Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
12/08/2015
MANUEL SÉRGIO
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IN "BOLA"
12/08/15
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O que em mim sente
está pensando
“O que em mim sente está pensando” é um verso do
poema Ceifeira de Fernando Pessoa. Se assim é (tenhamos em conta que o
poeta é um “fingidor”) as palavras de António Damásio, n`O Sentimento de
Si, podem lembrar-se, neste passo: “que os processos da mente,
incluindo os da consciência, partem da actividade cerebral, que o
cérebro faz parte de um organismo completo com o resto do qual interage
continuamente; e que nós, enquanto seres humanos, apesar de notáveis
características individuais, que transformam cada um de nós num ser
verdadeiramente único, partilhamos características biológicas
semelhantes, em termos da estrutura, organização e função dos nossos
organismos” ((p. 108).
Não há nada em mim, onde não esteja tudo o que eu sou. Assim, se há uma Europa latina e uma Europa germânica e uma Europa eslava e uma Europa nórdica e, se o desporto de cada uma delas reflete as características étnicas e geográficas e psico-sociológicas dos povos que o modelam – por que será que os desportistas portugueses não aprendem a sorrir, com a paisagem que os envolve e os tonifica? Tudo em Portugal nos sorri – o céu, o mar, o clima, os vales, as montanhas, os pomares. Crescemos sob um sol maravilhoso, como outro não se encontra, por essa Europa fora. Pois, embora este jardim à beira-mar plantado, sempre que se escutam os dirigentes dos clubes de futebol, em quase todos eles há um perpétuo azedume, uma difícil digestão, um olhar mortiço, em relação aos valores que distinguem o desporto. E os debates televisivos, entre representantes dos principais clubes? A densidade do conteúdo, a leveza da observação, a síntese penetrante não são a riqueza comum de todos eles.
E a funda antipatia pelos árbitros? Aliás, a desconfiança nos árbitros é uma trivialidade quotidiana. Jornalistas, dirigentes, adeptos, percorre-se o “planeta futebol” e, no pensar dos críticos, parece não haver um árbitro, com as mais nobilitantes virtudes de um juiz. Vítor Pereira, presidente do Conselho de Arbitragem da F.P.F., embora o seu saber e honestidade incontroversos, não consegue evitar o ferrete judicativo de pessoas das mais variadas cores clubistas.
O português, quando fala de futebol, não gosta de sorrir, porque está sempre olheirento e mal.humorado. A piada é normalmente agressiva, rabujenta, nervosa. E até algumas das mais vivas inteligências que eu conheço: que escrevem com brilho, que dialogam com sedução e de discurso fulgurante e corajoso – até esses parecem cegos, surdos, mudos ao valor dos clubes e dos jogadores adversários, os quais, se ganham canpeonatos, ou ostentam troféus, os devem unicamente aos árbitros. Sim, para eles, se os árbitros os não apadrinhassem, não ganhariam nada porque, de facto, “não jogam nada”! À minha maneira, ando, no futebol, há muitos anos. Ainda vi jogar os “cinco violinos”. A velocidade de Jesus Correia, o génio do Vasques, a potência do Peyroteo, a inteligência do Travaços, a habilidade desconcertante do Albano (e como ele era exímio a marcar o “castigo máximo”) formavam um “quinteto” avançado, que não tinha par, no futebol português das décadas de quarenta e de cinquenra.
Só o triunfo de Ted Smith, na época de 49-50, como treinador do Benfica, evitou a hipótese de um tetra e a possibilidade de o Sporting ter conquistado nove campeonatos consecutivos, proeza difícil de conseguir-se. A superioridade do futebol sportimguista, nas décadas de 40 e 50, era tão evidente, “intra muros”, que só os “cegos” não viam. Pois havia “cegos” que não viam! Com o Benfica e o F.C.Porto também já aconteceu o mesmo. Por isso, os nossos campos de futebol são barulhentos e mal-humorados; as nossas “páginas desportivas” são desconfiadas e dramáticas, os nossos comentadores do futebol não ponho em causa a sua pureza de intenções mas há neles um perpétuo poente de inquietação e de mágoa. Eu já li, num livro brasileiro, se não estou em erro, que o futebol era a mais importante das coisas pouco importantes. De facto, há coisas mais importantes do que o futebol-espetáculo mas, porque tudo o que é humano deve ser humanizado, deixemos também um sorriso de tolerância, nas nossas conversas sobre o futebol-espetáculo. E que Nossa Senhora da Tolerância abençoe o nosso futebol!
