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Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
16/04/2017
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X-PEDRAS QUE FALAM
2- QUEM BUSCA A RIBEIRA
A RIBEIRA VEM BUSCAR
A
RTP Madeira produziu um excelente documentário, numa série de 12 programas, sobra
a temática dos recursos naturais com incidência nos recursos
geológicos, a que denominou "Pedras que falam", de autoria do Engº
Geólogo João Baptista Pereira Silva.
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Katie Hinde
O que não sabemos
sobre o leite materno
O leite materno faz o corpo dos bebês crescerem, potencializa o seu neurodesenvolvimento, formece fatores imunológicos essenciais e os protege de inanição e doenças.
Por que, então, a ciência sabe mais sobre tomates do que sobre o leite materno? Katie Hinde compartilha descobertas sobre essa substância complexa e vital, e discute as maiores lacunas que as pesquisas científicas ainda precisam preencher para que possamos compreendê-la melhor.
Por que, então, a ciência sabe mais sobre tomates do que sobre o leite materno? Katie Hinde compartilha descobertas sobre essa substância complexa e vital, e discute as maiores lacunas que as pesquisas científicas ainda precisam preencher para que possamos compreendê-la melhor.
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MARIA FILOMENA MÓNICA
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IN "OBSERVADOR"
14/04/17
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Os casamentos nulos
Se há coisa que me seduz é a polémica. Por isso, decidi responder
ao pe Portocarrero de Almada. Penso que agnósticos, como eu, têm
direito a falar sobre o que se passa dentro e fora da Igreja Católica
Há dias, o pe Gonçalo Portocarrero de Almada decidiu criticar
alguns apontamentos por mim escritos no jornal Expresso (4.3.2017)
sobre «a anulação dos casamentos católicos» Se há coisa que me seduz é
uma polémica. Por isso, decidi responder-lhe, mesmo sabendo que de nada
serve, porque quem é da Opus Dei, como é o seu caso, nunca terá em
devida consideração quem se lhe opõe.
Dou de barato a sua afirmação de que «A doutrina canónica sobre o
matrimónio é complexa, porque exige conhecimentos teológicos e
jurídicos». Quem os não tem – como eu – não deveria meter a foice em
seara alheia. Em primeiro lugar, julgo que esta concepção aristocrática é
obsoleta, dado que a Igreja inclui, além do Papa, dos cardeais e dos
sacerdotes, os fiéis. Em segundo lugar, penso que agnósticos, como eu,
têm direito a falar sobre o que se passa dentro e fora da Igreja
Católica, mesmo correndo o risco de não serem capazes de distinguir
alguns conceitos, tais como a diferença entre «anulações» e «declarações
de nulidade».
A minha falta de cultura teológica só em parte me pode ser atribuída.
Educada durante 13 anos num colégio de freiras nada aprendi para além
da Avé Maria, dos Sete Pecados Mortais e, claro, do hino que começa com
as seguintes palavras: «Queremos Deus homens ingratos/Ao pai supremo, ao
redentor/ Zombam da fé os insensatos/Erguem-se em vão contra o Senhor».
A responsabilidade pelo meu analfabetismo religioso não se pode
atribuir às freiras do Colégio das Doroteias mas à posição do Vaticano
no que diz respeito às mulheres. A latente misoginia da Santa Sé
traduz-se não só no facto de as mulheres ainda não poderem celebrar a
missa mas na sua ignorância quando comparadas com a dos padres.
Portadoras de uma educação teológica medíocre, obviamente não conseguem
transmitir aquilo que não conhecem.
Se hoje posso falar da Igreja Católica como mais à vontade do que
sucedia na minha adolescência deve-se a algumas leituras, como, por
exemplo, o livro de Diarmaid MacCulloch A History of Christianity,
e a conversas com os amigos, fossem eles judeus, anglicanos ou
católicos (os últimos exibindo ideias bastante diferentes das de
Portocarrero de Almada), quando vivi lá fora.
Como é evidente, não foi minha intenção infamar a «justiça eclesial».
Limitei-me tão só a citar declarações do papa Francisco e a relembrar a
minha própria experiência. Não retiro uma vírgula ao que disse,
especialmente na matéria da anulação do casamento (deixo-me de
bizantinices canónicas). Pelo baptismo, sim, «sou filha de Deus», mas
não é verdade que, através desse acto, partilhe do saber divino.
Portocarrero de Almada é doutorado em Filosofia pela Universidade
Pontifícia de St. Cruz em Roma. Pode saber imenso de doutrina católica,
mas nada sabe de Sociologia, o que por vezes faz falta. Nesta disciplina
existem coisas que ele poderia usar sem grandes apetrechos estatísticos
(uma mera correlação bastaria). Desafio-o, por conseguinte, a que
procure nos arquivos da Igreja a lista dos casamentos «anulados» em
Portugal ao longo dos últimos 100 anos, a fim de verificar a origem
social de quem a tal recorreu. Dado que, segundo li na imprensa, o acto
da anulação custa actualmente uma quantia que vai dos 2.500 e 10.000
euros, presumo que nessa lista não encontrará pobres.
Aliás, ninguém melhor do que Portocarrero de Almada para nos fornecer
dados sobre a justiça eclesial, ou seja, a forma como o dinheiro tem ou
não sido determinante na anulação dos casamentos.
Já que falo em
dinheiro, é altura de mencionar não só os «escândalos» financeiros que
se verificaram há alguns anos no seio do Vaticano, como a ausência de
uma investigação às finanças da Igreja portuguesa. Isto é tanto mais
necessário quanto, em Portugal, a Igreja recebe avultados fundos
públicos, o que, em geral, é escamoteado. É neste habitat que os rumores
se multiplicam. Não posso provar ser um facto aquilo que a minha mãe
pensava sobre a forma de se obter a anulação do casamento mas,
conhecendo-a como a conhecia e ocupando ela lugares importantes na Acção
Católica, é pouco plausível que acreditasse em fábulas.
Com ar superior, Portocarrero de Almada declara ainda que «os juízes
eclesiásticos, para além de jurisconsultos, são indulgentes e
misericordiosos pastores que, por certo, lhe (a mim) relevam esta
gravíssima ofensa» (o facto de ter afirmado que as anulações do
casamento era coisa de ricos). Não preciso de jurisconsultos católicos
para nada. Muito menos do seu perdão.
Não se pense que tudo quanto escreve Portocarrero de Almada é claro.
Alguém é capaz de me explicar o que, a certa altura, declara: «É verdade
que o casamento ‘rato e não consumado’, ou seja celebrado validamente
mas sem que tenha chegado a haver a união dos cônjuges, pode ser
dissolvido pelo papa que, depois da consumação, já o não pode desfazer.
No entanto, pode haver casamentos válidos entre cônjuges que não têm
entre si relações sexuais, como também há casamentos nulos entre pessoas
que conjuntamente tiveram geração»? Eu devo ser burra, porque não
entendo esta tese.
Nascido em Haia, em terras outrora pertencentes aos Habsburgos
espanhóis que dominaram o Sacro-Império Romano-Germânico, talvez que
Portocarrero de Almada imagine que a Igreja ainda manda nos povos
europeus. Engana-se. Todos os dias, neste Continente, o número de
católicos diminuiu.
Aliás, não será com atitudes como a sua que
conseguirá manter os fiéis na Igreja, nem, muito menos, conquistar
novos. Como tem sentido de humor, o que verifiquei por ocasião do
lançamento de um livro seu, aconselho-o a ver o sketch dos Monty Python
intitulado The Spanish Inquisition. Em nota mais séria, poderá ainda ouvir a cena 2 do acto III do Don Carlo
de Verdi, quando os flamengos, que vêm pedir ao rei autonomia para a
Flandres, acabam estornicados num auto-da-fé organizado pelo Grande
Inquisidor.
Ao ouvir hoje esta obra-prima operática fui assaltada por
uma dúvida. Será que Elizabeth de Valois poderia ter solicitado ao
Vaticano a anulação do seu casamento com rei D. Filipe II? Penso que
sim, mas tenho de acabar, pois desejo consultar alguns jurisconsultos
católicos sobre este importante assunto.
