03/07/2011


PERSPICÁCIA INFANTIL
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O paraíso é relativo

Quando Ayrton Senna chegou ao céu, São Pedro foi logo perguntando:
 - Como é seu nome, meu filho???
- Ayrton Senna da Silva...
 - Ah!!! Você é aquele piloto da F1, não é???
 - Sou eu mesmo.
 - Aquele que tinha uma ilha em Angra dos Reis com heliporto, quadra de tênis, praia particular entre outras coisas, mais um jato executivo Learjet 60 de 12 lugares comprado por US$ 19.000.000,00, um helicóptero bi-turbo avaliado em US$ 5.000.000,00 uma lancha Off Shore de 58', uma fazenda em Tatuí e que ganhava US$ 1.200.000,00 por corrida?
 - Sou eu mesmo.
- Andava de Audi, Honda NSX e tinha uma DUCATI com seu nome?
 - Sim senhor!!!
 - Morava em Mônaco, mas tinha apartamentos em NYC, Paris e viajava quando queria para o Brasil no seu próprio jatinho particular?
 - Correto.
 - Aquele que até hoje a família é acionista da Audi do Brasil?
 - Eu mesmo!!!
 - Aquele que comeu a Xuxa, e a Adriane Galisteu?
- Sim.
- Putz ... pode entrar, mas você vai achar o Paraíso uma merda! 




Conselho de um homem idoso, 
porém muito sábio e experiente



Não importa o quanto ela é linda...


Não importa o quanto ela é sexy...


Não importa o quanto ela é sedutora...


Não importa o quanto ela é bonita e doce...


Não importa o tamanho dos seus seios...

Merda ...

Esqueci qual era o conselho...
.

 
EU JÁ VIVI O VOSSO FUTURO

" Declarações do escritor e dissidente soviético, 
Vladimir Bukovsky, 
sobre o Tratado de Lisboa




"É surpreendente que, após ter enterrado um monstro, a URSS, se tenha construído outro semelhante: a União Europeia (UE).
O que é, exactamente a União Europeia? Talvez fiquemos a sabê-lo examinando a sua versão soviética.
A URSS era governada por quinze pessoas não eleitas que se cooptavam mutuamente e não tinham que responder perante ninguém. A UE é governada por duas dúzias de pessoas que se reúnem à porta fechada e, também não têm que responder perante ninguém, sendo politicamente impunes.
Poderá dizer-se que a UE tem um Parlamento. A URSS também tinha uma espécie de Parlamento, o Soviete Supremo. Nós, (na URSS) aprovámos, sem discussão, as decisões do Politburo, como na prática acontece no Parlamento Europeu, em que o uso da palavra concedido a cada grupo está limitado, frequentemente, a um minuto por cada interveniente.
Na UE há centenas de milhares de eurocratas com vencimentos muito elevados, com prémios e privilégios enormes e, com imunidade judicial vitalícia, sendo apenas transferidos de um posto para outro, façam bem ou façam mal. Não é a URSS escarrada?
A URSS foi criada sob coacção, muitas vezes pela via da ocupação militar. No caso da Europa está a criar-se uma UE, não sob a força das armas, mas pelo constrangimento e pelo terror económicos.
Para poder continuar a existir, a URSS expandiu-se de forma crescente. Desde que deixou de crescer, começou a desabar. Suspeito que venha a acontecer o mesmo com a UE.
Proclamou-se que o objectivo da URSS era criar uma nova entidade histórica: o Povo Soviético. Era necessário esquecer as nacionalidades, as tradições e os costumes. O mesmo acontece com a UE parece. A UE não quer que sejais ingleses ou franceses, pretende dar-vos uma nova identidade: ser «europeus», reprimindo os vosso sentimentos nacionais e, forçar-vos a viver numa comunidade multinacional. Setenta e três anos deste sistema na URSS acabaram em mais conflitos étnicos, como não aconteceu em nenhuma outra parte do mundo.
Um dos objectivos «grandiosos» da URSS era destruir os estados-nação. É exactamente isso que vemos na Europa, hoje. Bruxelas tem a intenção de fagocitar os estados-nação para que deixem de existir.
O sistema soviético era corrupto de alto a baixo. Acontece a mesma coisa na UE. Os procedimentos antidemocráticos que víamos na URSS florescem na UE. Os que se lhe opõem ou os denunciam são amordaçados ou punidos. Nada mudou. Na URSS tínhamos o «goulag». Creio que ele também existe na UE. Um goulag intelectual, designado por «politicamente correcto». Experimentai dizer o que pensais sobre questões como a raça e a sexualidade. Se as vossas opiniões não forem «boas», «politicamente correctas», sereis ostracizados. É o começo do «goulag». É o princípio da perda da vossa liberdade.
Na URSS pensava-se que só um estado federal evitaria a guerra. Dizem-nos exactamente a mesma coisa na UE. Em resumo, é a mesma ideologia em ambos os sistemas. A UE é o velho modelo soviético vestido à moda ocidental. Mas, como a URSS, a UE traz consigo os germes da sua própria destruição. Desgraçadamente, quando ela desabar, porque irá desabar, deixará atrás de si um imenso descalabro e enormes problemas económicos e étnicos.
O antigo sistema soviético era irreformável. Do mesmo modo, a UE também o é. (…)
Eu já vivi o vosso «futuro»…"

AS MAMAS VALEM UMA VIDA







OBRIGADO CARACOLETA

5 - Escravos da Superstição

Richard Dawkins




CARRO CAÇADOR


JORGE FIEL


A parábola da vesícula

Quando acordei a meio da noite com uma desagradável sensação de enfartamento, atribuí logo as culpas a uns tomates secos ao sol que comera ao jantar e tinham estagiado largas semanas dentro de um frasco aberto no frigorífico.
Com o passar dos dias e uma dieta forçada, os sintomas foram-se aliviando, mas não completamente. Até que tropecei no meu amigo Rui Ponce Leão (provavelmente o médico mais adequado para tratar de mim, já que antes de se dedicar à medicina no Trabalho se especializou em medicina Legal), que foi rápido e certeiro no diagnóstico.
O Rui ilibou imediatamente os tomates secos ao sol. Qual intoxicação alimentar, qual carapuça! Eu padecia de uma vulgar crise na vesícula. Receitou-me dois medicamentos milagrosos, que me devolveram o bem estar, e aconselhou-me a fazer uma ecografia à vesícula, que revelou a presença hostil de duas pedras.
Com a colaboração de um outro amigo (o cirurgião Eurico Castro Alves), a intervenção de extracção das pedras ficou marcada para o Hospital de Santo António.
Passada a indisposição e aprazada a solução, foram felizes e despreocupadas as semanas que antecederam a operação. O pior estava para vir.
Depois de ter passado uma noite em branco no hospital, tive a oportunidade de constatar os pequenos inconvenientes de conviver durante onze dias com os quatro agrafos que fechavam os buracos abertos para a laparoscopia.
Quando se tem a barriga agrafada de fresco, rir é uma experiência que rapidamente evolui para o choro. É de ir às lágrimas, não de contentamento - mas sim de dor.
Esta complicada esquina da vida em que fomos apanhados e nos vai levar metade do 13º mês lembrou-me a logo a minha operação à vesícula. Nós já sabíamos que iríamos sofrer, mas vivemos felizes e despreocupados até chegada a hora de finalmente rimos à faca. A partir de agora é que as coisas vão doer.
Maquiavel recomendava ao príncipe que fizesse o mal todo de uma vez e o bem a pouco e pouco. E todos sabemos que a maneira mais indolor de arrancar um adesivo é de uma vez só - e não aos bocadinhos.
Por isso, todos rezamos para que Passos Coelho tenha ontem apresentado o mal todo de uma vez. Já percebemos e interiorizámos que vamos ter menos dinheiro para gastar, menos crédito fácil e barato, menos investimento público, mais desemprego com menos subsídio de desemprego, pensões mais baixas e serviços mais caros, como gás, transportes e comunicações. Mas poupem-nos por favor à tortura de um novo plano de austeridade por cada estação do ano. Quando se corta a cauda ao gato é preferível cortá-la de uma vez - e não aos poucos.

