadores e candidatos a isso serem mais rigorosos e precisos, quanto a nomes, horas e formas. Sobretudo, ouvindo quem fez sobre o que fez.
© 1999 Diário de Notícias
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ÚLTIMO EPISÓDIO
PRÓXIMO "FORA-DE-HORAS" A 29/04/17
1-BIZARRO
FORA "D'ORAS"
XIX-MOUNT OLYMPUS
ÚLTIMO EPISÓDIO
PRÓXIMO "FORA-DE-HORAS" A 29/04/17
*Quem diz que os artistas não são atletas?
O artista belga Jan Fabre e 27 outros artistas conceberam uma apresentação de 24h sem paragem nem intervalos, intitulada de Mount Olympus, que foi estreada no Berliner Festspiele.
O incrível feito de resistência foi escrito, dirigido e coreografado por Fabre, que novamente empurra os limites do teatro.
Depois de 12 meses de ensaios, Mount Olympus tentou unir todas as facetas do trabalho anterior do artista.
Descrito como 'um projecto excepcional' no site do Berliner Festspiele, os artistas 'dançaram, actuaram, amaram, sofreram, dormiram e sonharam ao percorrerem os mitos da Grécia antiga'. Levaram os espectadores através duma actuação entre o acordar e o
sonhar, entre o sonho e a realidade.
Actuações anteriores baseadas na resistência, tal como a sua peça de oito horas 'Isto é Teatro Como Era Esperado e Antecipado' (1982), revolucionaram o conceito da arte de teatro e actuação.
Desde 1951 que o Berliner Festspiele une uma variedade de entre-cruzamentos de disciplinas artísticas e de eventos culturais para promover a rica e colorida paisagem artistica de Berlim.
** Somos suficientemente incultos e incapazes para considerar como arte este espectáculo, não há como aprender e digerir.
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** Somos suficientemente incultos e incapazes para considerar como arte este espectáculo, não há como aprender e digerir.
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