IN "OBSERVADOR"
14/04/17
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* Viagem extraordinária pelos tesouros da História de Portugal superiormente apresentados por Paula Moura Pinheiro.
Mais uma notável produção da RTP
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XXII-VISITA GUIADA
Museu Nacional
de Arte Antiga
LISBOA - PORTUGAL
* Viagem extraordinária pelos tesouros da História de Portugal superiormente apresentados por Paula Moura Pinheiro.
Mais uma notável produção da RTP
*
As nossas séries por episódios são editadas no mesmo dia da semana à
mesma hora, assim torna-se fácil se quiser visionar episódios
anteriores.
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* Gente civilizada
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HOJE NO
"A BOLA"
Benfica
«Traqueia de Vukcevic ainda
tem as impressões digitais
de Maxi Pereira» - João Gabriel
tem as impressões digitais
de Maxi Pereira» - João Gabriel
João Gabriel, antigo diretor de comunicação do
Benfica, partilhou na rede social Twitter um post em que ironiza com os
polémicos episódios do SC Braga–FC Porto de sábado.
«Brahimi já fala português. Vuk sofre duplo atentado, mas consegue sair do jogo a respirar! Traqueia do sérvio ainda tem as impressões digitais do Maxi», declarou, em referência às imagens que mostram Maxi Pereira a agarrar a garganta do jogador do SC Braga.
João Gabriel viria mais tarde a corrigir as palavras, pedindo desculpas ao enganar-se na nacionalidade do jogador, mas a salientar a agressão.
«Ao Vuk, as minhas desculpas! Montenegrino, mas as impressões digitais continuam lá».
Para além dos ataques particulares a Maxi e Brahimi, João Gabriel disse ainda que «desta vez o FC Porto não festejou o empate».
«Brahimi já fala português. Vuk sofre duplo atentado, mas consegue sair do jogo a respirar! Traqueia do sérvio ainda tem as impressões digitais do Maxi», declarou, em referência às imagens que mostram Maxi Pereira a agarrar a garganta do jogador do SC Braga.
João Gabriel viria mais tarde a corrigir as palavras, pedindo desculpas ao enganar-se na nacionalidade do jogador, mas a salientar a agressão.
«Ao Vuk, as minhas desculpas! Montenegrino, mas as impressões digitais continuam lá».
Para além dos ataques particulares a Maxi e Brahimi, João Gabriel disse ainda que «desta vez o FC Porto não festejou o empate».
* Gente civilizada
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ESTA SEMANA NO
"SOL"
"SOL"
Cristina Guerra:
'Quanto mais importantes menos
.prima-dona são os artistas'
A obra mais cara que vendeu custou meio milhão de dólares e está em Portugal. Cristina Guerra diz que o tipo de arte que expõe não é fácil, por isso os seus clientes são «uma elite culta com o gosto muito apurado». E critica a incultura dos governantes, que contrapõe ao interesse de Guterres e de Durão Barroso, que «às vezes passava uma hora e meia na galeria».
Filha de um colecionador que era também amigo de
artistas e arquitetos, Cristina Guerra move-se desde a infância entre
figuras ligadas às artes.
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Em 2001 abriu a galeria com o seu nome, na Estrela (Lisboa), e 16 anos depois é uma das mais pessoas mais respeitadas no meio, participando regularmente nas principais feiras de arte contemporânea, como a Art Basel, na Suíça, e a Art Basel Miami Beach, nos Estados Unidos.
A conversa decorre num escritório situado na cave da sua galeria – o mesmo lugar, revela, onde se fazem «os negócios e os jantares» de inauguração.
Como entrou para este mundo da arte contemporânea?
O meu pai era colecionador. Já muito nova movia-me num meio bastante interessante e tinha uma relação de grande proximidade com o mundo não só das artes visuais como do cinema. Conhecia o Leitão de Barros, o Keil do Amaral, o Carlos Ramos, essa gente toda.
O que fazia o seu pai?
O meu pai foi a pessoa que trouxe para Portugal as máquinas heliográficas [técnica de cópia a cores], por isso é que estava muito próximo tanto de arquitetos como de artistas. Ele ia a Paris imensas vezes, e também a Madrid, e eu ia com ele a exposições. Caí no caldeirão, como costumo dizer. Tive uma educação um bocado burguesa, mas depois dei a volta. Trabalhei com a Ana Isabel Rodrigues, que tinha uma galeria na Rua da Emenda, e mais tarde com a Dulce D’Agro [artista, colecionadora e fundadora da Galeria Quadrum]. Foi aí que passei a ver a arte de outra maneira.
Que tipo de arte o seu pai colecionava?
Colecionava sobretudo as pessoas de quem era amigo: o Thomaz de Mello, o Euclides, o Martins Correia, o Calvet, o Nery. Só para ter uma ideia, eu com cinco anos ou seis já conhecia o Ângelo de Sousa e o António Sena. O Rodrigo também era muito amigo do meu pai…
Tudo num gosto bastante contemporâneo, portanto.
Pode-se dizer que sim.
O que é feito dessa coleção?
Umas coisas vendi, outras ofereci, porque algumas delas hoje valem muito pouco e há pessoas que gostam, de modo que prefiro oferecer. Sou muito pouco ligada à propriedade, sou muito…
Desprendida?
Desprendida. Tenho obras, claro, e quando entram em minha casa normalmente já não saem. Mas é preciso eu estar com elas, caso contrário, se alguém aparecer e eu vir que gosta mesmo de uma obra, sou capaz de lha oferecer. Mesmo a alguns colecionadores. Só há uma coisa que eu adoro e em relação à qual tenho esse sentimento de propriedade: os livros. Sou completamente doida por livros. Muitas vezes até compro a duplicar. Mesmo aqueles livros de que não gosto é muito difícil desfazer-me deles.
Tem muitos livros?
Tenho muitos livros. E não só de arte. Adoro História, por exemplo, gosto muito de ensaio, sociologia… Há muitíssimas coisas que me interessam.
O que estudou?
Tirei Geológicas, porque queria fazer vulcanismo. Entretanto há a revolução e, como ninguém fazia nada, não acabei o curso. Acabei por ser convidada para uma galeria, e foi assim que entrei neste mundo. Ainda andei um tempo no IADE, mas era muito engraçado porque já expunha alguns daqueles que eram meus professores. Mas não era, como se diz, para ter o canudo, era para perceber.
Como escolhe as obras que expõe aqui na galeria?
Tenho um lado muito intuitivo, mas também tenho um lado muito racional. Talvez até por causa dos livros, fui adquirindo um tipo de gosto mais intelectualizado. Essas são as grandes bases das minhas escolhas a nível de arte. E tenho outra coisa: provavelmente porque gosto de arquitetura, preciso de espaço dentro das obras. Já quando tem muita cor… pode haver cor, mas se há muita cor misturada… [torce o nariz] Se calhar tenho a cabeça muito desarrumada e preciso de uma certa serenidade. Há coisas que posso reconhecer que são muito boas mas não me interessam. É como os costureiros. Há roupa que eu reconheço que é fantástica mas nunca vestiria. Gosto muitíssimo de minimalismo e de conceptualismo, portanto as pessoas para me comprarem coisas têm de perceber um bocadinho de arte.
Também se apaixona pelas obras?
É uma relação mais racional. Talvez me apaixone pela ideia ou pela obra de um artista. É o todo que me interessa, não é o objeto em si. Sou um bocado desapaixonada. Mas tenho um lado emocional.
Quem é o seu tipo de cliente?
É normalmente um tipo culto, mas não precisa de ser rico – quer dizer, não são banqueiros nem promotores imobiliários. Há pessoas que têm dificuldades económicas e compram obras, inclusivamente podem pagar em prestações. Tem o caso do António Cachola, que é um assalariado (é financeiro dos Cafés Delta), e no entanto tem uma coleção que o Estado Português não tem. Os meus clientes em geral são uma elite culta, com um gosto muito apurado, porque é muito difícil chegar aqui, olhar e gostar à primeira. E costumo dizer que a partir do momento em que me compram uma obra, normalmente não param.
Não são pessoas que vêm comprar um quadro para pôr na sala.