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
01/07/11



BCOSMOS
 
6 – ENCICLOPÉDIA GALÁCTICA



ALMORRÓIDA APICULTORA


Produção de mel rende 100 milhões

O mel é o produto alimentício mais natural – é produzido pelas abelhas melíferas a partir do néctar das flores e plantas. Para os consumidores, é o néctar dos deuses e a cura para algumas maleitas do foro respiratório. Para os mais de 17 mil apicultores portugueses, é o seu sustento e uma forma de vida.

As características nutritivas e adoçantes do nosso mel e a forma tradicional como é extraído dão-lhe um selo de excelência e adoçam a economia com 100 milhões de euros: em 2010, o sector da apicultura – mel, pólen, cera e propólis – rendeu mais de 93 milhões de euros, e para este ano prevê-se um aumento de cinco por cento... se os incêndios não afectarem negativamente a actividade.

Para José Lages, de 62 anos, residente em Lapa dos Dinheiros, em Seia (serra da Estrela) – gosta que o tratem como "o artesão das colmeias e abelhas" – os incêndios "são o principal inimigo das abelhas e, por arrasto, dos apicultores".

Segundo dados recolhidos pelo CM junto da Federação Nacional dos Apicultores de Portugal (FNAP), no ano passado as abelhas melíferas, que buscam os néctares na flora e o depositam nas 562 mil colónias de colmeias, produziram mais de 11 mil toneladas de mel, que não foram suficientes para o consumo interno.

Isto porque apesar de ser uma actividade em expansão no País, continua a haver um défice negativo na balança comercial do mel: em 2009 exportámos 2,5 milhões de euros e importámos 3,1 milhões de euros.

Manuel Gonçalves, presidente da FNAP, acredita que, tendo em conta que nos últimos anos se registou uma evolução positiva, é possível que "a curto prazo as exportações ultrapassem as importações". O mel é vendido a preços que oscilam entre 2,80 e mais de 5 euros o quilo.

INVESTIMENTO COM RÁPIDO RETORNO

O presidente da FNAP acredita que a apicultura é um sector em expansão e está a merecer a atenção de pessoas com formação noutras áreas. Para Manuel Gonçalves, isso deve-se não só à crise e falta de trabalho, mas também ao facto de a apicultura ser "uma boa oportunidade de negócio" e um " investimento de rápido retorno". Quem pretende ser apicultor faz formação para aprender os conceitos básicos e compra as colmeias – já com abelhas custam entre 125 e 130 euros.

"PARENTE POBRE DA AGRICULTURA"

Manuel Gonçalves, presidente da Federação de Apicultores, lamenta que sendo a apicultura a única fonte de sustento de milhares de famílias e tendo contribuído para a fixação de pessoas no campo "seja o parente pobre da agricultura". "Na última década os apicultores foram esquecidos, apesar de contribuírem para o desenvolvimento do País e produzirem um mel de alta qualidade."

IN "CORREIO DA MANHÃ"
03/07/11

UM EXEMPLO PARA 
A NOVA MAIORIA LIBERAL


Quando os governantes 
têm sentido de estado e de justiça social...

Medidas deixam ministros britânicos apeados
Maio de 2010

À excepção das principais figuras do Governo, os outros ministros passam a deslocar-se de metro, comboio ou a pé.
"A era da abundância acabou. 
Bem-vindos à era da austeridade."

Não fosse o tema tão antipático que a ironia poderia bem ter sido usada por George Osborne, o ministro das Finanças britânico, quando na segunda-feira anunciou as primeiras medidas para redução do défice. E se o Reino Unido não foi o primeiro a lançar-se na árdua tarefa, foi mais longe do que qualquer país europeu nas medidas para limitar os gastos do Governo e dos seus gabinetes.

"Os ministros deverão andar a pé ou usar transportes públicos", anunciou o director do Tesouro, o liberal-democrata David Laws, explicando que os membros do Governo e directores dos serviços vão deixar de ter carro e motorista atribuído. Quando o comboio ou o metro não forem alternativa para deslocações de serviço, os dirigentes poderão recorrer aos Jaguar da frota executiva, "mas sempre que possível" partilhando-os com outro(s) colegas.


Por razões de protocolo e segurança, as novas regras não vão abranger as caras mais conhecidas do Governo (o primeiro-ministro e o seu vice,os ministros da Defesa, Negócios Estrangeiros, Interior e Finanças), ainda que Cameron seja um conhecido adepto da bicicleta e insista em percorrer a pé as ruas que ligam o seu gabinete, em Downing Street, ao Parlamento, para desagrado dos guarda--costas.


Ao deixar os ministros apeados, o Governo poupa aos cofres públicos cinco milhões de libras (5,7 milhões de euros), uma gota de água nooceano de 156 mil milhões de libras do défice actual. Mas Osborne e o seu "número dois" sabem que será impossível impor ao país as medidas de austeridade se os políticos, desacreditados pelo escândalo das despesas, "não pagarem a sua parte".


Não espanta, por isso, que um sexto das poupanças anunciadas esta semana (mais de 1150 milhões de libras) resulte da eliminação de "despesas discricionárias" dos ministérios e departamentos governamentais. 

A admissão de novos funcionários foi suspensa, qualquer salário superior ao do primeiro-ministro terá de ser aprovado pessoalmente por Laws e o mesmo acontece com a contratação de assessores e consultores. E estes não são valores desprezíveis - segundo o Guardian, a Administração estava a gastar, por ano, 1500 milhões de libras só em consultadoria.

Mas a era de austeridade não será apenas sentida pelos ministros. Os funcionários da Administração deixarão de poder viajar em primeira classe e as deslocações, dentro e fora do país, vão ser alvo de um controlo mais apertado, o que permitirá reduzir os 320 milhões de libras gastos em 2009 em hotéis, os 70 milhões despendidos em aviões ou os mais de três mil milhões para comparticipação de viagens. E mesmo o recurso a táxis será limitado - a factura elevou-se só em 2009 a mais de 125 milhões de libras.


Laws, que enquanto número dois das Finanças tem nas mãos o machado para cortar as despesas, admitiu que estas são "medidas draconianas", mas sublinhou que só sendo inflexível e "criando ondas de choque" será possível pôr fim ao despesismo.


O Guardian escreveu esta semana que muitas das restrições vão desagradar aos recém-empossados, alguns dos quais passaram os últimos 13 anos invejando as limusinas e os luxos do Labour. Mas Osborne foi muito claro quando explicou as novas regras: só cortando a direito nos gastos supérfluos, a coligação conseguirá manter o compromisso eleitoral de não reduzir os

orçamentos da Saúde e Educação. Por isso, ironizava o diário londrino, ninguém deverá ficar espantado quando requisitar um carro e receber como resposta: "Senhor ministro, peço desculpa mas vai ter de ir de metropolitano".


  IN
"http://jornal.publico.pt/noticia/29-05-2010/medidas-deixam-ministros-britanicos-apeados-19506058.htm"



ASAE obriga cafés a trocarem de mesa de matrecos devido ao novo plantel do Benfica...