Há um fundo de truculência, no desporto nacional, designadamente no futebol, que poderia curar-se, com um pouco menos de paixão e de facciosismo. E fazendo do sorriso uma terapêutica nacional! O nosso clubismo seria menos rebarbativo e a nossa sociabilidade mais agradável. Já escreveu o Augusto de Castro (e aqui dou-lhe inteira razão) que “os homens que não sorriem são os homens funestos da História. Nero ria e declamava. Hitler nunca sorriu. Os magníficos atormentados da Arte podem ser cimos do Espírito humano, mas são sempres grandes criadores de dor e de tempestades. Schopenhauer e a sua filosofia sombria deitaram fogo a duas gerações. Um sorriso pode iluminar a Terra. Leonardo Da Vinci poderia não ter deixado à Posteridade senão o sorriso de Gioconda – e o génio florentino, só por ele, seria imortal!” (A Tarde e a Manhã, p. 61). Sou um admirador de Hanna Arendt, uma pensadora da política de espantosa e sóbria lucidez. Com ela aprendi que uma das características do nosso tempo é “a banalidade do mal”, ou seja, de um tipo de criminoso, sem consciência moral do que faz, que age por simples obediência lanígera a uma autoridade política ou religiosa, renunciando assim à sua qualidade de cidadão politicamente responsável. Não chego ao ponto de chamar “criminosos” aos adeptos mais exaltados, mais sofredores do futebol profissional. Até há bem pouco tempo, eu fui um deles. Demais, o espetáculo desportivo não perde em dignidade e interesse, no cotejo com os espetáculos mais populares. Mas que há uma visível baixa de ideal, no desporto, mormente no futebol – isso é incontestável! Grande parte dos dirigentes do futebol vivem despojados de qualquer assomo de cultura desportiva, digamos mesmo. do culto daquelas ideias, daqueles valores, que dão significação e sentido à prática desportiva. Sem ciência e consciência, sem saber e sabedoria, o desporto não passa de um “higienismo” (perdoem-me o neologismo) reduzido e redutor. E, em casos extremos, de uma competição sem regras.
E só um desporto sem horizontes explica a imensa mediocridade que, atualmente, o envolve. Para além dos golos que marcam (ou que não deixam marcar) o que ensinam aos seus admiradores as estrelas de maior brilho do futebol dos nossos dias? E os dirigentes e os empresários? Vivendo todos em permanente alta competição é também alta a sua desconfiança, em relação ao desporto e aos “agentes do desporto”. Suspeitadores de tudo o que fuja ao seu sistema de referência, mostram-se incapazes de se transfomarem em atores qualificados de um desporto novo. O fanarismo clubista é sempre um sinal de inferioridade. Daí, a sua incapacidade, para liderarem um processo de renovação. Faltam mulheres, no dirigismo desportivo? Na política já se clamou pela sua asbsoluta necessidade. Recordo Golda Meir, Indira Gandhi, Margaret Tatcher e a própria Hillary Clinton.
“Eram aquilo a que habitualmente chamamos mulheres fálicas, agiam como damas de ferro que imitavam e tentavam superar a autoridade viril, ser mais homens do que os homens” (Slavoj Zizek, Viver no Fim dos Tempos, Relógio d´Água, Lisboa. 2011, p. 331). Eram, como um amigo meu as define, com graça: “mulheres com H grande”. E, depois delas, o mundo não ficou com mais ideias, mais criativo, mais sensibilizado à excelência. Há também muita gente que se diz desportista, porque nunca deixou de ser um jogador, porém o “homem que joga, não o jogo fundo da existência, mas o jogo superficial das ideias, das teorias, dos esquemas, das relações, dos textos e dos contextos agitados, dos compromissos sem sequência e dos não compromissos de salão” (Manuel Antunes, Indicadores de Civilização, Verbo, Lisboa, p. 284). Um desporto perdido, nos caminhos áridos da exterioridade, que promete aos praticantes mediatismo e dinheiro, mas lhes rouba a dignidade – é uma redonda mentira! Assim o penso. De facto, “o que em mim sente está pensando”.