Este tipo de arte que exponho... Para mim já é muito decorativo, porque é o que eu gosto, mas há muitas pessoas que não veem nada nestas obras.
Nunca teve aquele cliente tipo ‘pato bravo’ que compra arte para se promover socialmente?
Como calcula, não lhes pergunto se é para se promoverem socialmente. As pessoas que vêm aqui têm de perceber um bocadinho, e por norma escolhem as obras melhores. Depois cada um tem as suas motivações.
Há obras que quase precisam de um livro de instruções para que as possamos entender. Não acha que há um certo tipo de arte demasiado teórica?
Os artistas normalmente fazem as coisas sem explicação – fazem-nas, simplesmente. Mas têm sempre fontes, têm referências. O que eles fazem tem de vir de algum lado. O artista é alguém completamente individualista, que tem uma certa ideia e há uma coisa qualquer em relação à qual ele é obsessivo. É como nós, quando somos adolescentes e procuramos a filosofia, a psicologia ou outra coisa para tentarmos perceber quem somos. Os artistas têm muito isso: estão sempre à procura. Normalmente – e para mim é isso que define o bom artista – você encontra sempre referências que só podem ser dele. Agora, por exemplo, o Julião [Sarmento] mandou-me uma obra de um artista chinês que é nitidamente cópia da obra do Julião. Já tem imitadores.
Isso deve ser o sonho de qualquer artista, ser copiado!
No fundo é porque está a fazer história.
Há artistas que têm um discurso muito denso, citam filósofos, etc. Você também tem de ler muito para poder acompanhar os raciocínios e a obra deles?
As minhas escolhas são feitas muito intuitivamente. A partir do momento em que me interessa vou tentar ver mais obras, informar-me. Mas não leio muita coisa relativamente aos artistas. Prefiro falar diretamente com eles. Quando trabalho com um artista mais novo, por exemplo, interessa-me perceber a cabeça dele. Interessa-me a obra, quero perceber o que faz, mas depois tenho de o conhecer. Faço-lhe perguntas, ponho em causa coisas que não percebo na obra dele… ou percebo. Ao fim de tantos anos – já ando nisto desde 83 – quando estou com um artista novo percebo perfeitamente as referências dele.
Consegue detetar as fragilidades?
O que me interessa é que o discurso seja consistente com a obra. Já me passaram tantas coisas pela mão – e se calhar é por isso que não tenho essa preocupação com a propriedade – que às tantas sei perfeitamente o que o artista faz ou deixa de fazer ou o que vai fazer a seguir. Não tenho certezas, mas até hoje não me tenho enganado muito.
Apresentam-lhe muitos portfolios de artistas que tem de recusar?
Eu não trabalho com objetos, trabalho com pessoas. Não posso estar hoje com um artista e amanhã largá-lo. Há quem vá buscar artistas que já têm um nome, que são apostas certas. Outra coisa é trabalhar com artistas jovens, temos de os ajudar a tornarem-se conhecidos. Por isso é que já não quero trabalhar com artistas de 24 ou 25 anos, dá muito trabalho. É quase preciso mudar-lhes as fraldas.
O que tem de lhes explicar que ainda não sabem?
Os artistas em Portugal têm um problema, que é não terem uma noção da gestão de obra. Para eles é fazer a obra e pronto. Por exemplo: para eles a fotografia é um múltiplo, e fazem edições de 5 + 5 [impressões]. Um colecionador detesta ter uma obra que às tantas lhe aparece noutros sítios.
Porque deixa de ser rara?
A obra de arte é mesmo para ser rara. Porque é que a pintura continua a ter um valor especial? Porque é única. Pode haver parecidas, mas não há igual. Na fotografia justifica-se que haja múltiplos, mas tem de haver alguma contenção, caso contrário nunca se vai valorizar muito.
Também de lidar com as angústias e as crises dos artistas?
Às vezes tenho de dar apoio, é normal. Mas hoje em dia não tanto. É por isso também que não me interessa trabalhar com artistas muito jovens. Já tive a minha dose. Todos os artistas têm os seus problemas, aos 40 os problemas não são os mesmos que aos 28.
Que tipo de problemas?
Há uma coisa que é a realidade e outra coisa que é a ideia deles, e a ideia deles é um bocado irrealista, querem sempre mais. Às vezes sinto que tenho de estar a medir forças com eles. Exceto com estes mais velhos. Os artistas americanos, sobretudo, têm os pés muito assentes na terra, são muito objetivos. Aqui em Portugal os artistas ainda são muito românticos.
Não pode haver o problema oposto, de o artista se tornar quase um comerciante, alguém que está mais preocupado em gerir a sua obra do que com a criação?
Acho que não. Atrás da gestão de obra, têm que fazer boa obra. É como eu. Podia trabalhar só com artistas caros – e até os vendia. Mas como quero trabalhar também com os mais novos, tenho de encontrar um equilíbrio. Todos os dias há que fazer opções, se não entramos num buraco financeiro.
Os artistas têm-se num conceito muito alto?
[Hesita] Não, acho é que têm uma forma de pensar muito própria, são extremamente egoístas e um bocado autistas. Mas isso é natural. Por um lado, porque trabalham sozinhos, por outro lado porque muitas vezes as pessoas acham que aquilo não presta para nada e eles têm de estar convictos de que presta, têm de ter uma confiança neles próprios absolutamente incrível. Mas sobretudo têm de pensar na carreira. Se um artista está comigo e crescer mais do que a galeria, não posso ficar aborrecida se ele me disser: ‘Agora já não dá, vou-te deixar’. Tenho de perceber isto. Tal e qual como, para a galeria crescer, há artistas que provavelmente vão ter que sair para outras galerias. Mas larguei muito poucos artistas e muito poucos me largaram.
Como é que deixar de trabalhar com um artista pode ajudar a galeria a crescer?
Se eu quiser fazer mais feiras, provavelmente vou ter de trabahar com artistas mais caros. Tenho artistas que custam entre 3500 e 6000 euros. Ficando eu com metade, é um bocadinho complicado pagar feiras de cem mil euros. Mas tenho de ter muito cuidado para não magoar aquela pessoa. Quando deixo de trabalhar com um artista ele pode sentir que eu estou a dizer que a obra não é boa e não é verdade. Às vezes a coisa não funciona porque nos damos mal, ou porque ele quer mais, ou eu quero mais. E tenho de gostar da pessoa que está por trás da obra.
Não dissocia a obra do autor?
Não consigo.
Se for um tipo insuportável não consegue gostar da obra?
Pior ainda: quando deixo de trabalhar com um artista, já não consigo gostar daquilo. É estranho mas é verdade.
Na venda de uma obra, quanto fica para o artista e quanto fica para a galeria?
50/ 50.
Não há artistas que se queixam?
Não. Ao contrário do que muita gente pensa, o mundo da arte contemporânea tem regras muito bem definidas. Hoje o mundo é global e eu já percebi isso há muito tempo. Por isso é que no segundo ano de galeria já fazia Miami e depois estava a fazer Basel [a maior feira de arte contemporânea da atualidade, na Suíça].
Quanto custa participar numa grande feira como a Art Basel?
Só o stand, que tem qualquer coisa como 60 metros quadrados, custa 100 mil euros.
Se não fosse lá, quais seriam as consequências? Era como um clube de futebol que não ia à Liga dos Campeões?
Não é bem assim, porque teria de fazer outras feiras. Iria para outra feira qualquer, e há feiras boas. Mas prefiro estar em Basel porque é uma referência. Há um comité que faz uma seleção rigorosa e nem toda a gente consegue estar lá. E estamos sempre sujeitos a que nos ponham na rua. Uma vez facilitei e deixaram-me um aviso.
A dizer o quê?
A dizer para ter mais atenção à qualidade das obras expostas. Por isso é que, para conseguir aguentar a ‘primeira divisão’, em que é tudo mais caro e difícil, tenho de ter bons jogadores, que neste caso são artistas.
Na Art Basel de Miami há aquelas personagens extravagantes ou a feira é parecida com as da Europa?
Não, não é nada parecido com a Europa. Para mim é muito extravagante.
Veem-se pessoas conhecidas?
