Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
05/08/2013
EVA GASPAR
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REDACTORA PRINCIPAL
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
011/08/13
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Quem sou eu para julgar?
"Quem sou eu para julgar?" perguntou-se o Papa
Francisco sobre os gays. Esta foi a mais mediática, mas não a única
dúvida assumida pelo Papa na entrevista que concedeu no voo que o levou
de regresso ao Vaticano depois da sua viagem ao Brasil.
"Quem sou eu para julgar?" perguntou-se
o Papa Francisco sobre os gays. Esta foi a mais mediática, mas não a
única dúvida assumida pelo Papa na entrevista que concedeu no voo que o
levou de regresso ao Vaticano depois da sua viagem ao Brasil.
Ele
que, por dogma, goza de infalibilidade, não hesitou na mesma entrevista
responder, sobre outros assuntos, "eu não sei", "arrependi-me" e,
resumiu: "Eu, na verdade, sinto-me com tantos limites, tantos problemas,
e também pecador".
O que o Papa Francisco tem vindo
a revelar é que é um homem extraordinariamente normal. O que o
distingue dos que o antecederam (desde logo Ratzinger, que nunca chegou a
ser Bento) é a proximidade ao que somos.
A sua grandeza estará na sua plena humanidade, no que se inclui uma das dádivas de se ser humano: a dúvida.
Vivemos
tempos incertos e, paradoxalmente, é em tempos incertos que mais
prosperam as certezas – ou a tentação da certeza. É uma tentação
legítima, que corresponderá a algum instinto de protecção e defesa.
Quando o futuro é uma absoluta incógnita, mais fácil é ter certezas –
substituem as expectativas. Difícil será ter dúvidas – confirmam a
incerteza que nos oprime.
O espaço mediático (tomara
fosse só o português) está repleto de certezas. Quase não há espaço
para a dúvida. E quem a expõe rapidamente a vê pervertida em acessório
da mentira.
As certezas a que nos agarramos para
enfrentar a incerteza do nosso tempo tendem a afastar-nos uns dos
outros. Crispam-nos porque são, necessariamente, pouco racionais e/ou
muito passionais.
As dúvidas aproximam-nos, porque nos obrigam a ouvir; e aproximam-nos da verdade, porque nos obrigam a estudar e a ponderar.
Tomara
o Papa Francisco, líder de uma fé (a mais irracional das certezas),
possa, pela sua extraordinária normalidade, ensinar-nos a dúvida.
REDACTORA PRINCIPAL
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
011/08/13
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