Oportunidades,
oportunistas,
ou simples
pontos de vista
Ninguém contesta que o produto que se transacciona – a saúde – não é um bem de consumo qualquer. Mas nem por isso, não negociável
Diz-se frequentemente que opiniões, cada um tem a sua. Por isso, não é
de estranhar que diferentes individualidades apreciem de forma distinta a
evolução do sector privado no grande mercado que é a saúde.
Uns dirão que a presença de operadores privados introduz concorrência
no sector, o que pode estimular a eficiência e promover uma maior
qualidade dos cuidados que são prestados. Outros, aceitarão a existência
marginal destes operadores como complemento a um Serviço Nacional de
Saúde, responsabilidade do Estado, universal e tendencialmente gratuito.
Outros ainda, contestarão até a afirmação de que a saúde é um mercado.
Se bem que, sobre este aspecto, não há como negar que também a saúde é
constituída por um conjunto de transacções entre compradores (quem
recebe os cuidados) e vendedores (quem os presta). Embora também ninguém
conteste que o produto que se transacciona – a saúde – não é um bem de
consumo qualquer. Mas nem por isso, não negociável.
Mas não sendo um bem de consumo qualquer é sem dúvida um bem essencial.
E independentemente dos constrangimentos que o país apresenta em
matéria do seu financiamento, é um bem que terá sempre muita procura. E
havendo procura, haverá sempre alguém interessado em oferecer. Por um
preço sempre justo, ou pelo menos, ajustado ao mercado...
Sob o lema “ O seu plano de saúde anticrise – proteja-se dos cortes na
saúde”, uma empresa que se afirma interessada em criar e comercializar
produtos e serviços de saúde, apresenta-se hoje como uma boa alternativa
a um SNS que caracteriza como oferecendo uma saúde cada vez menos
gratuita, tendencialmente paga... e cada vez mais a preços altos. Também
há uns meses atrás, Lisboa foi inundada de cartazes de um jornal
diário, anunciando um novo cartão de saúde, ao qual os leitores poderiam
aceder gratuitamente durante um ano, e que poderiam depois renovar por
um valor anual. Este tipo de soluções têm vindo a multiplicar-se
significativamente, e vêm juntar-se à oferta já existente de seguros de
saúde privados.
Oportunidades, oportunistas, ou simples pontos de vista
Por Ema Paulino, publicado em 19 Jul 2012 - 03:00 | Actualizado há 23 horas 26 minutos
Ninguém contesta que o produto que se transacciona – a saúde – não é um bem de consumo qualquer. Mas nem por isso, não negociável
Ainda esta semana, a Sociedade Francisco Manuel dos Santos, principal
accionista do grupo Jerónimo Martins (detentor dos supermercados Pingo
Doce), anunciou a criação da marca Walk’ln Clinics, e entra assim numa
nova área de negócio: as clínicas médicas. O seu mote: facilitar o
acesso a cuidados médicos.
Já houve quem acusasse este governo de “empurrar” a população para
estas ofertas privadas, havendo até quem acredite que impera uma
predisposição ideológica do actual ministro da Saúde para as mesmas.
Ora, na minha opinião, o que hoje impele o indivíduo a procurar soluções
alternativas e/ou complementares não é claramente a ideologia, mas sim a
incapacidade orçamental do SNS (e as suas consequências). E esta não
foi certamente criada pelo sector privado. Quanto muito, foi criada pela
inaptidão dos órgãos políticos, e instituições do sector, em antecipar
soluções para um novo paradigma para a saúde. Menos centrado nos
hospitais, e mais centrado na prevenção e nos cuidados primários.
Sempre que quem está instalado não adequa a sua oferta ao mercado, cria-se uma oportunidade.
E atrás de cada oportunidade, escondem-se sempre oportunistas. E
retire- -se-lhe toda a conotação negativa... Afinal, o valor das suas
acções dependerá tão somente do ponto de vista de cada um. Na passada
segunda-feira, Luís Delgado, comentador político num canal de notícias,
afirmou veementemente, a propósito do caso “Miguel Relvas”, que não
acreditava em teorias da conspiração. Eu também não acredito em...
oportunidades de sonho nem em saúde ao desbarato.
Farmacêutica
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19/07/12
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