São muito aqueles modelos e há homens vestidos com plumas e sapatos de salto alto. É uma ‘fauna’ completamente extravagante e desvairada.
E pelo meio disso vão comprando?
Também há pessoas que considero normais, com um pensamento mais europeu, e são essas que me compram. Os outros andam ali mais para se mostrar.
Há festas e jantares?
Há muitas festas e muitos jantares, mas normalmente mantemo-nos um bocadinho à parte porque fazer uma feira é fisicamente pesado. Basel também é pesado mas noutro sentido. É muito mais interessante, as pessoas veem as obras e querem saber mais sobre o artista. Em Miami no ano passado felizmente houve uma maior sobriedade, coisa que eu prefiro, porque pessoas loucas e desvairadas não faz muito o meu género.
Esse pitoresco local não tem uma certa graça?
Está bem, mas pagar cem mil euros para ver pitoresco... Para isso prefiro ir ao Carnaval do Rio.
Em alturas de aperto, as pessoas começam por cortar naquilo que é supérfluo. Sentiu muito a crise?
Claro que se notou. Foi terrível, sobretudo em 2009, 2010 e 2011. E ainda não está bem, mas está melhor. Eu tenho a vantagem de vender muito para fora.
Nas feiras ou noutros circuitos?
Tenho clientes que vêm de propósito a Lisboa para virem à galeria. Estou a alargar um bocadinho, se não já tinha fechado. Os museus não compram, as instituições não compram, e quando compram demoram imenso tempo a pagar. Muitas vezes as coisas sobem e eles ainda não nos pagaram. Mas interessa-nos que um artista nosso esteja num museu, portanto aguentamos. Isto é um bocado terrível, mas é a realidade portuguesa. Há uma falta de vontade – acho que é falta de cultura, provavelmente até dos primeiros-ministros, porque se não escolhiam uma pessoa para ministro da Cultura que percebesse o que está a fazer. Isso existiu no tempo de Mário Soares, que gostava de arte. António Guterres também gostava de arte e Durão Barroso às vezes passava aqui uma hora e meia comigo na galeria. Não comprava, mas falava e sabia. Quando estava em Bruxelas chegava a sair às oito da manhã para estar às nove em Ghent para ver exposições.
Disse-me que vendia obras na casa dos 3-6 mil euros. E a mais cara que já vendeu, qual foi?
Uma obra do Baldessari. Foi a obra mais cara que vendi até hoje. Meio milhão de dólares.
Foi a um colecionador português?
Sim. E a obra está cá em Portugal. Foi há relativamente pouco tempo. E não se pense que foi um banqueiro que a comprou.
Quem estabelece o preço de uma obra, o artista ou o galerista?
Os dois. Os artistas têm uma cotação e essa cotação, dependendo de como está o mercado, ou se sobe ou se mantém – nunca se pode descer. Desde 2008 até há um ano tive os preços estagnados. E agora subi-os. Vou fazer uma exposição do José Loureiro [inaugura a 18 de abril] e também vou subir um bocadinho.
Não há artistas que queiram pedir preços demasiados elevados?
Os artistas locais podem pôr os preços que quiserem, mas estamos num mundo global e os preços não são por acaso. Por isso é que eu digo que isto tem regras. Os preços de um artista têm de ter relação com o seu currículo. Um artista não pode logo querer ter preços de três mil euros.
Mesmo que a obra seja muito boa?
Não deve. Se um artista que não fez nada na vida aparecer aqui a pedir-me três mil euros, tento dizer-lhe por que não deve ser assim.
Viu um artista que há pouco tempo se fechou sete dias numa rocha?
Não.
Ele escavou o interior da rocha e preparou mantimentos para aquele período. A obra seguinte foi chocar ovos de galinha, sentou-se em cima deles até eclodirem. Já houve artistas que lhe apresentassem propostas deste género?
Não, até porque um tipo que me viesse com uma conversa dessas acho que não era bom da cabeça, portanto estava logo afastado.
Há muitos artistas que são prima-donas?
Hoje, quanto mais importantes são os artistas, menos prima-donas são. Um tipo que é um grande artista tem de ser um grande ser humano. Há o Dalí, que era um bocado desvairado…
E o Picasso…
O Picasso era o que era. Mas são épocas diferentes. Hoje em dia um artista é um tipo profissional. É alguém que faz bem o que faz e que vive no mundo real, embora com todas as suas idiossincrasias.
Tem conhecido grandes seres humanos?
Tenho. O Lawrence Weiner, o Baldessari, o Robert Barry. Como seres humanos são superiores.
Em que sentido?
São tipos duros, exigentes, mas também são muito compreensivos e já não têm aquelas inseguranças das pessoas mais novas. Já não precisam de demonstrar nada a ninguém. São extremamente generosos e intuitivos. E extremamente inteligentes. O Baldessari mais pacato, o Weiner extremamente brilhante. Às vezes riem-se com algumas perguntas que lhes fazem, mas entendem-nas. Por norma têm uma grande paciência.
Sabedoria?
É sabedoria, no fundo. Serenidade. Percebem perfeitamente o outro, desde que o outro os respeite. Já os vi duas ou três vezes ‘passados’, mas é muito raro.
Lembra-se de alguma situação particular?
Lembro mas não lhe vou contar.
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Em 2001 abriu a galeria com o seu nome, na Estrela (Lisboa), e 16 anos depois é uma das mais pessoas mais respeitadas no meio, participando regularmente nas principais feiras de arte contemporânea, como a Art Basel, na Suíça, e a Art Basel Miami Beach, nos Estados Unidos.
A conversa decorre num escritório situado na cave da sua galeria – o mesmo lugar, revela, onde se fazem «os negócios e os jantares» de inauguração.
Como entrou para este mundo da arte contemporânea?
O meu pai era colecionador. Já muito nova movia-me num meio bastante interessante e tinha uma relação de grande proximidade com o mundo não só das artes visuais como do cinema. Conhecia o Leitão de Barros, o Keil do Amaral, o Carlos Ramos, essa gente toda.
O que fazia o seu pai?
O meu pai foi a pessoa que trouxe para Portugal as máquinas heliográficas [técnica de cópia a cores], por isso é que estava muito próximo tanto de arquitetos como de artistas. Ele ia a Paris imensas vezes, e também a Madrid, e eu ia com ele a exposições. Caí no caldeirão, como costumo dizer. Tive uma educação um bocado burguesa, mas depois dei a volta. Trabalhei com a Ana Isabel Rodrigues, que tinha uma galeria na Rua da Emenda, e mais tarde com a Dulce D’Agro [artista, colecionadora e fundadora da Galeria Quadrum]. Foi aí que passei a ver a arte de outra maneira.
Que tipo de arte o seu pai colecionava?
Colecionava sobretudo as pessoas de quem era amigo: o Thomaz de Mello, o Euclides, o Martins Correia, o Calvet, o Nery. Só para ter uma ideia, eu com cinco anos ou seis já conhecia o Ângelo de Sousa e o António Sena. O Rodrigo também era muito amigo do meu pai…
Tudo num gosto bastante contemporâneo, portanto.
Pode-se dizer que sim.
O que é feito dessa coleção?
Umas coisas vendi, outras ofereci, porque algumas delas hoje valem muito pouco e há pessoas que gostam, de modo que prefiro oferecer. Sou muito pouco ligada à propriedade, sou muito…
Desprendida?
Desprendida. Tenho obras, claro, e quando entram em minha casa normalmente já não saem. Mas é preciso eu estar com elas, caso contrário, se alguém aparecer e eu vir que gosta mesmo de uma obra, sou capaz de lha oferecer. Mesmo a alguns colecionadores. Só há uma coisa que eu adoro e em relação à qual tenho esse sentimento de propriedade: os livros. Sou completamente doida por livros. Muitas vezes até compro a duplicar. Mesmo aqueles livros de que não gosto é muito difícil desfazer-me deles.
Tem muitos livros?
Tenho muitos livros. E não só de arte. Adoro História, por exemplo, gosto muito de ensaio, sociologia… Há muitíssimas coisas que me interessam.
O que estudou?
