AO ABANDONO/2
SANATÓRIO
SOUSA MARTINS
Nos finais do século XIX, a tuberculose era uma das mais temidas
doenças infecciosas. Os doentes infectados sofriam da rejeição da
sociedade e da família, que os afastavam com medo de contágio. Na época,
muito antes do aparecimento dos antibióticos, acreditava-se que a
melhor maneira de combater a tuberculose era instalar os doentes em
climas de montanha, com ar seco, ausência dos nevoeiros e alta
ozonização.
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Conta a história que em 1881, o Doutor Sousa Martins ao fazer uma
expedição à Serra da Estrela considerou a elevada montanha um local
óptimo para o tratamento da Tuberculose. Natural de Alhandra, em 1864
terminou o curso de Farmácia e passados dois anos o de Medicina. Em sua
honra e pelo seu empenho à causa da Tuberculose, veio a ser dado a este
Sanatório o nome de Sousa Martins. Hoje a sua fama perdura (sobretudo a
nível popular), devido ao seu saber, inteligência, bondade de coração,
dedicação e carinho como os doentes pobres.
A proposta para a sua construção foi feita pelo Dr. Lopo de Carvalho
(então Delegado de Saúde da Guarda) e foi aceite pela Presidente da
Associação Nacional aos Tuberculosos, Rainha D. Amélia, a qual decidiu
criar nesta cidade o primeiro Sanatório desta instituição – Sanatório
Sousa Martins.
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A 18 de Maio de 1907, com a presença do Rei D. Carlos e
da Rainha D. Amélia, foi então inaugurado o primeiro Sanatório de
Assistência Nacional aos Tuberculosos. Numa mata de pinheiros e abetos
foram construídos três pavilhões para doentes de primeira, de segunda e
de terceira classe, denominados respectivamente de Lopo de Carvalho,
António de Lencastre e Rainha D. Amélia, bem como outras estruturas de
apoio. Iniciaram-se os preparativos para os grandiosos festejos da
inauguração a fim de receber condignamente suas majestades reais.
Constituíram-se comissões e nada foi deixado ao acaso.
A Companhia dos Caminhos-de-Ferro estabeleceu tarifas reduzidas nas
viagens e os comerciantes divulgaram a chegada de mercadorias
expressamente para a ocasião. Assim, ao então conceituado
estabelecimento do Sr. José de Lemos chegou um lindíssimo sortido de
colchas de Damasco, sedas maravilhosas para blusas e coletes de
fantasia, também de seda, para homem.
O Sr. Presidente da Câmara, Dr.
Francisco dos Prazeres, convidou os proprietários dos prédios urbanos
situados junto às ruas públicas da cidade, a pintar as frontarias e
respectivos muros de quintais. Regimentos de Infantaria e Pelotões de
Cavalaria instalam-se na Guarda para auxiliaram nas cerimónias. A cidade
enfeitou-se. Rogério Reynaud, aluno de Belas Artes no Porto, desenhou e
pintou quatro grandes arcos que foram colocados nos principais pontos
do percurso que Suas Majestades iriam fazer.
A designação de “Cidade da Saúde”, atribuída à
Guarda, em muito se fica a dever ao Sanatório que a marcou
indelevelmente, ao longo de décadas, no século passado.
Embora a situação geográfica e as especificidades
climatéricas associadas tenham granjeado a esta cidade esse epíteto, a
construção do Sanatório Sousa Martins certificou e rentabilizou as
condições naturais da cidade para o tratamento da tuberculose, doença
que vitimou, em Portugal, largos milhares de pessoas.
A Guarda foi, nessa época, uma das cidades mais
procuradas de Portugal. A afluência de milhares de pessoas à cidade
deixou inúmeros reflexos na sua vida económica, social e cultural; a sua
apologia como localidade “eficaz no tratamento da doença” foi feita por
distintas figuras da época, pois era “a montanha mágica” junto à Serra.
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O Sanatório era
especialmente recomendado para doenças como a Tuberculose, a Pleurisma, a
Asma, a Anemia e a Neurastemia, bem como para todos os convalescentes
de doenças graves. Por ele passaram três Directores que superiormente o
geriram e dignificaram: Dr. Lopo de Carvalho, Dr. Ladislau Patrício e
Dr. Manuel Martins Queiroz. Funcionava como uma pequena cidade. Era
quase auto-suficiente. Quem vivia lá dentro, não precisava de sair, nem
isso era muito desejado pelos guardenses, que temiam o contágio.