TENHA UM BOM DOMINGO


...ainda vamos bater no fundo


COMPRE JORNAIS E REVISTAS



quem resolve???
Juízes acham "decepcionantes" 
alterações a sistema informático
Comentando à agência Lusa um relatório interno do Instituto de Tecnologias de Informação da Justiça (ITIJ), que considera que a proposta da empresa Critical Software para o sistema informático da justiça não acrescenta segurança e mantém algumas das suas fragilidades, o presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP) manifestou a insatisfação da classe face ao sistema, que os obriga a despender mais tempo para efetuar o mesmo trabalho. António Martins considerou que a actual situação do Citius "é preocupante", pois "funciona mal", mantém a "falta de segurança" e "é ineficaz". De acordo com o presidente da ASJP - que afirmou não conhecer ainda os pormenores do relatório do ITIJ a que a Lusa teve acesso -, com o actual sistema informático, os juízes gastam "mais 114 por cento" de tempo do que gastavam anteriormente a trabalhar nos mesmos processos. "A informática tem de servir para facilitar e não para complicar", argumentou António Martins, sublinhando que "há muito tempo que os juízes alertam" para a resolução deste problema, mas até à data nada foi feito. Por seu turno, o presidente da Associação Sindical dos Funcionários Judiciais, Fernando Jorge, manifestou-se preocupado com a segurança do Citius, mas mais preocupado ainda com a funcionalidade e com a eficácia daquele sistema. "A segurança é uma coisa séria que deve ser encarada com gravidade, mas é mais importante a eficácia e a funcionalidade. Os juízes podem achar falta de segurança que um funcionário veja os processos em que está a trabalhar, mas antigamente, com o suporte de papel, isso já acontecia", expressou. Fernando Jorge adiantou que não é conhecida qualquer intrusão exterior no sistema informático da justiça, o que justifica a sua segurança, mas afirmou que esta é, mesmo assim, uma situação "muito séria".
"LUSA/SÁBADO"

angústia para o verão
Decisão de despedimentos nos 
Estaleiros de Viana adiada para Setembro
O Ministério da Defesa anunciou hoje que a decisão sobre a implementação do plano de reestruturação dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, prevendo o despedimento de 380 trabalhadores, só será tomada em Setembro.
Em comunicado, o Ministério da Defesa explica que a decisão sobre o plano de viabilidade empresarial dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo ENVC "em todas as suas vertentes, financeira, económica e laboral" e "incluindo o Plano de Reestruturação do Pessoal", será tomada em Assembleia Geral da Empordef agendada para 2 de Setembro.
Esta informação foi divulgada após uma reunião entre o ministro da Defesa Nacional, José Pedro Aguiar-Branco, e as administrações da Empordef e dos ENVC.
Com esta decisão, ficará em suspenso o processo de reestruturação anunciado pela administração dos ENVC na véspera da tomada de posse do actual Governo e para implementar de forma "imediata", prevendo a saída de 380 dos 720 trabalhadores dos ENVC, como forma de cortar nos custos fixos da empresa.
"JORNAL DE NOTÍCIAS"
 .
madrid é que está a dar
Coentrão recusou Chelsea
Lateral voltou a dar nega a proposta do novo clube de André Villas Boas. Fábio Coentrão continua a apostar tudo na ida para o Real Madrid. Enquanto as negociações não fecham, jogador terá mesmo de seguir para estágio, na Suíça.
Está à vista um braço-de-ferro envolvendo Fábio Coentrão. O lateral esquerdo dá prioridade à saída para o Real Madrid, clube com quem os encarnados têm estado em negociações, mas o Chelsea promete intrometer-se em força para conquistar um jogador cuja contratação André Villas Boas já terá recomendado aos dirigentes do seu novo clube.
"A BOLA"

já trabalham
Governo suspende encerramento de mais de 600 escolas
As 654 escolas que estavam à beira de fechar portas, no seguimento do programa de reorganização da rede escolar do anterior Governo, vão afinal manter-se abertas, avança o Diário de Notícias.
O Ministério da Educação suspendeu o encerramento das escolas do primeiro ciclo do ensino básico com menos de 21 alunos.
A medida já foi comunicada às autarquias, que elogiaram a decisão, embora não haja mais informações sobre prazos.
Segundo escreve o DN, a medida de Nuno Crato teve em conta os problemas dos municípios, que seriam obrigados a assegurar o transporte dos alunos para outras escolas.
O presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses, Fernando Ruas, aplaudiu a medida, em declarações ao DN, defendendo que nenhuma escola encerre sem o apoio das autarquias.
"SOL"

atenção gente nova
Esclerose múltipla afecta 5 mil pessoas
Começa por haver uma perda das funções visuais, de equilíbrio, de força ou sensibilidade. Gradualmente, surge o descontrolo da função sexual, da bexiga e da memória, bem como alguma fadiga.
Assim é a esclerose múltipla, doença crónica e degenerativa que interfere com a capacidade do sistema nervoso central em controlar os movimentos do corpo. Afecta mais de cinco mil pessoas em Portugal, sobretudo jovens. Só em medicamentos – disponibilizados gratuitamente nos hospitais – cada doente custa ao Estado entre oito a 20 mil euros anuais.
"Diz-se múltipla porque há múltiplas localizações de lesões no sistema nervoso central", explicou ao CM Joaquim Pinheiro, presidente do Grupo de Estudos da Esclerose Múltipla. O neurologista explica quais os sinais de alerta: perda de visão num olho ou visão dupla, ausência de força ou de sensibilidade nos braços ou pernas, falta de coordenação no andar. Os sintomas aparecem e desaparecem, total ou parcialmente, de forma imprevisível.
"CORREIO DA MANHÃ"

câmaras de boys e girls
Maioria das autarquias não são sustentáveis
Um estudo da CGD e da SAER faz um diagnóstico negro da situação dos municípios portugueses e conclui que muitos deles não têm escala para ter racionalidade económica que permita atingir o equilíbrio financeiro.
Deficitários, endividados e dependentes do Estado. É este o diagnóstico traçado por um estudo da CGD e da SAER a muitos municípios portugueses. 262 autarquias, de um total de 308, registam défices orçamentais e 50 enfrentam uma situação de desequilíbrio financeiro estrutural.
"EXPRESSO"

onde andam os pais???
Cocaína já é tão comum 
aos 13 anos como a canábis
Os adolescentes estão a trocar os charros por drogas mais pesadas e substâncias sintéticas. Aos 13 anos, experimentar cocaína parece ser já tão comum como o uso de canábis - 1,9% dos adolescentes admitem já o ter feito. Os consumos parecem estar a mudar, sobretudo no início da adolescência, e os 15 anos são exemplo destas tendências mais recentes: o consumo de LSD duplicou e surge ao lado da heroína como drogas experimentadas por 2,9% dos jovens nesta faixa etária. Entre 2007 e este ano, o consumo de cocaína aumentou de 2,5% para 3,1%, enquanto a canábis caiu de 13,6% para 9,1%.
São dados preliminares de um novo inquérito ao consumo em meio escolar, realizado este ano e revelado ontem pelo Instituto da Droga e Toxicodependência (IDT) numa conferência de imprensa que assinalou os dez anos da descriminalização do consumo de drogas em Portugal. Um indicador ainda mais preocupante é o aumento da percentagem de uso de droga injectável, que caiu de 36% para 7% entre os utilizadores mais pesados nos últimos dez anos. Entre os adolescentes de 15 anos duplicou e 1,5% admitiram há dois meses já o ter feito - na amostra dos 18 anos apenas 0,7% responderam afirmativamente. São percentagens pequenas mas é o mesmo que dizer que um em cada 100 adolescentes com 15 anos já experimentou este tipo de consumo.
Aos 13 anos nota-se o aumento do consumo de cocaína e LSD, aos 14 aumentam ainda as anfetaminas, os cogumelos mágicos e a heroína e aos 15 anos, além de todas as drogas referidas atrás e que crescem aqui mais acentuadamente, regista-se o aumento da droga injectada. Aos 18 anos, o LSD também cresce, mas menos (o recorde de consumo observa-se na faixa etária dos 16 anos), assim como as anfetaminas. A canábis mantém-se a droga mais usada em todas as idades, mas parece estar a cair até aos 16 anos. Aos 18 anos, 27,9% admitem já ter consumido.
"i"

o crime anda aí
Seixal: 
Sete detidos e apreendidas diversas armas 
em operação da GNR na Trafaria e Paio Pires
A GNR deteve sete pessoas e apreendeu diversas armas e outros objetos numa operação que decorreu sábado na Trafaria e em Paio Pires e que envolveu buscas domiciliárias e fiscalização de estabelecimentos de restauração, informou fonte da corporação.
Se acordo com a GNR, foi necessário prestar assistência médica a um dos detidos, que ofereceu resistência e acabou por ser assistido no Hospital Garcia de Orta, e a um militar "por lesão na mão".
A operação, do Comando Territorial de Setúbal, destacamento de Almada, decorreu entre as 18:00 de sábado e as 00:00 de hoje no Bairro da Cucena (Paio Pires) e no 2º Bairro do Torrão (Trafaria).
"VISÃO"