Tirei Geológicas, porque queria fazer vulcanismo. Entretanto há a revolução e, como ninguém fazia nada, não acabei o curso. Acabei por ser convidada para uma galeria, e foi assim que entrei neste mundo. Ainda andei um tempo no IADE, mas era muito engraçado porque já expunha alguns daqueles que eram meus professores. Mas não era, como se diz, para ter o canudo, era para perceber.
Como escolhe as obras que expõe aqui na galeria?
Tenho um lado muito intuitivo, mas também tenho um lado muito racional. Talvez até por causa dos livros, fui adquirindo um tipo de gosto mais intelectualizado. Essas são as grandes bases das minhas escolhas a nível de arte. E tenho outra coisa: provavelmente porque gosto de arquitetura, preciso de espaço dentro das obras. Já quando tem muita cor… pode haver cor, mas se há muita cor misturada… [torce o nariz] Se calhar tenho a cabeça muito desarrumada e preciso de uma certa serenidade. Há coisas que posso reconhecer que são muito boas mas não me interessam. É como os costureiros. Há roupa que eu reconheço que é fantástica mas nunca vestiria. Gosto muitíssimo de minimalismo e de conceptualismo, portanto as pessoas para me comprarem coisas têm de perceber um bocadinho de arte.
Também se apaixona pelas obras?
É uma relação mais racional. Talvez me apaixone pela ideia ou pela obra de um artista. É o todo que me interessa, não é o objeto em si. Sou um bocado desapaixonada. Mas tenho um lado emocional.
Quem é o seu tipo de cliente?
É normalmente um tipo culto, mas não precisa de ser rico – quer dizer, não são banqueiros nem promotores imobiliários. Há pessoas que têm dificuldades económicas e compram obras, inclusivamente podem pagar em prestações. Tem o caso do António Cachola, que é um assalariado (é financeiro dos Cafés Delta), e no entanto tem uma coleção que o Estado Português não tem. Os meus clientes em geral são uma elite culta, com um gosto muito apurado, porque é muito difícil chegar aqui, olhar e gostar à primeira. E costumo dizer que a partir do momento em que me compram uma obra, normalmente não param.
Não são pessoas que vêm comprar um quadro para pôr na sala.
Este tipo de arte que exponho... Para mim já é muito decorativo, porque é o que eu gosto, mas há muitas pessoas que não veem nada nestas obras.
Nunca teve aquele cliente tipo ‘pato bravo’ que compra arte para se promover socialmente?
Como calcula, não lhes pergunto se é para se promoverem socialmente. As pessoas que vêm aqui têm de perceber um bocadinho, e por norma escolhem as obras melhores. Depois cada um tem as suas motivações.
Há obras que quase precisam de um livro de instruções para que as possamos entender. Não acha que há um certo tipo de arte demasiado teórica?
Os artistas normalmente fazem as coisas sem explicação – fazem-nas, simplesmente. Mas têm sempre fontes, têm referências. O que eles fazem tem de vir de algum lado. O artista é alguém completamente individualista, que tem uma certa ideia e há uma coisa qualquer em relação à qual ele é obsessivo. É como nós, quando somos adolescentes e procuramos a filosofia, a psicologia ou outra coisa para tentarmos perceber quem somos. Os artistas têm muito isso: estão sempre à procura. Normalmente – e para mim é isso que define o bom artista – você encontra sempre referências que só podem ser dele. Agora, por exemplo, o Julião [Sarmento] mandou-me uma obra de um artista chinês que é nitidamente cópia da obra do Julião. Já tem imitadores.
Isso deve ser o sonho de qualquer artista, ser copiado!
No fundo é porque está a fazer história.
Há artistas que têm um discurso muito denso, citam filósofos, etc. Você também tem de ler muito para poder acompanhar os raciocínios e a obra deles?
As minhas escolhas são feitas muito intuitivamente. A partir do momento em que me interessa vou tentar ver mais obras, informar-me. Mas não leio muita coisa relativamente aos artistas. Prefiro falar diretamente com eles. Quando trabalho com um artista mais novo, por exemplo, interessa-me perceber a cabeça dele. Interessa-me a obra, quero perceber o que faz, mas depois tenho de o conhecer. Faço-lhe perguntas, ponho em causa coisas que não percebo na obra dele… ou percebo. Ao fim de tantos anos – já ando nisto desde 83 – quando estou com um artista novo percebo perfeitamente as referências dele.
Consegue detetar as fragilidades?
O que me interessa é que o discurso seja consistente com a obra. Já me passaram tantas coisas pela mão – e se calhar é por isso que não tenho essa preocupação com a propriedade – que às tantas sei perfeitamente o que o artista faz ou deixa de fazer ou o que vai fazer a seguir. Não tenho certezas, mas até hoje não me tenho enganado muito.
Apresentam-lhe muitos portfolios de artistas que tem de recusar?
Eu não trabalho com objetos, trabalho com pessoas. Não posso estar hoje com um artista e amanhã largá-lo. Há quem vá buscar artistas que já têm um nome, que são apostas certas. Outra coisa é trabalhar com artistas jovens, temos de os ajudar a tornarem-se conhecidos. Por isso é que já não quero trabalhar com artistas de 24 ou 25 anos, dá muito trabalho. É quase preciso mudar-lhes as fraldas.
O que tem de lhes explicar que ainda não sabem?
Os artistas em Portugal têm um problema, que é não terem uma noção da gestão de obra. Para eles é fazer a obra e pronto. Por exemplo: para eles a fotografia é um múltiplo, e fazem edições de 5 + 5 [impressões]. Um colecionador detesta ter uma obra que às tantas lhe aparece noutros sítios.
Porque deixa de ser rara?
A obra de arte é mesmo para ser rara. Porque é que a pintura continua a ter um valor especial? Porque é única. Pode haver parecidas, mas não há igual. Na fotografia justifica-se que haja múltiplos, mas tem de haver alguma contenção, caso contrário nunca se vai valorizar muito.
Também de lidar com as angústias e as crises dos artistas?
Às vezes tenho de dar apoio, é normal. Mas hoje em dia não tanto. É por isso também que não me interessa trabalhar com artistas muito jovens. Já tive a minha dose. Todos os artistas têm os seus problemas, aos 40 os problemas não são os mesmos que aos 28.
Que tipo de problemas?
Há uma coisa que é a realidade e outra coisa que é a ideia deles, e a ideia deles é um bocado irrealista, querem sempre mais. Às vezes sinto que tenho de estar a medir forças com eles. Exceto com estes mais velhos. Os artistas americanos, sobretudo, têm os pés muito assentes na terra, são muito objetivos. Aqui em Portugal os artistas ainda são muito românticos.
Não pode haver o problema oposto, de o artista se tornar quase um comerciante, alguém que está mais preocupado em gerir a sua obra do que com a criação?
Acho que não. Atrás da gestão de obra, têm que fazer boa obra. É como eu. Podia trabalhar só com artistas caros – e até os vendia. Mas como quero trabalhar também com os mais novos, tenho de encontrar um equilíbrio. Todos os dias há que fazer opções, se não entramos num buraco financeiro.
Os artistas têm-se num conceito muito alto?
[Hesita] Não, acho é que têm uma forma de pensar muito própria, são extremamente egoístas e um bocado autistas. Mas isso é natural. Por um lado, porque trabalham sozinhos, por outro lado porque muitas vezes as pessoas acham que aquilo não presta para nada e eles têm de estar convictos de que presta, têm de ter uma confiança neles próprios absolutamente incrível. Mas sobretudo têm de pensar na carreira. Se um artista está comigo e crescer mais do que a galeria, não posso ficar aborrecida se ele me disser: ‘Agora já não dá, vou-te deixar’. Tenho de perceber isto. Tal e qual como, para a galeria crescer, há artistas que provavelmente vão ter que sair para outras galerias. Mas larguei muito poucos artistas e muito poucos me largaram.
Como é que deixar de trabalhar com um artista pode ajudar a galeria a crescer?