Não há nada em mim, onde não esteja tudo o que eu sou. Assim, se há uma Europa latina e uma Europa germânica e uma Europa eslava e uma Europa nórdica e, se o desporto de cada uma delas reflete as características étnicas e geográficas e psico-sociológicas dos povos que o modelam – por que será que os desportistas portugueses não aprendem a sorrir, com a paisagem que os envolve e os tonifica? Tudo em Portugal nos sorri – o céu, o mar, o clima, os vales, as montanhas, os pomares. Crescemos sob um sol maravilhoso, como outro não se encontra, por essa Europa fora. Pois, embora este jardim à beira-mar plantado, sempre que se escutam os dirigentes dos clubes de futebol, em quase todos eles há um perpétuo azedume, uma difícil digestão, um olhar mortiço, em relação aos valores que distinguem o desporto. E os debates televisivos, entre representantes dos principais clubes? A densidade do conteúdo, a leveza da observação, a síntese penetrante não são a riqueza comum de todos eles.
E a funda antipatia pelos árbitros? Aliás, a desconfiança nos árbitros é uma trivialidade quotidiana. Jornalistas, dirigentes, adeptos, percorre-se o “planeta futebol” e, no pensar dos críticos, parece não haver um árbitro, com as mais nobilitantes virtudes de um juiz. Vítor Pereira, presidente do Conselho de Arbitragem da F.P.F., embora o seu saber e honestidade incontroversos, não consegue evitar o ferrete judicativo de pessoas das mais variadas cores clubistas.
O português, quando fala de futebol, não gosta de sorrir, porque está sempre olheirento e mal.humorado. A piada é normalmente agressiva, rabujenta, nervosa. E até algumas das mais vivas inteligências que eu conheço: que escrevem com brilho, que dialogam com sedução e de discurso fulgurante e corajoso – até esses parecem cegos, surdos, mudos ao valor dos clubes e dos jogadores adversários, os quais, se ganham canpeonatos, ou ostentam troféus, os devem unicamente aos árbitros. Sim, para eles, se os árbitros os não apadrinhassem, não ganhariam nada porque, de facto, “não jogam nada”! À minha maneira, ando, no futebol, há muitos anos. Ainda vi jogar os “cinco violinos”. A velocidade de Jesus Correia, o génio do Vasques, a potência do Peyroteo, a inteligência do Travaços, a habilidade desconcertante do Albano (e como ele era exímio a marcar o “castigo máximo”) formavam um “quinteto” avançado, que não tinha par, no futebol português das décadas de quarenta e de cinquenra.
Só o triunfo de Ted Smith, na época de 49-50, como treinador do Benfica, evitou a hipótese de um tetra e a possibilidade de o Sporting ter conquistado nove campeonatos consecutivos, proeza difícil de conseguir-se. A superioridade do futebol sportimguista, nas décadas de 40 e 50, era tão evidente, “intra muros”, que só os “cegos” não viam. Pois havia “cegos” que não viam! Com o Benfica e o F.C.Porto também já aconteceu o mesmo. Por isso, os nossos campos de futebol são barulhentos e mal-humorados; as nossas “páginas desportivas” são desconfiadas e dramáticas, os nossos comentadores do futebol não ponho em causa a sua pureza de intenções mas há neles um perpétuo poente de inquietação e de mágoa. Eu já li, num livro brasileiro, se não estou em erro, que o futebol era a mais importante das coisas pouco importantes. De facto, há coisas mais importantes do que o futebol-espetáculo mas, porque tudo o que é humano deve ser humanizado, deixemos também um sorriso de tolerância, nas nossas conversas sobre o futebol-espetáculo. E que Nossa Senhora da Tolerância abençoe o nosso futebol!