excelente ideia, será viável???
Os Verdes querem cantinas públicas 
com 60 por cento de produtos nacionais
No final do conselho nacional, que hoje termina em Santa Maria da Feira, a deputada Heloísa Apolónia sustentou que o país tem de apostar na dinamização da produção nacional. “É uma forma de ajudar a escoar a produção dos pequenos produtores locais”, referiu.
Além disso, Os Verdes vão insistir na introdução de quotas nas grandes superfícies comerciais para a obrigatoriedade de terem produtos nacionais. O partido não desiste desta ideia que na anterior legislatura teve os votos contra do PS, PSD e CDS-PP.
“Reivindicamos um caminho inverso, para pôr este país a mexer, a gerar riqueza, para depender menos do exterior”, defendeu a deputada. Neste momento, o partido tem na rua a campanha Produzir Local, Consumir Local em outdoors e dentro de duas semanas terá duas equipas, a norte e a sul, para um contacto directo com mercados, superfícies comerciais e escolas.
O programa do novo Governo esteve também em análise no conselho nacional. Heloísa Apolónia fala de uma “grande ofensiva que está a ser trilhada no nosso país” e considera um “saque” o imposto adicional de 50 por cento do subsídio de Natal para os trabalhadores que ganhem acima do salário mínimo nacional.
"PÚBLICO"

coerência
Ronaldo: 
«Se Mourinho saísse eu tinha ido para o City»
Cristiano Ronaldo voltou a não fechar a porta a um regresso à Premier League, explicando, em declarações ao "Daily Mirror", que recusou uma generosa oferta do Manchester City porque José Mourinho não deixou o Real Madrid, no final da última temporada.
A permanência do treinador foi decisiva, renovando a esperança na conquista das várias frentes, sobretudo liga espanhola e Liga dos Campeões.
"Se deixar Espanha será para regressar à Premier League. Mas não de imediato. Primeiro tenho de ganhar a 'Champions'. E, se regressar a Inglaterra, será para jogar num clube do noroeste. Não gosto de Londres", respondeu, deixando espaço apenas aos grandes de Manchester.
"RECORD"

um lindo panorama
Já há farmácias à venda por um euro
Para alguns, o cenário é dramático. Para outros, de sobrevivência; e só alguns conseguem respirar de alívio. A prová-lo estão os últimos dados da associação do sector, que revelam: 1056 farmácias estão no "limiar da sobrevivência".
Quem, há dez anos, quisesse entrar no mundo das farmácias tinha duas opções: lutar por um alvará que permitisse a abertura de uma nova farmácia - respeitando as regras para estas situações - ou arranjar uma quantidade astronómica de dinheiro para comprar o alvará de uma que já estivesse em funcionamento.
No entanto, nos últimos anos, o panorama mudou drasticamente, e quer seja por causa da crise, das alterações na legislação ou simplesmente por má gestão por parte dos responsáveis pelas oficinas farmacêuticas existentes, a verdade é que hoje comprar uma farmácia já não é tão caro como construir um estádio de futebol. Aliás, o DN soube que há mesmo casos de farmácias que são vendidas pelo preço simbólico de um euro.
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
3- PLANTAS BENFAZEJAS

30- ILUSTRES PORTUGUESES DE SEMPRE »»» amália rodrigues



QUANDO TUDO ACONTECEU...

1920: Nasce em Lisboa no Bairro de Alcântara a 1 de Julho (data escolhida por Amália porque nos registos consta o dia 23). - 1929: Entra na Escola Oficial da Tapada da Ajuda, onde terminará a instrução primária. - 1934: Trabalha como bordadeira, engomadeira e tarefeira. - 1935: Desfila na Marcha de Alcântara e canta pela primeira vez, acompanhada à guitarra, numa festa de beneficência. - 1938: Representando o Bairro de Alcântara participa no Concurso da Primavera. - 1939: Estreia-se como fadista no Retiro da Severa. - 1944: A estada no Brasil, prevista para seis semanas, estende-se por três meses. Actua no Casino de Copacabana. - 1945: No Brasil grava os primeiros dos 170 discos (em 78 rotações) da sua carreira. - 1947: É protagonista no filme «Capas Negras», batendo todos os recordes de exibição ( 22 semanas em cartaz no Cinema Condes). - 1948: Recebe o prémio do SNI (Secretariado Nacional de Informação) para a melhor actriz, pelo seu papel em «Fado», filme de Perdigão Queiroga. - 1949: Actua pela primeira vez em Paris e Londres. - 1951: Digressão a África: Moçambique, Angola e Congo. - 1952: Actua pela primeira vez em Nova Iorque no La Vie en Rose, ficando 4 meses em cartaz. Assina contrato com a editora discográfica Valentim de Carvalho, que passa a gravar todos os seus discos. - 1953: É a primeira artista portuguesa a cantar na televisão americana no programa «Eddie Fisher Show». - 1954: Edita o primeiro LP nos Estados Unidos. Actua no Mocambo, em Hollywood. - 1955: Interpreta a «Canção do Mar» e o «Barco Negro» no filme de Henri Verneuil «Os Amantes do Tejo». Filma no México «Música de Sempre» com Edith Piaf. - 1957: Estreia-se no Olympia em Paris e começa a cantar em francês. Charles Aznavour escreve para ela «Ai, Mourrir pour Toi». - 1961: Casa no Rio de Janeiro com o engenheiro César Seabra com quem vive até à morte deste em 1997. - 1962: Lança o disco «Asas Fechadas» e «Povo que Lavas no Rio» do poeta Pedro Homem de Mello. - 1966: Actua no Lincoln Center (Nova Iorque) com uma orquestra sinfónica dirigida pelo maestro André Kostelanetz. - 1967: Recebe em Cannes, pela mãos do actor Anthony Quinn, o prémio MIDEM (Disco de Ouro) para o artista que mais discos vende no seu país, facto que se repete nos dois anos seguintes, proeza só igualada pelos Beatles. - 1970: Actua em Tóquio, Nova Iorque e Roma e recebe uma alta condecoração francesa.
 - 1975: Regressa ao Olympia em Paris. - 1976: É editado pela UNESCO o disco «Le Cadeau de la Vie» em que figura ao lado de Maria Callas e de Jonhn Lennon. - 1977: Canta no Carnegie Hall de Nova Iorque. - 1985: Volta a cantar no Olympia de Paris. Dá o primeiro concerto a solo no Coliseu dos Recreios de Lisboa. - 1989: Comemora os 50 anos de carreira com uma exposição no Museu do Teatro em Lisboa. - 1990: Dois grande espectáculos: Coliseu dos Recreios e no S. Carlos onde, pela primeira vez em 200 anos, se ouve cantar o fado. - 1994: Actua pela última vez em público no âmbito de Lisboa, Capital da Cultura. - 1995: É operada a um tumor no pulmão. Edita o seu último disco «Pela Primeira Vez». - 1998: É lançado o disco O melhor de Amália, muito aclamado pela crítica internacional. É homenageada na Expo 98. - 1999: A 6 de Outubro morre em Lisboa, na sua casa na Rua de S. Bento.