Se eu quiser fazer mais feiras, provavelmente vou ter de trabahar com artistas mais caros. Tenho artistas que custam entre 3500 e 6000 euros. Ficando eu com metade, é um bocadinho complicado pagar feiras de cem mil euros. Mas tenho de ter muito cuidado para não magoar aquela pessoa. Quando deixo de trabalhar com um artista ele pode sentir que eu estou a dizer que a obra não é boa e não é verdade. Às vezes a coisa não funciona porque nos damos mal, ou porque ele quer mais, ou eu quero mais. E tenho de gostar da pessoa que está por trás da obra.
Não dissocia a obra do autor?
Não consigo.
Se for um tipo insuportável não consegue gostar da obra?
Pior ainda: quando deixo de trabalhar com um artista, já não consigo gostar daquilo. É estranho mas é verdade.
Na venda de uma obra, quanto fica para o artista e quanto fica para a galeria?
50/ 50.
Não há artistas que se queixam?
Não. Ao contrário do que muita gente pensa, o mundo da arte contemporânea tem regras muito bem definidas. Hoje o mundo é global e eu já percebi isso há muito tempo. Por isso é que no segundo ano de galeria já fazia Miami e depois estava a fazer Basel [a maior feira de arte contemporânea da atualidade, na Suíça].
Quanto custa participar numa grande feira como a Art Basel?
Só o stand, que tem qualquer coisa como 60 metros quadrados, custa 100 mil euros.
Se não fosse lá, quais seriam as consequências? Era como um clube de futebol que não ia à Liga dos Campeões?
Não é bem assim, porque teria de fazer outras feiras. Iria para outra feira qualquer, e há feiras boas. Mas prefiro estar em Basel porque é uma referência. Há um comité que faz uma seleção rigorosa e nem toda a gente consegue estar lá. E estamos sempre sujeitos a que nos ponham na rua. Uma vez facilitei e deixaram-me um aviso.
A dizer o quê?
A dizer para ter mais atenção à qualidade das obras expostas. Por isso é que, para conseguir aguentar a ‘primeira divisão’, em que é tudo mais caro e difícil, tenho de ter bons jogadores, que neste caso são artistas.
Na Art Basel de Miami há aquelas personagens extravagantes ou a feira é parecida com as da Europa?
Não, não é nada parecido com a Europa. Para mim é muito extravagante.
Veem-se pessoas conhecidas?
São muito aqueles modelos e há homens vestidos com plumas e sapatos de salto alto. É uma ‘fauna’ completamente extravagante e desvairada.
E pelo meio disso vão comprando?
Também há pessoas que considero normais, com um pensamento mais europeu, e são essas que me compram. Os outros andam ali mais para se mostrar.
Há festas e jantares?
Há muitas festas e muitos jantares, mas normalmente mantemo-nos um bocadinho à parte porque fazer uma feira é fisicamente pesado. Basel também é pesado mas noutro sentido. É muito mais interessante, as pessoas veem as obras e querem saber mais sobre o artista. Em Miami no ano passado felizmente houve uma maior sobriedade, coisa que eu prefiro, porque pessoas loucas e desvairadas não faz muito o meu género.
Esse pitoresco local não tem uma certa graça?
Está bem, mas pagar cem mil euros para ver pitoresco... Para isso prefiro ir ao Carnaval do Rio.
Em alturas de aperto, as pessoas começam por cortar naquilo que é supérfluo. Sentiu muito a crise?
Claro que se notou. Foi terrível, sobretudo em 2009, 2010 e 2011. E ainda não está bem, mas está melhor. Eu tenho a vantagem de vender muito para fora.
Nas feiras ou noutros circuitos?
Tenho clientes que vêm de propósito a Lisboa para virem à galeria. Estou a alargar um bocadinho, se não já tinha fechado. Os museus não compram, as instituições não compram, e quando compram demoram imenso tempo a pagar. Muitas vezes as coisas sobem e eles ainda não nos pagaram. Mas interessa-nos que um artista nosso esteja num museu, portanto aguentamos. Isto é um bocado terrível, mas é a realidade portuguesa. Há uma falta de vontade – acho que é falta de cultura, provavelmente até dos primeiros-ministros, porque se não escolhiam uma pessoa para ministro da Cultura que percebesse o que está a fazer. Isso existiu no tempo de Mário Soares, que gostava de arte. António Guterres também gostava de arte e Durão Barroso às vezes passava aqui uma hora e meia comigo na galeria. Não comprava, mas falava e sabia. Quando estava em Bruxelas chegava a sair às oito da manhã para estar às nove em Ghent para ver exposições.
Disse-me que vendia obras na casa dos 3-6 mil euros. E a mais cara que já vendeu, qual foi?
Uma obra do Baldessari. Foi a obra mais cara que vendi até hoje. Meio milhão de dólares.
Foi a um colecionador português?
Sim. E a obra está cá em Portugal. Foi há relativamente pouco tempo. E não se pense que foi um banqueiro que a comprou.
Quem estabelece o preço de uma obra, o artista ou o galerista?
Os dois. Os artistas têm uma cotação e essa cotação, dependendo de como está o mercado, ou se sobe ou se mantém – nunca se pode descer. Desde 2008 até há um ano tive os preços estagnados. E agora subi-os. Vou fazer uma exposição do José Loureiro [inaugura a 18 de abril] e também vou subir um bocadinho.
Não há artistas que queiram pedir preços demasiados elevados?
Os artistas locais podem pôr os preços que quiserem, mas estamos num mundo global e os preços não são por acaso. Por isso é que eu digo que isto tem regras. Os preços de um artista têm de ter relação com o seu currículo. Um artista não pode logo querer ter preços de três mil euros.
Mesmo que a obra seja muito boa?
Não deve. Se um artista que não fez nada na vida aparecer aqui a pedir-me três mil euros, tento dizer-lhe por que não deve ser assim.
Viu um artista que há pouco tempo se fechou sete dias numa rocha?
Não.
Ele escavou o interior da rocha e preparou mantimentos para aquele período. A obra seguinte foi chocar ovos de galinha, sentou-se em cima deles até eclodirem. Já houve artistas que lhe apresentassem propostas deste género?
Não, até porque um tipo que me viesse com uma conversa dessas acho que não era bom da cabeça, portanto estava logo afastado.
Há muitos artistas que são prima-donas?
Hoje, quanto mais importantes são os artistas, menos prima-donas são. Um tipo que é um grande artista tem de ser um grande ser humano. Há o Dalí, que era um bocado desvairado…
E o Picasso…
O Picasso era o que era. Mas são épocas diferentes. Hoje em dia um artista é um tipo profissional. É alguém que faz bem o que faz e que vive no mundo real, embora com todas as suas idiossincrasias.
Tem conhecido grandes seres humanos?
Tenho. O Lawrence Weiner, o Baldessari, o Robert Barry. Como seres humanos são superiores.
Em que sentido?
São tipos duros, exigentes, mas também são muito compreensivos e já não têm aquelas inseguranças das pessoas mais novas. Já não precisam de demonstrar nada a ninguém. São extremamente generosos e intuitivos. E extremamente inteligentes. O Baldessari mais pacato, o Weiner extremamente brilhante. Às vezes riem-se com algumas perguntas que lhes fazem, mas entendem-nas. Por norma têm uma grande paciência.
Sabedoria?
É sabedoria, no fundo. Serenidade. Percebem perfeitamente o outro, desde que o outro os respeite. Já os vi duas ou três vezes ‘passados’, mas é muito raro.
Lembra-se de alguma situação particular?
Lembro mas não lhe vou contar.
E não há grandes artistas que sejam execráveis?
Deve haver. Há tipos que têm mau feitio, mas tenho a sorte de não trabalhar com esses.
* Só se aprende com quem sabe e quem sabe usa a discrição.
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HOJE NO
"EXPRESSO"
"EXPRESSO"
“É evidente que Nossa Senhora
não apareceu em Fátima”
Anselmo Borges, padre da Sociedade Missionária Portuguesa, falou ao Expresso a propósito do lançamento do seu novo livro — “Francisco: Desafios à Igreja e ao Mundo”
Decidiu ser padre aos 19 anos porque a morte o inquietava. Ainda
pensa na finitude, mas diz que “a única porta de salvação para uma vida
eterna” foi Jesus quem lha abriu. Entrou há 50 anos, ao ser ordenado
pelo cardeal Cerejeira.