O Sanatório possuía todas as condições: lavandaria e central eléctrica;
esgotos; água que era distribuída através de canalização; desinfecção
dos quartos; jogos (xadrez, damas, dominó); jardim de Inverno onde se
desenrolavam diversões (concertos, piano e outras distracções para os
doentes); biblioteca (com mais de mil volumes escolhidos entre os
melhores autores portugueses).
Quando os enfermeiros faziam “piquete”
entre os pavilhões, servia-lhes de protecção as grandes capas que eles
usavam; isto porque os imensos e ferozes cães que soltavam à noite, só
os reconheciam nessas capas e só perante elas se mostravam amistosos e
companheiros de “piquete”. Os doentes passavam os seus dias entre
tratamentos rotineiros e monótonos e o convívio entre eles. Chegou a
criar-se a partir de 1937, a Caixa Recreativa, que tinha como finalidade
arranjar dinheiro para se poderem realizar espectáculos, festas, manter
a biblioteca, etc.
Foi graças a essa Caixa Recreativa, que foi criada a
Rádio Altitude. O Sanatório Sousa Martins foi uma casa que todos os
doentes ficaram a estimar e a admirar. Muitos deles aqui se fixaram na
saudável Cova Quente e contribuíram para que a Guarda se tornasse
próspera e mais feliz .
Que futuro?
Conforme citado na edição de 21 de Fevereiro de 2002 do Jornal “Terras
da Beira” «aos pavilhões 2 e 3 os mais próximos do renovado pavilhão
central, não podiam restar dúvidas de que há algo mais a fazer para além
da recuperação dos edifícios. No pavilhão 2, jazem à mão de semear,
autênticas relíquias que, por sorte, conseguiram escapar a um
despercebido leilão entre a classe médica. Para lá de uma porta
rotativa, sacos e sacos de papelada, radiografias, prateleiras erguidas
ao um bilhar russo e barro caído do tecto.
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Num piso superior quartos
ainda com armários, um deles com um letreiro de “vendido” e noutro roupa
intacta, nem toda carcomida pelo mofo, em malas de viagem. Secretárias,
puxadores de porta, torneiras tipo arte-nova, lavabos, cadeiras de
barbearia e muito lixo. Surgiram duas propostas importantes. Uma seria a
transformação de um pavilhão naquilo a que os franceses chamam de
“maison de parents”, uma casa de apoio a familiares dos doentes.
A outra que agradou mais aos presentes, seria então a criação efectiva
de um “Museu de espaço vivido “, onde ficassem perpetuados as memórias».
O Sanatório foi desactivado logo após «O 25 de Abril» numa altura em
que tinha capacidade para albergar 600 doentes em simultâneo.
Em parte
renovado e/ou construído aqui funcionam o Hospital Distrital, o Centro
de Saúde e o Centro Psiquiátrico, nesse espaço hoje denominado Parque da
Saúde. À sua volta algum abandono e “a mesma” mata de rara beleza com
recantos bonitos e românticos: bancos de pedra, pontes, grutas e
miradouros, tudo para nos lembrar do passado e de quem (de uma forma ou
de outra) passou ou continua a passar aqui alguns anos da sua vida,
unidos pela mesma causa.
O Dia Mundial da Tuberculose comemora a data, em 1882, em que Robert Koch anunciou a descoberta do Mycobacterium tuberculosis, o bacilo que causa a TB.
Recorde-se que o Sanatório Sousa Martins, inaugurado na Guarda em 18 de
Maio de 1907, foi uma das principais unidades de saúde de Portugal no
combate contra a tuberculose.
A
portaria 39/2014, do Secretário de Estado da Cultura refere que a
classificação do antigo Sanatório reflete os critérios relativos ao
“carácter matricial do bem, ao génio do respetivo criador, ao seu
interesse como testemunho notável de vivências ou factos históricos, ao
seu valor estético, técnico e material intrínseco, à sua conceção
arquitetónica, urbanística e paisagística, à sua extensão e ao que nela
se reflete do ponto de vista de memória coletiva, e às circunstâncias
suscetíveis de acarretarem diminuição ou perda da perenidade ou da
integridade do bem”.
IN:
https://sanatoriosousamartins.wordpress.com/
http://www.ointerior.pt
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