Há um fundo de truculência, no desporto nacional, designadamente no futebol, que poderia curar-se, com um pouco menos de paixão e de facciosismo. E fazendo do sorriso uma terapêutica nacional! O nosso clubismo seria menos rebarbativo e a nossa sociabilidade mais agradável. Já escreveu o Augusto de Castro (e aqui dou-lhe inteira razão) que “os homens que não sorriem são os homens funestos da História. Nero ria e declamava. Hitler nunca sorriu. Os magníficos atormentados da Arte podem ser cimos do Espírito humano, mas são sempres grandes criadores de dor e de tempestades. Schopenhauer e a sua filosofia sombria deitaram fogo a duas gerações. Um sorriso pode iluminar a Terra. Leonardo Da Vinci poderia não ter deixado à Posteridade senão o sorriso de Gioconda – e o génio florentino, só por ele, seria imortal!” (A Tarde e a Manhã, p. 61). Sou um admirador de Hanna Arendt, uma pensadora da política de espantosa e sóbria lucidez. Com ela aprendi que uma das características do nosso tempo é “a banalidade do mal”, ou seja, de um tipo de criminoso, sem consciência moral do que faz, que age por simples obediência lanígera a uma autoridade política ou religiosa, renunciando assim à sua qualidade de cidadão politicamente responsável. Não chego ao ponto de chamar “criminosos” aos adeptos mais exaltados, mais sofredores do futebol profissional. Até há bem pouco tempo, eu fui um deles. Demais, o espetáculo desportivo não perde em dignidade e interesse, no cotejo com os espetáculos mais populares. Mas que há uma visível baixa de ideal, no desporto, mormente no futebol – isso é incontestável! Grande parte dos dirigentes do futebol vivem despojados de qualquer assomo de cultura desportiva, digamos mesmo. do culto daquelas ideias, daqueles valores, que dão significação e sentido à prática desportiva. Sem ciência e consciência, sem saber e sabedoria, o desporto não passa de um “higienismo” (perdoem-me o neologismo) reduzido e redutor. E, em casos extremos, de uma competição sem regras.
E só um desporto sem horizontes explica a imensa mediocridade que, atualmente, o envolve. Para além dos golos que marcam (ou que não deixam marcar) o que ensinam aos seus admiradores as estrelas de maior brilho do futebol dos nossos dias? E os dirigentes e os empresários? Vivendo todos em permanente alta competição é também alta a sua desconfiança, em relação ao desporto e aos “agentes do desporto”. Suspeitadores de tudo o que fuja ao seu sistema de referência, mostram-se incapazes de se transfomarem em atores qualificados de um desporto novo. O fanarismo clubista é sempre um sinal de inferioridade. Daí, a sua incapacidade, para liderarem um processo de renovação. Faltam mulheres, no dirigismo desportivo? Na política já se clamou pela sua asbsoluta necessidade. Recordo Golda Meir, Indira Gandhi, Margaret Tatcher e a própria Hillary Clinton.
“Eram aquilo a que habitualmente chamamos mulheres fálicas, agiam como damas de ferro que imitavam e tentavam superar a autoridade viril, ser mais homens do que os homens” (Slavoj Zizek, Viver no Fim dos Tempos, Relógio d´Água, Lisboa. 2011, p. 331). Eram, como um amigo meu as define, com graça: “mulheres com H grande”. E, depois delas, o mundo não ficou com mais ideias, mais criativo, mais sensibilizado à excelência. Há também muita gente que se diz desportista, porque nunca deixou de ser um jogador, porém o “homem que joga, não o jogo fundo da existência, mas o jogo superficial das ideias, das teorias, dos esquemas, das relações, dos textos e dos contextos agitados, dos compromissos sem sequência e dos não compromissos de salão” (Manuel Antunes, Indicadores de Civilização, Verbo, Lisboa, p. 284). Um desporto perdido, nos caminhos áridos da exterioridade, que promete aos praticantes mediatismo e dinheiro, mas lhes rouba a dignidade – é uma redonda mentira! Assim o penso. De facto, “o que em mim sente está pensando”.
* Professor catedrático da Faculdade de Motricidade Humana e Provedor para a Ética no Desporto
IN "BOLA"
12/08/15
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612.
Senso d'hoje
SARA CARBONERO
SARA CARBONERO
JORNALISTA
SOBRE SAUDADE E O PORTO
SAUDADE
"Trata-se de um estado de ânimo e descreve emoções difíceis de
expressar, sendo usada para expressar uma certa nostalgia, embora seja
mais do que isso"
"Saudade é o delicioso pungir de acerbo espinho", é a "presença da ausência" (citando GARRETT)
PORTO
"Um lugar de 'caminhantes', "onde se pode observar entardeceres e tomar um café"
LIVRARIA LELLO
"É uma das livrarias mais bonitas do mundo"
"É um desses lugares que ficam gravados para sempre na nossa memória e
na nossa retina, seja pela sua escadaria de madeira, seja pelas
estantes altas cheias de livros e a mistura de estilos neogótico e art
nouveau"
* Excertos sobre a cidade do Porto registados no seu blogue na revista "ELLE"
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