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Nunca deixou a Igreja mas arrepiou caminho e
escolheu a via da crítica ativa. Professor universitário em Coimbra,
lança um novo livro — “Francisco: Desafios à Igreja e ao Mundo” —,
prefaciado por Artur Santos Silva e, a partir da próxima semana, vai
andar pelo país a apresentá-lo, na presença de pessoas tão diferentes
como Ramalho Eanes, Frederico Lourenço, Pedro Mexia, Pedro Rangel, Maria
de Belém, Carlos Fiolhais ou Isabel Allegro de Magalhães.
No seu livro levanta questões mais comuns ao discurso de não católicos. Ainda se revê na Igreja?
Pertenço por convicção à Igreja Católica e procurei ser leal, mas há
duas questões fundamentais. A primeira é que Deus é amor. A outra
tentativa de definir Deus surge no Evangelho segundo São João: no
princípio era o logos, a razão, e Deus é razão. Para mim, se Deus é
razão, devemos estar na Igreja com dimensão crítica. E se a fé não
deriva da razão, à maneira das ciências matemáticas, para ser humana,
não a pode contradizer.
O livro é um alerta para situações com as quais não concorda?
Exatamente. Há uma crítica para dentro da Igreja, seguindo alertas que
vêm do Papa Francisco. Porque este Papa é cristão no sentido mais
radical, não é apenas batizado, ele segue Jesus. E quando olhamos para a
Igreja, nem sempre vemos um verdadeiro discipulado de Jesus. Assistimos
a uma hierarquia que frequentemente vive na ostentação, que não se bate
pelos direitos humanos, que têm de ser praticados dentro da Igreja.
Depois do Concílio Vaticano II, a primavera da Igreja, veio o inverno,
que teve uma expressão dramática na condenação de teólogos.
Francisco trouxe uma nova primavera?
As pessoas gostam dele, ele faz o que Jesus fazia, é amor.
Mas basta? Jesus provocou ruturas. E o Papa Francisco?
Jesus opôs-se à religião estabelecida, foi crucificado por ter sido
condenado, em primeiro lugar, pela religião oficial. Foi condenado como
blasfemo e subversivo. E o Papa Francisco, se não tivesse operado
ruturas, não tinha tanta oposição de alguns cardeais.
A oposição existe em Portugal?
O que mais noto aqui é que o Papa Francisco não está vivo e operante,
em primeiro lugar, na hierarquia católica. Diria até que há mais
simpatia para com ele fora da Igreja.
No livro diz que a Igreja portuguesa parece paralisada. O que Francisco pode provocar em Fátima?
Fátima é um caso muito especial de religiosidade. A Igreja oficial
tenta enquadrar Fátima, mas as pessoas vão lá com uma devoção
particular.
A mãe de Jesus surgiu em Fátima?
Posso ser um bom católico e não acreditar em Fátima porque não é um
dogma. Não me repugna, contudo, que as crianças, os chamados três
pastorinhos, tenham tido uma experiência religiosa, mas à maneira das
crianças e dentro dos esquemas religiosos da altura. É preciso também
distinguir aparições de visões. É evidente que Nossa Senhora não
apareceu em Fátima. Uma aparição é algo objetivo.
Uma experiência
religiosa interior é outra realidade, é uma visão, o que não significa
necessariamente um delírio, mas é subjetivo. É preciso fazer esta
distinção. E por isso digo que é necessário evangelizar Fátima, ou seja,
trazer uma notícia boa. Porque mesmo para aquelas crianças, aquela não
foi uma notícia boa: que mãe mostraria o inferno a uma criança?
Que boa notícia seria essa?
Já não se veem pessoas a arrastarem-se e a sangrarem.
Não foram os portugueses que se modernizaram?
Sim, felizmente.
Porque é que o Papa vem a Fátima?
Em primeiro lugar, porque é profundamente devoto de Maria. Sabe porque
há tanta devoção a Maria na Igreja? Porque a presença feminina é muito
reduzida. As mulheres têm de gostar de Jesus — mesmo que se deem mal com
a Igreja oficial e têm razões para isso — porque ele teve mulheres como
discípulas e foi uma figura central da emancipação feminina, embora a
Igreja seja completamente masculina — Pai, Filho e Espírito Santo — e
uma menina faça a socialização religiosa sempre no masculino.
O que dirá o Papa em Fátima?
Estou convicto de que fará um discurso de dimensão mundial, um grande
apelo à paz. Deverá apelar ao diálogo inter-religioso e a que católicos
pratiquem o Evangelho.
Ficará triste com o comércio?
Qualquer pessoa fica. São, outra vez, os vendilhões do templo, o pior da religião.
Voltando às mulheres e às ruturas: até onde o Papa poderá ir?
O Papa criou um grupo para estudar a possibilidade de as mulheres serem
diaconisas, o que causou um grande abalo. Ele herdou uma Igreja
profundamente hierarquizada e tem de pisar o terreno com cuidado, o que
tem feito com coragem. É jesuíta e sabe o que significa o poder e a
eficácia. Não pode causar um cisma.
O que será mais fácil: ordenar mulheres ou homens casados?
Homens casados porque a Igreja é misógina! É a última instituição,
verdadeiramente global, que é machista. É também a última monarquia
absoluta. Acredito que ainda veremos o Papa Francisco ordenar homens
casados, mas também terá de resolver o problema da participação dos
leigos e o problema das mulheres. O celibato é uma questão de bom senso,
temos de ser pragmáticos. Não há padres suficientes e há leigos,
casados, que, ordenados, exerceriam um excelente papel como
coordenadores das comunidades cristãs. No primeiro milénio da Igreja não
havia celibato. Aquilo que hoje constitui escândalo não o é, se
olharmos a origem.
Qual é a sexualidade dos padres? Podem ser homossexuais?
A Igreja não pode impor como lei aquilo que Jesus entregou à liberdade
e, por isso, sou partidário do fim ao celibato obrigatório. À frente das
comunidades é possível ter leigos, que podem ficar durante um período
limitado. Não se percebe porque um bispo, mesmo que incompetente, fique
para sempre. Alguns vão sempre optar pelo celibato, serão os
coordenadores dos coordenadores. Mas serão muito poucos. É preciso
acabar com as vidas duplas.
E a sexualidade dos padres?
Está estudado, se há na população cerca de 8% de homossexuais, na
Igreja deverá ser um pouco mais porque muitos entraram no contexto de
repressão da sexualidade, para tentarem resolver um problema, mas não
vejo razão para serem excluídos. E se assumiram o compromisso da
castidade, devem segui-lo como os outros.
O Papa Francisco trouxe mais transparência?
Já não é possível esconder a realidade e o Papa chama as coisas pelos nomes. O Evangelho diz que a verdade libertar-nos-á.
Já foi chamado à atenção pela hierarquia por defender estas posições?
Já tive problemas, hoje não.
Desistiram de si?
Não gostavam do que eu dizia, mas eu também não gosto do que dizem.
Poderia ter tido uma carreira diferente? Não foi bispo.
Nunca quis, aliás, se quisesse, não podia ser livre, e esse é o
problema a que o Papa tanto se opõe, o carreirismo. O único pecado que
tenho é o de não ser suficientemente cristão, talvez não dê suficiente
atenção às pessoas. O resto, pensar de maneira diferente? Ainda bem. Na
Igreja tem de haver liberdade de pensar e interpretar.
O que sentiria se uma mulher lhe desse a eucaristia?
Comunguei das mãos de uma pastora anglicana em Londres. Não me causou inquietação.
Já deu a eucaristia a divorciados?
Mais do que isso. Um homem, uma figura pública que eu não conhecia,
convidou-me para jantar e disse que iria casar-se no dia seguinte e
queria que eu lhe abençoasse as alianças, porque não podia casar pela
Igreja. Fui ao casamento, estive lá com eles.
Qual foi a primeira vez em que foi ao Vaticano?
Em 1967, havia ainda a ebulição do Vaticano II. Sou filho desta primavera.
O que sentiu?
Era muito jovem e senti um grande esplendor, mas também achei
excessivo. Mas o que na Igreja sempre me preocupou mais foi a falta de
liberdade para pensar.