PORTUGAL: RURAL, POBRE E ATRASADO

No princípio do século XX Portugal tem cinco milhões de habitantes. 
Rua do Cais de Santarém - (1907) Foto de Joshua Benoliel ( Já em tempo mais pacifico, inicio do século XX, no "CHAFARIZ DE EL-REI" crianças aguardando a sua vez para encher as suas bilhas) in ILLUSTRAÇÃO PORTUGUESA de 25.03.1907
É um país essencialmente rural, pobre e atrasado. Quarenta mil portugueses emigram por ano. A taxa de analfabetismo ronda os 70%. A 5 de Outubro de 1910 Portugal torna-se numa das primeiras repúblicas da Europa. O novo regime mobiliza o país e apaixona a opinião pública. Escolas e educação, prioridade. A legislação consagra os novos direitos de liberdade e cidadania. A prática do exercício desses direitos engendra grandes contradições. Comportamentos restritivos e repressivos da parte do Partido Republicano no poder.
Portugal participa na I Guerra Mundial (1914 -1918). Agravamento das tensões dentro da sociedade portuguesa estão na origem da Ditadura de Sidónio Pais. Em 1917 Portugal sofre o desastre da batalha de La Lys, em França. Agudizam-se as tensões entre a sociedade urbana, em vias de industrialização e o mundo rural tradicional e arcaico. Em Fátima, três miúdos afirmam ter visto Nossa Senhora em cima de uma oliveira. Em Lisboa, na Estação do Rossio, Sidónio Pais é assassinado a 14 de Dezembro de 1918. Bento Gonçalves, dirigente anarco-sindicalista, visita a Rússia durante a revolução bolchevista. Em 1921 fundará do Partido Comunista

Em 1920 a Igreja recusa a imagem de Nossa Senhora de Fátima do escultor Teixeira Lopes pela sua sensualidade. Nas faldas da Serra da Gardunha, um tocador de cornetim é cobiçado pelas duas bandas do Fundão: «música nova» e «música velha». A vida de músico é insegura, ele tem que assegurar o sustento dos quatro filhos e da mulher novamente grávida. É sapateiro, mas por causa do cornetim, poucos sapatos fizera. Sai dos confins da Beira Interior e resolve tentar a sorte na capital. É o tempo das cerejas (Maio e Junho) e em Lisboa, na Rua Martim Vaz, a mulher dá à luz uma criança do sexo feminino: Amália da Piedade Rodrigues. A vida está má e o sapateiro-músico não arranja trabalho. Voltam todos para o Fundão mais pobres do que nunca. Excepto Amália que, com 14 meses, fica em Lisboa com os avós.

«CANTA ESSA, CANTA ESSA QUE JÁ PARARAM SEIS...»

Amália é a quinta filha de uma prole de nove irmãos. 
Vicente e Filipe, os mais velhos. A mortalidade infantil é grande e a pneumónica alastra: José e António, ainda meninos, morrem. Depois de Amália nasceram mais quatro meninas: Celeste, mais nova dois anos; Aninhas que morre aos dezasseis anos; Maria da Glória que logo morre e por fim, Maria Odete.

3 de Dezembro de 1923. Em Manhattan, bairro de Nova Iorque, nasce Maria Callas, filha de emigrantes gregos. Amália não tem brinquedos, mas sabe duas ou três cantigas. Os vizinhos pedem-lhe que cante e enchem-lhe as algibeiras do bibe com rebuçados e moedas. Duas meninas que irão pôr em causa o que há muito está estabelecido. Duas vozes singulares, dois marcos entre o «antes» e o «depois»: uma sê-lo-á na interpretação da Ópera; outra na interpretação do Fado. Enfim, duas renovadoras.

Golpe militar de 28 de Maio de 1926. A República parlamentar, derrubada. O novo regime começa por limitar a liberdade de expressão e associação – a censura! Ilegalização progressiva de partidos e sindicatos. Ascensão de Salazar - de ministro das Finanças a Presidente do Conselho. Amália é uma rapariguita tímida. A única pessoa que consegue que ela cante é o avô. Amália dentro de casa, sem ser vista, canta tangos de Carlos Gardel e muitas outras coisas. Sentado à janela o avô conta as pessoas que param para a ouvir: «Canta essa, canta essa que já pararam seis».

Amália tem quase nove anos e a avó, analfabeta, manda-a para a escola da Câmara, na Tapada da Ajuda. No caminho come figos de piteira e rouba florinhas para levar à professora. Gosta tanto da escola que nada a impede de ir, nem mesmo a sua bronquite asmática. Em casa é que não quer ficar! Adora a escola onde o tempo é dela e da sua fantasia. Ali ninguém a manda limpar o pó, nem lavar a loiça ou esfregar o chão. 
 Aprende as lições de ouvido e chamam-lhe «sabichona». Mas uma coisa não lhe entra na cabeça: Geografia! A professora insiste para que ela compre o livro – o seu primeiro livro. Quando mais tarde é obrigada a comprar outro, a avó perguntar-lhe á: «Aquele ainda está novo, para que queres outro?».
Na escola da Câmara é obrigatória a bata branca por cima do vestido. Lá vai Amália a caminho da escola e, por entre o arvoredo, o cântico dos pássaros dilata o espaço. Encontra uma rapariga toda rota, ainda mais pobre do que ela. Tira o vestido que traz por baixo da bata e dá-lho. Quando chega a casa, a avó diz-lhe para tirar a bata para lavar. Finge um ar admirado e atrapalhada diz: «Ai! Perdi o vestido!». «Olha a fidalga, a dar vestidos!» exclama a avó entre tabefes.

Faz o exame de instrução primária e, como todas as meninas, leva o seu vestido novo que lhe fica muito bem. É de crepe-da-china azul turquesa às pregas, feito pela primeira vez numa modista. Depois do exame nunca mais o há-de vestir porque ficará a aguardar uma outra ocasião importante… Entretanto cresce. Tem doze anos e para ela a escola acabou!
Como é hábito da gente pobre, grandes e pequenos contribuem para o sustento da casa. Aprender um ofício, impõe-se. Ofício de bordadeira, escolhe. Ganha dois escudos por dia. O dinheiro não chega para o bilhete do eléctrico. De manhã cedo galga ruas e ruelas a pé, da Ajuda às Escadinhas do Duque, perto do Chiado. Dias e meses a passar a ferro... Bordar? Nicles! Como nada aprende, a avó não quer que ela continue. Uma tia é encarregada numa fábrica de bolos e rebuçados, na Pampulha. Embrulham-se rebuçados, descascam-se marmelos e outras frutas. É preciso gente. Amália ganha agora seis escudos por dia e quanto mais descascar e embrulhar, mais ganha.

«NUNCA NOS REVOLTÁMOS COM A VIDA»

Tem 14 anos feitos. Resolve ir viver com os pais e irmãos que regressaram a Lisboa. Em casa da avó as coisas eram organizadas. Passa a viver numa confusão maior. Casa pequena para tanta gente, um casal e os seus cinco filhos. 
É preciso disciplina. Como é costume das gentes da Beira Baixa, as hierarquias são para se respeitar. O irmão mais velho é que quem manda, é quem bate. Bastantes bofetadas apanha por cantar na rua - ela que tanto gosta de cantar. As raparigas nada podem fazer sem a sua autorização. Amália ,como filha mais velha, tem que ajudar a mãe na lida da casa. Passa as calças e as camisas dos irmãos, tira nódoas dos fatos domingueiros. Todos os dias leva o almoço aos irmãos à tasca o “77” em Alcântara, onde eles só consomem vinho para poderem usar as mesas.
A avó, uma mulher áspera que dera à luz 16 filhos, tem agora vários netos. Junta a família toda aos Domingos. Cada um leva qualquer coisa para o almoço e jantar. Bem dispostos, os mais velhos cantam coisas da terra, cantigas da Beira Baixa. Os mais novos o fado.

O fado tem pouco mais de um século. É uma manifestação urbana dos bairros populares e operários de Lisboa. Com o advento da Rádio e do disco, as vozes das fadistas Ercília Costa, Ermelinda Vitória, entre outros, chegam directamente a um público mais vasto.

No Cais da Rocha a mãe monta uma pequena banca de fruta. Amália deixa a fábrica da Pampulha para ajudar a mãe. No meio do burburinho geral, do colorido das frutas e das hortaliças, ecoam os pregões - pequenas melodias ancestrais - memorial rural das gentes da Beira Baixa, Trás-os-Montes, Minho.

Tão pobres são que o seu grau de pobreza é para eles coisa natural. Ninguém se lamenta. É o fado da gente pobre. Se está frio, à braseira ficam. Se chove em casa, alguidares, tachos e panelas no chão espalhados, apanham a chuva. Se estão a dormir e a água cai, um último recurso é fugir para o lado, «e dentro do cobertor saltava ainda uma pulga!» - escreve nas suas memórias a própria Amália: «Mas nunca nos revoltámos com a vida. Com certeza, que havia pessoas diferentes de nós, senão não havia revoluções. Mas nuca ouvi sequer falar dessas coisas. Os privilegiados é que falam dessas coisas, não são os pobres. E no fundo entre os pobres também há diferenças de classe. Éramos gente à margem».

Aos sábados descobre o cinema nas reprises do Alcântara, que apresenta filmes muito depois de terem sido estreados nas principais salas de Lisboa. Vê a Dama das Camélias com a Greta Garbo (Camile 1937). Bebe vinagre e põe-se nas correntes de ar, para ficar tuberculosa como a sua heroína. Ser artista é o seu grande desejo. Tem dezasseis anos e a sua inseparável irmã Celeste catorze. Resolvem fugir num barco, clandestinas, mas vestidas de homens, para ninguém se meter com elas. Vestem os fatos dos irmãos. São seis da manhã…passado meia hora já estão novamente em casa.
Em 1938 representa o Bairro de Alcântara, onde vive, no Concurso da Primavera em que se disputa o título de Rainha do Fado. Canta aqui e ali, cantigas tradicionais e danças rurais, do vira ao malhão, bem como as marchas populares nas festas dos santos populares de Lisboa, organizadas pelas colectividades de Cultura e Recreio com cujo espírito se identificará sempre. Conhece o guitarrista e torneiro mecânico Francisco Cruz por quem se apaixona. Tenta o suicídio por desgosto de amor.

«PORQUE O FADO NÃO SE CANTA, ACONTECE»

Guernica é bombardeada. Península Ibérica, ditadura. Em Portugal, Salazar continua. Em Espanha, Franco começa. Hitler, a Polónia invade. O Estado Novo cria a carteira profissional de fadista, sem a qual os fadistas não se podem apresentar em público. O fado salta das ruas e vielas de Lisboa, dos retiros e casas de pasto tradicional para as chamadas «casas de fado» como o Solar da Alegria, o Retiro da Severa, o Luso destinado a um público sofisticado e burguês, com poder de compra.


É precisamente numa desta casas, o Retiro da Severa, que em 1939 Amália faz a sua estreia profissional. No ano seguinte actua no Solar da Alegria, como artista exclusiva com repertório próprio. Estreia-se no Teatro Maria Vitória, na revista «Ora vai tu» personificando a fadista vestida com xaile negro. Casa-se com Francisco Cruz, o torneiro mecânico e guitarrista amador.

A jovem Amália impressiona todos. Canta com intensidade dramática o fado porque «o que interessa é sentir o fado. Porque o fado não se canta, acontece. O fado sente-se, não se compreende, nem se explica».

Durante os anos de guerra uma parte da burguesia lisboeta vive os anos loucos. Os intelectuais, indignam-se. Democratas tomam partido dos que na Europa combatem a besta nazi. Salazar, vacilante. Espiões de ambos os lados - aliados e nazis – disputam as noites lisboetas, nos cabarés e nas casas de Fado.

Divorciada a seu pedido, Amália tem 23 anos. É independente, jovem e divertida. Ganha bem e sente-se bem em Lisboa. A vida é uma festa. Restaurantes, boites, espanholas e refugiados, cruzam-se. Quando canta ao público agrada. Canta tudo o que está na berra. Dança tudo o que está na moda: passodobles, tangos, sambas, valsas. Todos lhe fazem a corte. Leva o público das casas de fado atrás dela, de um lado para o outro, do Negresco para o Tokai, para o Nina.

Em 1943 estreia-se com grande sucesso no estrangeiro em Madrid, a convite do embaixador português. Começa o seu sucesso internacional. Em 1944 está no Brasil. Delírio! A sua estada, prevista para seis semanas, estende-se por três meses e grava, em 78 rotações, os seus primeiros discos.

Em 1945 o nazismo, derrotado. A oposição ao ditador Salazar, transgride. Reuniões, manifestos, abaixo-assinados. Surge o Movimento de Unidade Democrática. Lopes-Graça e os poetas Carlos de Oliveira, José Gomes Ferreira, João José Cochofel (entre outros) fazem as «Heróicas» para serem cantadas nas ruas de Lisboa. A grande ilusão…
Em 1949 António Ferro é uma espécie de ministro de Salazar para a cultura. Tem o apoio artístico do sector modernista nacionalista, entre os quais se destaca Almada Negreiros. Amália já fizera grande sucesso no Brasil e em Madrid. Os seus discos são vendidos em 16 países. Pela primeira vez vai a Londres e a Paris a convite de António Ferro, que considera Amália uma grande artista e mulher inteligente. Sempre que é necessário abrilhantar as recepções governamentais pede-lhe que esteja presente para cantar e encantar: «Achava que eu era melhor toalha que tinham em casa mas nunca me ajudou a ser a Amália Rodrigues». Nunca ninguém do governo a elogiou. A única pessoa que sempre a tratou com respeito foi realmente o António Ferro. Salazar sempre que a ela se referia, chamava-lhe a criaturinha .
«Sociedade repressiva, mesquinha e tacanha!» clamam os da Oposição. As tertúlias nos cafés de Lisboa são o reduto da desobediência. A irreverência e a laracha são as grandes formas de exprimir a opinião sem rodeios sobre os estado de coisas em Portugal. Neo-realista e surrealistas confrontam-se ideologicamente. Em 1953 os surrealistas portugueses, tendo à cabeça o poeta Mário Cesariny, publicam o manifesto A Afixação Proibida. Os então neo-realistas Manuel da Fonseca e Carlos de Oliveira publicam respectivamente O Fogo e as Cinzas e Uma abelha na chuva.

«PODIA TER SIDO MUITA COISA 
SE NÃO FOSSE AQUILO QUE SOU»

Em 1950 organizam-se vários espectáculos de apoio ao programa económico para restaurar uma Europa em ruínas. É o célebre plano Marshall. Na cidade martirizada de Berlim, os primeiros espectáculos. Participam todos os países que aderiram a este plano americano. A escolha recai sobre cantores de música clássica, mas Portugal não tem cantores líricos de nomeada. Amália é a única artista portuguesa conhecida: «Como ouviram alguns discos meus preferiram escolher-me». Canta os poetas portugueses Pedro Homem de Mello e David Mourão Ferreira. A Irlanda, país onde a música popular tem fortes raízes, é também representada por cantores ligeiros.
Em Roma Amália quebra um tabu. Canta no Argentina, um teatro de Ópera. Neste espectáculo participa a cantora lírica Maria Caniglia, o violinista Jacques Thibault e o tenor Fiorenzo Tasso, acompanhados por uma orquestra sinfónica. O contraste é grande. Amália é a única cantora ligeira. Treme como varas verdes. Está sozinha com a guitarra portuguesa de Raul Nery e a viola de Santos Moreira: «Três gatos pingados que não sabiam nada de música a tocarem ao pé de uma orquestra sinfónica, enorme!». Quando entra no palco tem uma tal cara de medo, que nas primeiras filas pessoas olham-na com ternura: «Acho que tive o público comigo, ainda antes de começar». 
 O sucesso é grande. Sai do palco, começa a rir e a chorar ao mesmo tempo. «Tive o único chilique da minha vida. Era tudo no palco com leques, à minha roda, a dizerem. Perchè píangere? Un sucesso! Un trionfo! Perchè píangere? E eu ao mesmo tempo chorava, ria, ria. Foi um tal medo…porque os fadistas dantes tinham muito mais complexos de inferioridade do que agora. Eu é que tirei os complexos ao fado. Nessa noite, sem querer, consegui muito. Foi um espectáculo extraordinário para mim, porque as críticas foram formidáveis. À saída, toda a gente estava à minha espera, a gritar: Brava!Brava!Brava!»

Numa da sua estadas em Nova Iorque, Danny Kaye convida-a para entrar num espectáculo com ele na Broadway: «Quem sabe, se eu tivesse ido, correndo-me bem as coisas, como sempre me correram em toda a parte, talvez eu tivesse partido dali para uma coisa importante. Eu podia ter sido muita coisa se não fosse aquilo que sou. Mas nesta altura não era capaz de cantar ao lado de Kaye, embora tivéssemos ficado grandes amigos».

Em 1954 faz uma digressão pelo México. Uma jornalista famosa de Hollywood, Hedda Hopper quer que ela se vista de branco, que se decote e renuncie ao xaile preto. Quer que Amália ponha uma rosa vermelha na cabeça. Amália explica-lhe que a rosa no cabelo é para a Espanha e ela é de Portugal, de Lisboa.