* Este senhor é um incómodo para a hierarquia católica portuguesa.
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ESTA SEMANA NO
"DINHEIRO VIVO"
Ecoslops.
Transformar resíduos em lucro,
de Portugal para o mundo
A empresa portuguesa, que opera no porto de Sines, é a única no mundo que recicla os resíduos produzidos pelos navios.
Todos os anos, a atividade das
transportadoras marítimas produz 100 milhões de toneladas de resíduos
petrolíferos – os slops. A recolha destes resíduos nos portos é
obrigatória por lei e há várias empresas encarregues de o fazer. O
tratamento a que os slops são habitualmente submetidos pode ser
explicado de forma simples.
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A água é separada do óleo, tratada e devolvida ao mar. O que resta é vendido, a um preço baixo, a empresas com elevado consumo energético, como as cimenteiras ou as siderurgias, para incineração.
É aqui que a Ecoslops se distingue: é a única empresa do mundo que recicla os resíduos oleosos e os transforma em novos produtos. Opera no porto de Sines. O Dinheiro Vivo visitou a minirrefinaria da Ecoslops para perceber como se transformam e rentabilizam os resíduos produzidos pelos navios, uma ideia que nasceu em França, mas que ganhou vida em Portugal, pela mão de portugueses.
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A água é separada do óleo, tratada e devolvida ao mar. O que resta é vendido, a um preço baixo, a empresas com elevado consumo energético, como as cimenteiras ou as siderurgias, para incineração.
É aqui que a Ecoslops se distingue: é a única empresa do mundo que recicla os resíduos oleosos e os transforma em novos produtos. Opera no porto de Sines. O Dinheiro Vivo visitou a minirrefinaria da Ecoslops para perceber como se transformam e rentabilizam os resíduos produzidos pelos navios, uma ideia que nasceu em França, mas que ganhou vida em Portugal, pela mão de portugueses.
Quando um navio atraca no Terminal de
Granéis Líquidos do porto de Sines, os slops seguem por condutas até à
minirrefinaria. Os que são recolhidos nos restantes terminais têm o
mesmo destino, mas seguem por camião.
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Além destes, a Ecoslops importa resíduos. Das 65 mil toneladas de slops que a empresa tratou desde em 2015, quando iniciou a atividade, 60% foram importados, explicou Pedro Simões, diretor-geral da Ecoslops Portugal. E como se reciclam os resíduos?
Numa primeira fase, são desidratados. “A água é depois tratada e devolvida ao oceano através de uma estação de tratamento de águas residuais integrada na nossa unidade industrial”, contou Pedro Simões.
Depois, a matéria-prima recuperada é processada na torre de destilação em vácuo, com vários níveis e diferentes temperaturas, num processo que permite obter quatro produtos que podem ser utilizados em diferentes indústrias: betume, fuelóleo, gasóleo pesado e um combustível ligeiro semelhante a gasolina, utilizado internamente como fonte de energia para o processo produtivo.
Os combustíveis e o betume produzidos pela Ecoslops, que têm o estatuto de produto e não de resíduo reciclado, são depois vendidos a preços mais elevados do que seriam sem a transformação e permitem à Ecoslops triplicar a margem de lucro, quando comparada com a das outras empresas de tratamento.
Entre os seus clientes contam-se empresas como a Soprema, que compra a totalidade do betume produzido, EDP, Galp e a ETSA. A produção reduzida não permite competir com as grandes petroquímicas, pelo que o objetivo estratégico da Ecoslops passa por “desenvolver contratos de fornecimento de médio a longo prazo com parceiros fiáveis”.
O conceito que deu origem à minirrefinaria foi desenvolvido pelo francês Michel Pingeot. “A empresa-mãe é francesa, mas a mão-de-obra a operar no porto de Sines é portuguesa”, explicou Pedro Simões.
.
A Ecoslops fixou-se em Sines porque a administração do porto foi a que se mostrou mais recetiva a acolher o projeto e a criar as condições necessárias. Hoje, a Ecoslops emprega entre 40 e 50 funcionários, todos portugueses da zona de Sines. Há especialistas em petroquímicos, técnicos de laboratório e técnicos de segurança.
A mão-de-obra é altamente qualificada e vem das áreas da engenharia de processo, engenharia do ambiente e segurança, mecatrónica e gestão. O volume de faturação da empresa ultrapassou os quatro milhões de euros em 2016 e, para este ano, o objetivo é atingir os sete milhões. “Tudo leva a crer que esse valor está ao nosso alcance”, afiançou Pedro Simões, apoiando-se no “esforço de consolidação do mercado”, assente na “competitiva relação qualidade-preço dos combustíveis da Ecoslops e à superior qualidade do betume que fabricamos”.
A Ecoslops detém os direitos da tecnologia implementada no porto de Sines e a intenção “é replicá-la em outros portos marítimos no mundo”. Este trabalho já está, aliás, em curso. Foi assinado um memorando de entendimento com a francesa Total para estabelecer uma unidade de tratamento em Marselha. Este é o projeto mais avançado e deverá representar um investimento de 12 milhões de euros.
* Isto é empreendedorismo a valer.
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Além destes, a Ecoslops importa resíduos. Das 65 mil toneladas de slops que a empresa tratou desde em 2015, quando iniciou a atividade, 60% foram importados, explicou Pedro Simões, diretor-geral da Ecoslops Portugal. E como se reciclam os resíduos?
Numa primeira fase, são desidratados. “A água é depois tratada e devolvida ao oceano através de uma estação de tratamento de águas residuais integrada na nossa unidade industrial”, contou Pedro Simões.
Depois, a matéria-prima recuperada é processada na torre de destilação em vácuo, com vários níveis e diferentes temperaturas, num processo que permite obter quatro produtos que podem ser utilizados em diferentes indústrias: betume, fuelóleo, gasóleo pesado e um combustível ligeiro semelhante a gasolina, utilizado internamente como fonte de energia para o processo produtivo.
Os combustíveis e o betume produzidos pela Ecoslops, que têm o estatuto de produto e não de resíduo reciclado, são depois vendidos a preços mais elevados do que seriam sem a transformação e permitem à Ecoslops triplicar a margem de lucro, quando comparada com a das outras empresas de tratamento.
Entre os seus clientes contam-se empresas como a Soprema, que compra a totalidade do betume produzido, EDP, Galp e a ETSA. A produção reduzida não permite competir com as grandes petroquímicas, pelo que o objetivo estratégico da Ecoslops passa por “desenvolver contratos de fornecimento de médio a longo prazo com parceiros fiáveis”.
O conceito que deu origem à minirrefinaria foi desenvolvido pelo francês Michel Pingeot. “A empresa-mãe é francesa, mas a mão-de-obra a operar no porto de Sines é portuguesa”, explicou Pedro Simões.
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A Ecoslops fixou-se em Sines porque a administração do porto foi a que se mostrou mais recetiva a acolher o projeto e a criar as condições necessárias. Hoje, a Ecoslops emprega entre 40 e 50 funcionários, todos portugueses da zona de Sines. Há especialistas em petroquímicos, técnicos de laboratório e técnicos de segurança.
A mão-de-obra é altamente qualificada e vem das áreas da engenharia de processo, engenharia do ambiente e segurança, mecatrónica e gestão. O volume de faturação da empresa ultrapassou os quatro milhões de euros em 2016 e, para este ano, o objetivo é atingir os sete milhões. “Tudo leva a crer que esse valor está ao nosso alcance”, afiançou Pedro Simões, apoiando-se no “esforço de consolidação do mercado”, assente na “competitiva relação qualidade-preço dos combustíveis da Ecoslops e à superior qualidade do betume que fabricamos”.
A Ecoslops detém os direitos da tecnologia implementada no porto de Sines e a intenção “é replicá-la em outros portos marítimos no mundo”. Este trabalho já está, aliás, em curso. Foi assinado um memorando de entendimento com a francesa Total para estabelecer uma unidade de tratamento em Marselha. Este é o projeto mais avançado e deverá representar um investimento de 12 milhões de euros.
* Isto é empreendedorismo a valer.
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