O seu empresário americano, Blackstone leva-a aos estúdios de Hollywood. Assiste às filmagens de “Someone At Last”, em que Judy Garland e James Mason são os protagonistas. Acha tudo muito estranho porque uma das cenas é repetida dezassete vezes, enquanto em Portugal um actor nem sequer uma vez pode enganar-se, porque não há filme suficiente para repetir a cena. Conhece assim James Mason: «Uma portuguesa que ia comigo é que ficou a amarinhar pelas árvores por ter visto James Mason. Até pedi desculpa ao homem e disse-lhe que em Portugal não éramos todos assim» conta Amália ao seu biógrafo Victor Pavão dos Santos.
Neste período não fica nos Estados Unidos porque não quer. Em Nova Iorque canta pela primeira vez na televisão (na NBC), no programa do Eddie Fisher «patrocinado pela Coca-Cola, que tive que beber e não gostei nada». Grava um disco de fado e flamenco. Abrem-lhe uma conta no banco para ficar mais tempo e gravar dois álbuns, com canções de Cole Porter, Gershwin, Jerome Kern. Fica muito contente pelo convite, mas não aceita porque está farta da América: «Eu nunca trabalhei na minha vida e para fazer um álbum com canções americanas tinha de ficar ali a ensaiar, a trabalhar. Eu gosto de cantar sem estar a pensar que estou a cantar. Não sei cantar de outra maneira. E bastava-me a preocupação de estar a falar inglês para perder a espontaneidade».
« É uma temperamental. Uma meridional!»- clamam uns. «É a grande intérprete da alma ibérica!» - dizem outros. Quando regressa a Lisboa é novamente convidada a cantar na embaixada portuguesa em Espanha onde «me tornei “flamengueira”. Conheci as melhores gargantas de flamenco!». Canta e sente que o fado e o flamenco têm a mesma autenticidade: «De um e de outro modo, cada um tem a sua verdade». Anos mais tarde, quando grava o disco «Fado de Portugal e Flamenco de Espanha», dá corpo ao seu iberismo.

«TROVA DO VENTO QUE PASSA»

Por uns - compreendida , por outros - apupada, mas a ninguém indiferente. Decide cantar o fado-canção. Encontra uma nova postura de cantar o fado, mais desabrida. Canta com entusiasmo os fados de Frederico Valério, Raul Ferrão e de Frederico de Freitas «com uma estrutura musical mais complexa, com refrão e coplas, por oposição à simplicidade estrófica dos velhos fados castiços». (Rui V. Nery)
Amália dá ao fado um novo fulgor. Canta o repertório tradicional de uma forma diferente «subordinando o ritmo regular da melodia ao sabor da dicção poética, com suspensões inesperadas e acrescenta ornamentos novos, que foi a buscar às cantigas da Beira Baixa», escreve o mesmo musicólogo. Ultrapassa todas as fronteiras e preconceitos culturais. Amália tem a arte de sincretizar o que é urbano e rural, o que é popular e erudito através de uma voz de timbre único, prenhe de emoção sensual e musical.

Os poetas Pedro Homem de Mello e David Mourão Ferreira passam a escrever para ela. Canta os grandes poetas da língua portuguesa, dos trovadores a Camões, de Bocage aos poetas contemporâneos guiada pela sua grande intuição. Conhece o compositor luso-francês Alain Oulmain: «Um dia estava num acampamento e levaram-me Alain Oulmain, que tinha uma música a pensar em mim, o Vagamundo. Fui ouvir e gostei. Seguiram-se outras e fui contra a maré das pessoas que estavam ao pé de mim, que achavam aquilo muito complicado. Os guitarristas de facto, tiveram de aprender aquelas harmonias novas que o Alain trazia, que não tinham nada a ver com o fado porque o fado é pobre em harmonia. O Alain nasceu no Dafundo, nasceu em Portugal, apesar de ser francês. Tem uma sensibilidade grande de artista, foi criado num certo ambiente. Depois, ouviu-me cantar, sentiu que a minha sensibilidade estava muito perto da sua. Dá-me a possibilidade de voar.»
 Amália tem um humor marcadamente lisboeta, construído em Alcântara, bairro predominantemente operário onde o humor corrosivo é cultivado quase como uma forma de vida. Brinca com ela própria, com o seu próprio talento. Sobre a sua primeira aparição na televisão portuguesa em 1958 conta ela ao seu biógrafo: «Andou sempre uma mosca à minha volta. Cantou melhor a mosca do que eu. Quando havia lá moscas, e acho que havia sempre, as pessoas disfarçavam. Eu, como havia a mosca, sacudi-a. E depois só se falava na mosca». Perante situações complicadas constrói a sua coragem na capacidade da resposta pronta. Quando alguém lhe fala sobre as condecorações e outras honrarias que recebera durante a ditadura, responde: «Por mim, não me levantava do meu cadeirão. Não passei pela vida, a vida é que passou por mim».

Na década de 60, razões económicas e razões políticas levam os portugueses a emigrarem em massa para os países ricos da Europa. Em Angola rebenta a Guerra Colonial. Movimento estudantil contra a repressão salazarista. Muitos portugueses, opositores ao regime são obrigados ao exílio. Em Argel o poeta-exilado Manuel Alegre recebe uma carta do seu amigo Alain Oulmain pedindo-lhe autorização para Amália interpretar «Trova do vento que passa» poema que era já uma referência para a resistência anti-fascista portuguesa na voz de Adriano Correia de Oliveira. A nova versão surge no disco da Amália «Com que Voz» (1970)

Em 1962 aparece o primeiro disco com músicas de Alain Oulmain e que é muito bem aceite por um público de uma elite cultural. Para alguns não é fado. Os próprios guitarristas quando tocam as coisas de Oulmain, vêem-se à nora. José Nunes dizia sempre: «Vamos às óperas».
 A sua grande sensibilidade artística e intuição faz com que o fado Povo que lavas no rio, um poema que Amália escolhe não sabe bem porquê, de Pedro Homem de Mello, tenha uma dimensão política. O mesmo se passa com um antigo fado do Armandinho que se torna num hino aos que se encontram presos em Peniche e que se passou a ser conhecido como o «fado de Peniche». O disco foi proibido. Para Amália quando «o cantei, aquilo era uma tristeza de amor, que é um sentimento muito mais bonito e muito mais dorido que uma ideia revolucionária. Não me passavam pela cabeça prisões.»

Em 1966 está novamente nos Estados Unidos. Canta em salas normalmente vedadas à participação de cantores de música ligeira como no Lincoln Center e no Hollywood Bowl. Recebe um telefonema de Lisboa a dizer que Alain Oulmain foi preso pela PIDE. Amália dá todo o seu apoio ao amigo e tudo faz para que seja liberto e posto na fronteira.

Em 1967 o Papa Paulo VI visita o santuário de Fátima, a irmã Lúcia e condecora o director da PIDE. Fotos, factos, fados…

Amália continua a cantar os poetas esquerda: Ary dos Santos, Manuel Alegre, O’Neill, David Mourão-Ferreira. Em 1968 o ditador Salazar cai da cadeira de lona em que descansava. Incapacitado é substituído pelo professor universitário Marcelo Caetano. A PIDE encerra temporariamente o Instituto superior Técnico. Em 1969 eleições em que concorrem pela primeira vez os movimentos democráticos MDP/CDE e CEUD que representam as duas facções mais importantes dos opositores ao regime. Fraude eleitoral. Deputados da chamada Ala Liberal são eleitos para a nova Assembleia Nacional. Onda de greves em todo o país. Em 1969 Amália é condecorada por Marcelo Caetano na Exposição Mundial de Bruxelas. Início de uma grande digressão à antiga União Soviética. Mais uma vez a sua voz peculiar, deslumbra.

Amália nunca fica maravilhada com o que lhe acontece. É sempre igual a si mesma. Terá sempre uma atitude displicente em relação aos seus êxitos e ao seu talento. Nunca guardará nada relacionada com a sua carreira artística: «Passei a minha vida a surpreender-me com o que me aconteceu, mas nunca lutei, como nunca sofri para conseguir fazer alguma coisa, para o que se chama vencer, talvez não tenha gozado bem as coisas por que passei. Embora saiba que a única artista portuguesa conhecida no estrangeiro seja eu».

1971: Zeca Afonso grava para a editora Arnaldo Trindade o disco Cantigas de Maio que inclui Grândola, Vila Morena. Em Paris Amália visita Alain Oulmain e conhece pessoalmente Manuel Alegre que, convalescente de uma doença, encontra-se escondido em casa do seu amigo. Início de uma grande amizade e colaboração. Manuel Alegre confessa que ficou um pouco atrapalhado. No exílio, em Argel, ouvia os seus discos e «sentia um bocado de Portugal comigo, porque no fundo, ninguém como ela exprime o que defino por a nossa atlanticidade, essa forma melancólica e nostálgica que é a saudade.»
Quando se emociona, canta de modo tão intenso que chora. «Uma vez num barco, em Vila Franca, à noite cantei aquela música do Fado Cravo que as pessoas se ajoelharam aos meus pés. Ajoelharam-se porquê? Porque senti uma emoção muito grande. (…) Nem sei como chamar a isto. Talvez eu não seja criadora, mas quando canto estou a inventar. E, para inventar, preciso de música. O fado quando comecei era amarrado como se tivesse uma só divisão e a minha maneira de cantar deu-lhe mais duas casas. Porque nada dentro daquela divisão me deixava fugir. A minha voz queria fugir dali, mas batia na porta. Tive que cantar à minha maneira.»

«AI LUCIDEZ QUE ME DOI»

Nos anos 60 o Turismo foi uma das industrias mais agressivas em Portugal. Exportava a imagem de um país de brandos costumes (embora há anos em guerra) do Avril au Portugal - país do sol (embora em Abril águas mil), do Fado, o Futebol e Fátima. São estes os Fs que sustentam o Fascismo salazarento.
Amália é assim conotada com um dos Fs e, por isso, mal tratada por alguns militantes da esquerda mais radical (alguns deles emigrarão mais tarde para partidos de direita). Muitos desconhecem a sua generosidade e até a sua contribuição para a Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos durante o fascismo, «da mesma forma apaixonada e talvez ingénua com a qual agradeceu aos donatários salazaristas que lhe proporcionaram, a ela, rapariga do povo, os palcos, os microfones» escreve o deputado comunista Rubens de Carvalho.
Amália volta a cantar Mãe Negra, embalando o filho branco do senhor…, que cantara nos anos sessenta em Angola e Moçambique. Incluída na lista de canções malquistas pelos censores do regime de Salazar, esta canção faz parte do cancioneiro da resistência ao regime. Já durante a revolução democrática e nacional do 25 de Abril canta o Fado de Peniche. No Teatro Vasco Santana participa com o actor, advogado e comunista Morais e Castro, em sessões de esclarecimento sobre o 25 de Abril sobre a situação dos artistas de espectáculo.
A democracia portuguesa acaba por lhe prestar as maiores e mais sinceras homenagens. Em 1980 é condecorada com o grau de oficial da Ordem do Infante D. Henrique pelo então presidente da República Mário Soares que a considera «uma mulher conservadora, crente e naturalmente apolítica mas que soube conviver bem com a Revolução dos Cravos». Ela própria lhe disse que a diferença entre «vocês e os de antigamente, é que vocês sentam-me à vossa mesa. Os outros recebiam-me muito bem, gostavam muito de mim e de me ouvir cantar, mas era diferente, só era recebida no fim, para cantar».

Sempre gostou de fazer versos: «coisas que sentia», reconhecendo que não é poeta. Lança o disco com poemas seus Gostava de Ser Quem Era. Em 1997 edita o Livro Versos, confirmando a sua veia poética: «Ai minha infância dorida/ Ai o meu bem que não foi/ Ai minha vida perdida/ Ai lucidez que me dói» Os seus versos são ecos empolgantes da sua voz, única, remanescente popular da poética eivada de lirismo e da atracção pela morte: «Vem morte que tanto tardas / Ai como dói / A solidão quase loucura». É homenageada pela Câmara Municipal de Lisboa. Lança um disco de inéditos Segredo. Vive com dificuldades económicas, o que a obriga a desfazer-se de algum do seu património imobiliário.
Morre a sua grande amiga a pintora Maluda 1999. Fica profundamente pesarosa. Já antes vira desaparecer o seu marido César Seabra, o seu compositor Alain Oulmain e o seu poeta David Mourão-Ferreira que a considerava como «a voz da diáspora e voz do terroir (chão), voz da distância e da intimidade, com a amplitude das mais altas vagas e a tocante descrição de recolhidos santuários».

«QUANDO CANTO, ESCUTO-ME...»

Amália Rodrigues, a última viagem. Olhos vidrados de lágrimas das pessoas simples, do povo, com as vozes embargadas, acompanham o cortejo fúnebre
São Bento é um bairro antigo de Lisboa em que se misturam odores tradicionais com outros vindos de paragens mais distantes, de Cabo Verde. Do alto das escadarias, guardadas por dois leões, ergue-se um edifício de traços clássicos, o Parlamento. Seguindo rua acima, do lado esquerdo mora Amália numa casa pombalina de sorridentes e floridas balaustradas. Quando ela passa com aquele ar melancólico que a caracteriza, o seu sorriso contagiante ilumina todos. Amália gosta de cantar na rua: «Quando canto escuto-me, e quando me escuto acabo a chorar». O mercado, a padaria e o comércio tradicional, são pontos de encontro das gentes simples. Uma vizinha fala da sincera preocupação de Amália para com os mais necessitados: «chegou a atravessar problemas financeiros de tanto dar».
Agora na casa amarela de S. Bento mora o silêncio. Na varanda encontra-se ainda pendurada uma toalha branca, símbolo solidário com o povo de Timor. Em todas as janelas e varandas, à passagem do féretro, de S. Bento à Estrela, toalhas brancas, estendidas.
O coração de Lisboa chora. Flores, lenços brancos acenam. Nas ruas, nos carros, nas lojas, por todo o lado o fado de Amália. Dor e saudade, o âmago alfacinha, trespassam. Seis da tarde. Suave melancolia, Lisboa. Largo da Estrela, a grande Basílica prevalece. Centenas de pessoas, as escadarias ocupam. Tocam os sinos. O féretro da Amália chega. Emoção geral. Nunca a multidão à solta teve tanta grandeza. Homens, mulheres, crianças, imagens sobrepostas, redondas e volumosas, dissolvem. Caras lampejadas, cabeças reluzentes, cabelos de cor nem loira nem escura, na Basílica entram. Não se distingue o novo do velho, o bonito do feio. A idade e o gesto, afirmam. Tudo se neutraliza: tempo, pessoas, coisas. Na nave central, Amália. Tudo perde o seu relevo, tudo entra em nós…

Uma mulher e um ramo de margaridas brancas, esperam. O adeus à «melhor embaixadora de Portugal no mundo». Uma outra pesarosa, sussurra: «É uma parte da nossa vida que está ali. Ela é a referência da nossa mocidade». Apesar do frio que se faz sentir ao fim da noite, há quem não arrede pé. Aguarda-se pacientemente a sua vez para chegar junto ao caixão. Choro miudinho de mulheres. Espuma dos dias, milhares de pessoas, adeus à «diva do fado». Fuga ao olhar atento da polícia: o último beijo, o último toque. Um jovem diz que não gosta de fado, «mas ouvi-la cantar arrepia-me». Amália descansa na paz do Senhor «mesmo que ele não exista, eu acredito nele».

Outono de 2000. Luminosidade morna das tardes de Lisboa. Jardim do Príncipe Real. O Grande Cedro exala aromas. Velhos reformados jogam às cartas. Velhas alcoviteiras, dormitam. Crianças brincam. Mulheres de pálpebras semicerradas, vigiam. Num ramo pendurado está um rádio tal qual pássaro feito. Ouve-se a voz de Amália: «Estranha forma de vida».


IN "VIDAS LUSÓFONAS"
Autora "LEONOR LAÍNS"